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Marco Borggreve / Warner Classics
Marco Borggreve / Warner Classics Bertrand Chamayou

Definitivamente, o pianista francês Bertrand Chamayou é um artista diferente, que não costuma seguir conselhos de marqueteiros de gravadoras. Prefere seguir seu faro pessoal. Quando assinou contrato com a Erato no início de 2014, impôs sua estreia com um CD intitulado simplesmente “Schubert”. Chamayou concebeu uma schubertíade imaginária. “Ela poderia ter acontecido na Viena do começo do período romântico, na atmosfera aconchegante e íntima de um salão... naturalmente, este repertório, por motivos históricos, não poderia ter sido tocado na mesma noite”, disse na ocasião.

E agora, ao lançar um álbum inteiro apenas com pequenas peças, as célebres canções de ninar, ou em francês berceuses, Chamayou novamente joga um olhar diferenciado – e num tipo de repertório muito batido. Tem até música contemporânea, como a angulosa e áspera “Música para ninar”, do alemão Helmut Lachenmann, de 85 anos. Claro que não poderiam faltar “hits” dos berçários do planeta como a “Berceuse em ré bemol maior opus 57”, de Chopin. Mas já em outra canção célebre, o “Wiegenlied” de Brahms, a inteligência de Chamayou se manifesta: ele toca a transcrição para piano solo de Max Reger (1873-1916), um compositor que adorava transcrições, neste caso do lied de Brahms. Tanto quanto Ferruccio Busoni (1866-1924), presente nesta antologia com uma iguaria refinada, a “Berceuse”, sétima de suas Elegias.

De repente, você se dá conta de que está curtindo músicas que não conhecia. Por exemplo, “La toute petite s’endort”, a pequenina dorme, da compositora francesa Mélanie Hélène Bonis, nascida em 1858 e morta em 1937, conhecida como Mel Bonis. Tem uma pitada sutil de jazz em sua canção de ninar. Outro estranho no ninho é o guitarrista pop Bryce Dessner, 44 anos, norte-americano radicado em Paris e integrante do grupo The National. Sua “Song of Octave”, naturalmente, explora as ressonâncias do intervalo mais consonante da música, a oitava.

Agora retorne à primeira faixa, que dá título ao álbum, “Good Night”. É a sétima peça, e a melhor, de longe, de uma coletânea interessantíssima do compositor checo Leos Janacek (1854-1928). O título da coletânea é em checo, e as traduções variam: Num caminho coberto de folhas, gravetos, este é o sentido. É uma berceuse mais melancólica do que pacificadora. Toque de gênio.

Há várias outras gemas a se descobrir neste álbum que é uma demonstração de como se pode construir um repertório instigante e inovador num tema já muito explorado.

Três dicas finais: preste atenção na segunda Berceuse de Liszt. Nove minutos de sonhos e devaneios, numa escrita pianística delicadíssima; não deixe de ouvir a berceuse do checo Bohuslav Martinu (1890-1959), contemporâneo de Villa, que conheceu quando ambos moraram em Paris nos anos 1920; e a última faixa, o 13º. dos 25 prelúdios de Charles-Valentin Alkan (1813-1888), contemporâneo exato e amigo chegado de Chopin em Paris: sua berceuse intitula-se “Eu adormeci, mas meu coração permaneceu vigilante”.

E, claro, “A pobrezinha”, a sexta peça do ciclo A Prole do Bebê de Villa-Lobos.

A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.