Fundação Padre Anchieta

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divulgação / Clark et Pougnaud
divulgação / Clark et Pougnaud Quarteto Van Kuijk e Adrian La Marca

Dizem que Mozart compôs dois quintetos de cordas, para dois violinos, duas violas e violoncelo só para mostrar ao recém-empossado rei Frederico Guilherme II da Prússia que era tão bom ou melhor do que Luigi Boccherini – e no formato que celebrizou o italiano. Frederico Gilherme, que sucedeu a Frederico o Grande, era ótimo violoncelista. Fez isso porque chegaram a seus ouvidos que Boccherini era candidato ao posto de diretor da música na corte da Prússia. O raciocínio do musicólogo Alfred Einstein é ben trovato, mas não é plausível. Nada disso comprova-se em documentos nem há nada escrito.

O fato é que dos seis quintetos que Mozart compôs, dois são de juventude. Dois são justamente de 1787 e o último par é do finalzinho de sua vida, em 1791. Outra constatação é que o gênero do quinteto de cordas com duas violas, derivado dos divertimentos, era muito pouco explorado naquele momento na Europa. É consenso entre os pesquisadores que estamos diante de quatro obras-primas. Já o público os conhece menos. Eles são infelizmente pouco ouvidos em concertos.

A gravação de referência destes quintetos é liderada pelo célebre violinista Arthur Grumiaux para a Philips, feita mais de meio século atrás. O jovem quarteto francês Van Kuijk acaba de gravar dois destes quintetos, catalogados como K. 515 e K. 516, de 1787, tendo como convidado Adrien La Marca na segunda viola. Formado em 2012 em Paris, é integrado pelos violinistas Nicolas Van Kuijk e Sylvain Favre-Bulle, o violista Emmanuel François e o violoncelista Anthony Kondo. Eles vêm obtendo prêmios como o de Revelação nas Victoires de la Musique Classsique de 2014. A paixão por Mozart começou em 2016, com o álbum contendo os quartetos de cordas n°16 e 19; no ano seguinte, registraram em dois álbuns os quartetos de Ravel e Debussy e dois quartetos de Schubert, o décimo e o 14º., “A morte e a donzela”. Ano passado, retornaram a Mozart, com dois quartetos: K. 387 e K.421.

Voltando a Mozart, uma das razões que pode ter levado o compositor, em seus últimos anos, a explorar o quinteto de cordas com duas violas se devo ao fato de a textura se adensar significativamente neste formato. As duas violas de certo modo liberam um pouco o violoncelo para voos um pouco maiores algo inusual na época.

O K. 515 foi composto em abril de 1787; e o K. 516 no mês seguinte, maio. Ele os concebeu como obras contrastantes entre si. O primeiro exala afirmação, vontade de viver; o segundo desespero, depressão. Não por acaso foi em maio daquele ano que seu pai Leopold morreu. O K. 515 é a mais longa composição de Mozart em quatro movimentos. São 1049 compassos – ele ultrapassa, segundo Alec Hyatt, em 400 compassos o mais longo dos demais quintetos de cordas. O recordista, com mais de 12 minutos, é o Allegro inicial, que começa de modo ousado: um arpejo ascendente de duas oitavas do violoncelo é respondido pelo primeiro violino com um grupeto – ornamento que consiste em quatro notas ao redor da nota principal. Vocês vão notar. Logo em seguida, Mozart repete a abertura, só que desta vez é o violino quem faz o arpejo e o violoncelo lhe responde com o grupeto.

Como esta, há muitas outras sacadas maravilhosas de Mozart que se distribuem pelos quatro movimentos deste quinteto que ambiciona um fôlego sinfônico pela amplitude e consistência de escrita. O quinteto K. 516, em sol menor, não poderia ser mais contrastante. Compare o Allegro deste, que oferece poucos temas, estrutura compacta - e com frases melancólicas e quebradas – com o Allegro do K. 515. O Adagio do K. 516, terceiro movimento, tocado com surdina, não convida à contemplação ou enlevo. Em vez disso, o clima é de pressentimento, inquietação.

Durante esta semana, podem comparar cada movimento de um e outro quintetos, só para vocês se darem conta da genialidade de Mozart, capaz de construir duas obras-primas em dois meses seguidos – absolutamente contrastantes. A interpretação do quarteto Van Kuijk arrisca-se, amplia os contrastes, de modo a nos convidar a compartilhar estas duas viagens musicais arrebatadoras.

Dizem que Mozart compôs dois quintetos de cordas, para dois violinos, duas violas e violoncelo só para mostrar ao recém-empossado rei Frederico Guilherme II da Prússia que era tão bom ou melhor do que Luigi Boccherini – e no formato que celebrizou o italiano. Frederico Gilherme, que sucedeu a Frederico o Grande, era ótimo violoncelista. Fez isso porque chegaram a seus ouvidos que Boccherini era candidato ao posto de diretor da música na corte da Prússia. O raciocínio do musicólogo Alfred Einstein é ben trovato, mas não é plausível. Nada disso comprova-se em documentos nem há nada escrito.

O fato é que dos seis quintetos que Mozart compôs, dois são de juventude. Dois são justamente de 1787 e o último par é do finalzinho de sua vida, em 1791. Outra constatação é que o gênero do quinteto de cordas com duas violas, derivado dos divertimentos, era muito pouco explorado naquele momento na Europa. É consenso entre os pesquisadores que estamos diante de quatro obras-primas. Já o público os conhece menos. Eles são infelizmente pouco ouvidos em concertos.

A gravação de referência destes quintetos é liderada pelo célebre violinista Arthur Grumiaux para a Philips, feita mais de meio século atrás. O jovem quarteto francês Van Kuijk acaba de gravar dois destes quintetos, catalogados como K. 515 e K. 516, de 1787, tendo como convidado Adrien La Marca na segunda viola. Formado em 2012 em Paris, é integrado pelos violinistas Nicolas Van Kuijk e Sylvain Favre-Bulle, o violista Emmanuel François e o violoncelista Anthony Kondo. Eles vêm obtendo prêmios como o de Revelação nas Victoires de la Musique Classsique de 2014. A paixão por Mozart começou em 2016, com o álbum contendo os quartetos de cordas n°16 e 19; no ano seguinte, registraram em dois álbuns os quartetos de Ravel e Debussy e dois quartetos de Schubert, o décimo e o 14º., “A morte e a donzela”. Ano passado, retornaram a Mozart, com dois quartetos: K. 387 e K.421.

Voltando a Mozart, uma das razões que pode ter levado o compositor, em seus últimos anos, a explorar o quinteto de cordas com duas violas se devo ao fato de a textura se adensar significativamente neste formato. As duas violas de certo modo liberam um pouco o violoncelo para voos um pouco maiores algo inusual na época.

O K. 515 foi composto em abril de 1787; e o K. 516 no mês seguinte, maio. Ele os concebeu como obras contrastantes entre si. O primeiro exala afirmação, vontade de viver; o segundo desespero, depressão. Não por acaso foi em maio daquele ano que seu pai Leopold morreu. O K. 515 é a mais longa composição de Mozart em quatro movimentos. São 1049 compassos – ele ultrapassa, segundo Alec Hyatt, em 400 compassos o mais longo dos demais quintetos de cordas. O recordista, com mais de 12 minutos, é o Allegro inicial, que começa de modo ousado: um arpejo ascendente de duas oitavas do violoncelo é respondido pelo primeiro violino com um grupeto – ornamento que consiste em quatro notas ao redor da nota principal. Vocês vão notar. Logo em seguida, Mozart repete a abertura, só que desta vez é o violino quem faz o arpejo e o violoncelo lhe responde com o grupeto.

Como esta, há muitas outras sacadas maravilhosas de Mozart que se distribuem pelos quatro movimentos deste quinteto que ambiciona um fôlego sinfônico pela amplitude e consistência de escrita. O quinteto K. 516, em sol menor, não poderia ser mais contrastante. Compare o Allegro deste, que oferece poucos temas, estrutura compacta - e com frases melancólicas e quebradas – com o Allegro do K. 515. O Adagio do K. 516, terceiro movimento, tocado com surdina, não convida à contemplação ou enlevo. Em vez disso, o clima é de pressentimento, inquietação.

Durante esta semana, podem comparar cada movimento de um e outro quintetos, só para vocês se darem conta da genialidade de Mozart, capaz de construir duas obras-primas em dois meses seguidos – absolutamente contrastantes. A interpretação do quarteto Van Kuijk arrisca-se, amplia os contrastes, de modo a nos convidar a compartilhar estas duas viagens musicais arrebatadoras.

A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.