Conto de Inverno - Shakespeare

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Contar um conto triste cabe melhor para o inverno. Sei de um de espíritos e duendes – e também um outro de uma mulher, que depois de morta, é homenageada com uma estátua – uma peça tão fiel às suas expressões que o mármore lhe restitui à vida. Vou contar essa história bem baixinho para que os grilos não nos ouçam. Tomem seus lugares diante da lareira. Com um pouco de esforço de imaginação ninguém passará frio. Era uma vez um rei da Sicília que doente de ciúmes enxergava fantasmas onde não havia. Pobre Hermíone..., assim se chamava a sua mulher.

Na nossa história de hoje é inverno, e a neve cai do lado de fora da janela. Muito mais interessante do que pegá-la com as próprias mãos - ou de vociferar a impossibilidade de haver neve em nosso território tropical – é imaginá-la caindo enquanto fazemos este esforço para ultrapassar as fronteiras da realidade. Shakespeare é dessa mesma qualidade zombeteira: ele está pouco interessado naquilo que só é possível existir se for verificado; contanto que lhe sirva de cenário para encontros humanos, está tudo bem.

A rainha Hermione é inocente, ainda assim, é mandada para a prisão pelo próprio marido, o rei Leontes, sob a acusação de adultério; a traição teria sido cometida em parceria com seu melhor amigo, o rei da Boêmia, Políxenes. Para piorar ainda mais, Hermione estava grávida e, com o choque da situação toda, acaba dando à luz a uma menina antes do tempo. Paulina, a fiel dama de companhia de Hermione, leva a menina para mostrá-la a Leontes na expectativa de que, ao ver a filhinha, ele caia em si, se compadeça, e peça perdão à esposa. Mas nada disso acontece. Furioso, o rei não cede em um milímetro sequer. Ele defende que um criado seu embarque com o bebê para longe dos domínios de seu reino, com a intenção de abandoná-lo em alguma praia desconhecida e deserta. Um longo caminho se segue até Leontes perceba seu enorme equívoco.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.