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Deslocamento sem rumo de trens pela noite não custa apenas eletricidade

A empresa ferroviária alemã Deutsche Bahn coloca trens vazios para circular nos trilhos de Berlim à noite. O jornal Der Tagesspiegel noticiou, citando "fontes internas", que de "cinco a seis trens ICE ficam andando pela cidade e ao redor dela à noite sem passageiros".

O motivo é a falta de um local para estacioná-los. Berlim está localizada no extremo nordeste da Alemanha, e muitas linhas de longa distância terminam na capital. Por isso, muitas conexões têm lá seus pontos de partida pela manhã e de chegada à noite – mas faltam trilhos onde os trens poderiam ficar estacionados.

Como os trilhos ferroviários dentro e ao redor da capital estão constantemente sendo usados, é necessário deslocar os trens para trilhos que estejam momentaneamente livres. Um porta-voz da ferrovia descreveu isso ao Tagesspiegel como um "procedimento operacional completamente normal".

De acordo com o Tagesspiegel, a planejada construção de linhas de serviço (para estacionamento) ao sul de Berlim foi abandonada pela empresa ferroviária após protestos dos moradores locais. Outra instalação desse tipo está planejada para o distrito de Pankow, no norte.

Faltam trilhos e maquinistas

O deslocamento sem rumo de trens pela noite não custa apenas eletricidade. Os maquinistas que conduzem esses trens vazios à noite não estão disponíveis para viagens com passageiros durante o dia.

E isso agrava um problema bem conhecido na Alemanha: a falta de mão de obra qualificada. De acordo com a revista Wirtschaftswoche, o Sindicato dos Maquinistas de Trem (GDL, na sigla em alemão) estima que 1.200 vagas de maquinista de trem não estão preenchidas.

Isso acontece apesar de, segundo a organização de defesa do transporte ferroviário Allianz pro Schiene, mil novos trabalhadores qualificados estarem disponíveis a cada ano. Diante dos planos de transferir mais tráfego para as ferrovias, pelo menos 5 mil novos maquinistas de trem por ano seriam necessários nos próximos anos.

Piadas com cartazes de horários

Mas, se há claras dificuldades na expansão da rede ferroviária e na busca por trabalhadores qualificados, ao menos há progressos na digitalização.

Em fins de novembro, a Deutsche Bahn anunciou que, a partir de 15 de dezembro, não haveria mais os cartazes com os horários de chegada nas plataformas. Além dos cartazes amarelos que mostram os horários de partida dos trens numa estação, há os cartazes brancos que mostram os horários em que os trens deveriam chegar à estação.

O motivo apresentado pela empresa para o corte foi economia de papel e de custos administrativos. Em vez de horários impressos haveria códigos QR que conduziriam a informações atualizadas sobre os horários de chegada.

Como a própria Deutsche Bahn explicou: "Os viajantes precisam de informações confiáveis em tempo real". A zombaria nas redes sociais não demorou: "Faz todo sentido, pois um trem chegar ou não é puro acaso :D", escreveu um usuário na rede social X.

Embora os trens da Deutsche Bahn tenham voltado a ser um pouco mais pontuais recentemente, de acordo com a empresa, mais de uma em cada três paradas em viagens de longa distância é alcançada com atraso.

Para a Deutsche Bahn, um trem é considerado atrasado se chegar seis minutos ou mais após o horário de chegada previsto. Atrasos de várias horas não são nenhuma raridade.

Possivelmente temendo ser ainda mais ridicularizada, a Deutsche Bahn logo voltou atrás. Na sexta-feira passada (29/11), a empresa anunciou que, em reação às críticas, os cartazes com os horários de chegada impressos nas estações serão mantidos.

Os críticos argumentaram que nem todos têm um smartphone ou sabem escanear um código QR. E a Deutsche Bahn comunicou que vai avaliar "de forma abrangente" se vale a pena imprimir horários de chegada de trens para colocá-los nas estações.

Apesar dos problemas, alemães usam os trens

Pode parecer paradoxal, mas, apesar de todos os transtornos e adversidades, os alemães não estão virando as costas para o transporte ferroviário – muito pelo contrário.

Desde a década de 1990, o número de passageiros de trem aumentou em cerca de 50%, e o transporte de cargas quase dobrou. Desde então a Deutsche Bahn também aumentou o número de locomotivas e de vagões, mas, ao mesmo tempo, a rede de trilhos encolheu mais de 10%.