A ideia de uma integral dos quartetos de Beethoven “around the world” nasceu quando o Carnegie Hall de Nova York convidou o quarteto de cordas francês Ébène – um dos mais qualificados da cena internacional – a realizar uma integral em 2020 em sete concertos, para marcar os 250 anos de nascimento do compositor. Naquele momento, os violinistas Pierre Colombet e Gabriel Le Magadure, a viola Marie Chilemme e o violoncelista Raphaël Merlin se perguntaram: por que não, como prega a Ode à Alegria – estendê-la aos seis continentes, ao planeta?
Eles iniciaram o périplo na primavera europeia de 2019 no Konzerthaus de Viena. Na sequência: no Kimmel Center de Filadélfia, Estados Unidos; no Suntory Hall em Tóquio; na Sala Sâo Paulo; em Melbourne, na Austrália; em Nairóbi, na África; e na Philharmonie de Paris. Entre 2018 e 2019 eles fizeram 120 concertos tocando só Beethoven nos seis continentes.
A integral Beethoven ora lançada separadamente e também em caixa com 7 CDs da Warner Classics é o resultado do pleno amadurecimento de uma interpretação diferenciada deste verdadeiro Himalaia do repertório de quartetos de cordas. Num texto-manifesto, os membros do Ébène afirmam que “estes quartetos são 16 obras-primas que formam um eterno cânone artístico moderno sem paralelo – eles traduzem a mais pura humanidade em música”.
No CD desta semana, gravado em concerto ao vivo em Melbourne, na Austrália, na noite de 30 de outubro de 2019, os Ébène interpretam três quartetos: o segundo dos quartetos opus 18, obra de juventude; o quarteto apelidado “Serioso” opus 95; e o Quarteto “Harpa”, opus 74.
O opus 18 foi composto por Beethoven em 1799, e tomam como referência os quartetos de Haydn. Na Áustria, este quarteto recebeu dois apelidos: “dos cumprimentos” e “das reverências” – a Haydn, claro. O opus 74, composto em 1809, é apelidado “Harpa” por causa da presença marcante dos pizzicati. Foi dedicado ao príncipe Kinsky, que se associara ao arquiduque Rodolfo para garantir a Beethoven uma pensão sem contrapartida. O normal eram as encomendas de obras, necessariamente ocasionais; aqui não. Pela primeira vez, a única obrigação de um compositor, no caso Beethoven, era permanecer em Viena. Já o Quarteto opus 95, escrito em 1810, O próprio Beethoven o chamou de “serioso” – a obra foi composta no exato momento em que ele percebeu que seria impossível casar-se com Theresa Malfani; mas também o momento em que ele conhece Bettina Brentano – ambas candidatas ao posto de Amada Imortal.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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