Gaúcho da fronteira, de Passo Fundo, o violonista Yamandu Costa – mestre do 7 cordas – jamais escondeu sua paixão pela música latino-americana. Cresceu ouvindo a música argentina e uruguaia dos pampas, nutriu-se da vivência dos músicos francamente populares, que rodam aquela bela região e de características diferentes em relação ao restante do Brasil.
Enquanto do sudeste pra cima olhamos muito mais para o hemisfério norte, Yamandu construiu uma carreira extraordinária a partir de formas, danças e gêneros latino-americanos. Isso, aliado à sua virtuosidade aparentemente infinita ao 7 cordas, deu-lhe fama internacional consolidada. A ponto de, no começo de 2019, decidir mudar-se para Lisboa, “ponto mais central”, mais próximo, por exemplo, dos grandes festivais de verão europeus e asiáticos. Eclético, também tem tocado com orquestras européias como a Gewandhaus de Leipzig e a Orquestra de Paris solando o Concerto Fronteiras, que gravou em 2015 com a Orquestra de Mato Grosso, e atuando sob regência de maestros como Paavo e Kristjan Järvi.
Assim, em dezembro, mudou-se para Lisboa de mala e cuia com a mulher, a violonista Elodie Bouny e os dois filhos. O CD “Festejo” marca os seus 40 anos, que completou em janeiro de 2020.
O álbum, curiosamente, nestes tempos de pandemia, foi todo concebido e concluído remotamente nos dois últimos anos e meio: Yamandu de seu estúdio na casa do Rio de Janeiro; e o arranjador Marcelo Jiran em seu estúdio em Belo Horizonte. Ele é um factótum que não só escreveu os ótimos arranjos, mas também tocou todos os instrumentos que você ouve no álbum. Não perca a conta: piano acústico, piano elétrico, vibrafone, baixo elétrico, "baixolão“, saxofones alto e soprano, flauta transversal, clarinete e percussão (congas, bongôs, cowbell, clave, shakers, caxixi, vassourinha, tamborim, coquinhos, agogô e efeitos).
Uma novidade de “Festejo” é que pela primeira vez Yamandu estica seu olhar sobre a música riquíssima e diversificada – diferente daquela do eixo gaúcho-argentino – da Colômbia, Venezuela e dos países caribenhos, Cuba incluída.
Assim, ao lado de composições da dupla, eles interpretam duas danças de “Porro – suíte colombiana” de Gentil Montaña, “Guajira a mi madre” do cubano Nico Rojas e o ‘Danzón no. 2”, do mexicano Arturo Márquez. E um clássico brasileiro assinado por Luiz Bonfá: “Sambolero”.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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