Os dois cavalheiros de Verona - Shakespeare
Adaptação da peça do autor
24/03/2022 23h59
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Oh, céus, o homem seria perfeito se fosse constante! Este único defeito é a origem de todas as suas faltas e o arrasta para todos os pecados. Mas fiquem tranquilos, diferente das histórias contadas ontem, a que vamos ouvir agora não faz revezar reis e rainhas no ponto alto do poder, não haverá uma disputa sangrenta entre nobres e religiosos pelo antepasto mais suculento, de juízes corruptos nós já estamos saturados de encontrá-los por aqui mesmo, em nossa triste realidade, o povo não sofrerá as mazelas típicas daqueles que tiveram o azar de não nascer com o sangue azul correndo nas veias. Não, não, o carnaval de outrora – essa gincana maluca da ambição humana -, cederá espaço para melodias mais leves, cantigas à beira de um remanso, talvez, serestas no sopé de um balcão onde lá em cima a donzela surgirá para ser celebrada pelo amante apaixonado; e quando o céu escurecer será apenas um pretexto para tudo terminar mais adiante sem nuvem alguma tapando o brilho do sol. Shakespeare escreveu histórias para nos entreter, são comédias românticas, comédias fantásticas, onde o compromisso é acompanhar um enredo cheio de encruzilhadas cujo único objetivo é juntar os pombinhos enamorados antes do cerrar definitivo das cortinas. Não me peçam qualquer condescendência a esse respeito, estou aqui apenas como narrador de uma fábula agradável, porque de cinza já basta o mundo e as personagens que nele habitam. Por aqui será diferente. Tingiremos de cores a história destes dois cavalheiros de Verona que, vejam só, se apaixonam pela mesma mulher.
Essa é a história de dois amigos de Verona, Proteu e Valentino, que partem para Milão. Um deles deixa para trás uma jovem enamorada, Júlia. O outro se apaixona na nova cidade. Mas o primeiro – e já comprometido com a pombinha de Verona – também cai de amores pela mesma mulher que enfeitiçara o amigo. Ela é Sílvia, a filha do Duque, e que está prometida em casamento para outro homem de nome Túrio. Descobrimos agora que Sílvia, a filha do Duque, corresponde ao amor proibido de Valentino. Mas, pelas artimanhas de Proteu – o colega de Valentino que também deseja para si os lábios de Sílvia – um plano de fuga entre os dois é soprado aos ouvidos do pai da moça. Enquanto isso, a donzela abandonada, aquela outra de Verona, resolve se disfarçar de homem para correr atrás de seu namorado vadio. Oh, pobrezinha...
E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.
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