Trabalhos de amor perdidos - Shakespeare
Adaptação da peça do autor
27/10/2022 23h59
Ouça a primeira parte do programa:
Ouça a segunda parte do programa:
Tudo é engrenagem em Shakespeare, e é pelo funcionamento deste mecanismo do qual o homem faz parte e age como se pudesse triunfar sobre suas forças que é possível desmascarar a tirania, expor as fragilidades e teimosias que regem nossas paixões. Portanto, é isso que quero dizer quando afirmo que Shakespeare arma arapucas: ele nos coloca diante das engrenagens em ação, não esconde o seu funcionamento, e mostra como suas personagens são presas fáceis ao acreditarem que seu tamanho supera ao do motor que faz girar os urdimentos artificiosos do teatro. Uma bela metáfora para a vida, não acham? E um tremendo manual ético e político também.
É mais ou menos como estar diante de um violinista e vê-lo tocar. Ao mesmo tempo em que nos encantamos com a música, vemos que ele a está operando diante de nós: ficamos enfeitiçados, e também assombrados. Um ator que sobe ao palco para falar as palavras de Shakespeare tem essa mesma responsabilidade: vemos o ator, e vemos a personagem, um diálogo sem simbioses.
Era uma vez um Rei chamado Fernando que governava a região de Navarra. O tempo preciso destes fatos narrados é desconhecido, mas pouco importa. O que interessa saber é que a Navarra de nossa história os prazeres da vida não conheciam impedimentos. E como tudo o que é bom só é eterno enquanto dura, a festa acabou mesmo, ao menos por decreto, e por decisão autocrata promulgada pela voz do próprio Rei Fernando de Navarra. Toda espécie de satisfação dos sentidos estava proibida, incluindo aí a proximidade com mulheres. As únicas paixões permitidas eram aquelas direcionadas ao saber. Este é o mote inicial de Trabalhos de Amor Perdidos, uma trama de reviravoltas em que os próprios arautos da abstinência amorosa serão convencidos do contrário daquilo que pregam.
Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.
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