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Reprodução da Internet Simon Rattle

“Imaginei como seria interessante se todas as peças estranhas e voltadas para o futuro de Haydn fossem colocadas uma ao lado da outra, com um jeitão de “Greatest Hits”. A frase é do maestro inglês Simon Rattle, a propósito do álbum “Haydn: An Imaginary Orchestral Journey”, o CD desta semana na Cultura FM.

Traduzi propositalmente forward-looking como “voltadas para o futuro” em vez de “inovadoras” para deixar bem claro o espírito deste pot-pourri muitíssimo bem engendrado por Rattle com 11 movimentos de sinfonias, trechos instrumentais de oratórios e óperas. Ele pensou em fazer isso com a Filarmônica de Berlim em 2017 – orquestra que liderou desde 2003 até 2018, mas acabou realizando o projeto com a Orquestra Sinfônica de Londres, num concerto no Barbican Center de Londres que virou álbum lançado em 2018.

Ao ouvi-lo, pensei imediatamente nos artigos do pianista Alfred Brendel sobre a música de Haydn. Brendel o considera o compositor mais bem-humorado da história da música. E como é divertida esta viagem imaginária pela sua música orquestral.

Rattle foi muito feliz nas escolhas. Metade dos onze movimentos de sinfonia e trechos de óperas são raros, não costumam ser ouvidos nas salas de concerto modernas. Casos das sinfonias no. 46, 60 e 64 e da abertura da ópera “L’Isola Disabitata”.

Falei divertimento, mas preciso lembrar as palavras de Brendel. O espírito brincalhão de Haydn só é entendido por quem conhece os padrões da música do século 18. Assim, por exemplo, no Allegro assai, movimento final da Sinfonia no. 90, há dois finais falsos, arrancando duas vezes aplausos que se transformam em risadas pela sacada de Haydn.

Outra razão da sonoridade límpida e leve é a redução do efetivo: as cordas foram reduzidas a 30 músicos e os sopros a pares. Além disso, Rattle mostra que não é preciso contar com instrumentos de época para produzir sonoridades “autênticas”, digamos assim.

Outro momento impressionante compõe-se das primeiras três faixas do álbum. Rattle começa com a representação do caos, abertura do oratório “A Criação”; prossegue com “terremoto”, parte final das “Sete Palavras de Cristo na Cruz” e desemboca na abertura da ópera “A Ilha deserta”.

Quer se surpreender a cada momento? Rir com as brincadeiras? Então estes “Haydn greatest hits” foram feitos pra você.


A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.