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Uma das principais características de Shakespeare é que em suas sinfonias mirabolantes de reis que perdem a cabeça e outros que assumem o lugar vago do trono, a síntese algo imperativo. Meses, anos, estações climáticas são resumidas em cenas curtas. Frases definem a passagem do tempo sem precisar que o tempo real seja vivenciado. Cenários mudam sem que cenários reais precisem ser trocados. Uma palavra do ator basta para combinar com a audiência esse trânsito amalucado: Agora estamos na corte inglesa, agora não mais! Nos campos da França, é onde viemos parar. Nesta Grande Orquestra do Mundo, Shakespeare é Vivaldi: maravilhosamente rocambolesco. Miraculosamente sintético.
Esta é a segunda parte da história do reinado de Henrique VI, um rei relapso e dado às preces religiosas, ausente das rédeas do serviço público. De um lado os Lancaster, casa à qual pertence o Rei Henrique VI, do outro lado a casa dos York – Rosas Vermelhas contra Rosas Brancas. Todos atrás da coroa da Inglaterra neste estupendo grande prêmio teatral. Foi dada a largada.
A segunda parte desta trilogia mostra a conspiração armada contra o nobre Glócester – o Protetor do Rei – e os esforços da casa dos York em recuperar o trono da Inglaterra que por direito – não houvesse sido o golpe de estado encampado por Henrique de Bolinbroke no passado – seria deles, dos York, dos representantes da Rosa Branca! Eis que aparecem galopando o Duque de Buckingham e o Cardeal de Beauford que no passado fora o vigarista Bispo de Winchester, ambos entrando no páreo contra Glócester. Na raia vizinha despontam Salisbury, Warick e York, que embora seja York está a serviço do rei que é de Lancáster, mas só até o momento que lhe convier e for dada a chance dele próprio ceifar a cabeça do magnânimo. Beauford, Buckingham, Somerset e Suffolk de um lado contra Glócester. Salisburu, Warwick e York do outro lado a favor de Glócester neste Grande Prêmio das Guerras das Rosas cujo vencedor sairá com o cocuruto cravejado pelo ouro da coroa da Inglaterra
E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.
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