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Uma das principais características de Shakespeare é que em suas sinfonias mirabolantes de reis que perdem a cabeça e outros que assumem o lugar vago do trono, a síntese algo imperativo. Meses, anos, estações climáticas são resumidas em cenas curtas. Frases definem a passagem do tempo sem precisar que o tempo real seja vivenciado. Cenários mudam sem que cenários reais precisem ser trocados. Uma palavra do ator basta para combinar com a audiência esse trânsito amalucado: Agora estamos na corte inglesa, agora não mais! Nos campos da França, é onde viemos parar. Nesta Grande Orquestra do Mundo, Shakespeare é Vivaldi: maravilhosamente rocambolesco. Miraculosamente sintético.
Neste episódio, Shakespeare nos apresenta uma das figuras mais escabrosas da sua dramaturgia, e também de todo o repertório dos palcos teatrais ao longo dos tempos; ainda não será o protagonista que veremos se tornar muito em breve, mas já desponta com toda a sua malignidade transbordada em solilóquios direcionados à plateia. Um tirano que veio ao mundo deformado e ávido pelo poder a qualquer custo. Estamos falando dele: o Duque de Glócester, Ricardo, futuramente o Rei da Inglaterra, o mais facínora de todos: Ricardo III.
Estamos no século XV. Cenário: Inglaterra e França. Esta é uma história de rivalidades entre York e Lancaster, mais um capítulo da chamada Guerra das Rosas que será desenrolado em cenas cada vez mais sangrentas e que culminará com o fim de Henrique VI, o rei fraco e religioso, entronado ainda criança, pouco hábil para assuntos da governança, casado por descuido com uma mulher mais corajosa que ele próprio. Esta é uma história que põe fim à dinastia dos Lancaster no poder, fazendo ascender ao trono real Eduardo IV da família York.
E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.
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