Fundação Padre Anchieta

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Foto de Tom Miller (Divulgação)
Foto de Tom Miller (Divulgação) Steven Isserlis

Estão lá as sonatas de Saint-Saëns e César Franck, peças curtas de Gabriel Fauré e Reynaldo Hahn – enfim, o universo musical com o qual o escritor Marcel Proust (1871-1922) conviveu intimamente nos salões parisienses, nas folgas que lhe dava a criação de uma das mais imponentes obras-primas da literatura do século 20: o ciclo de sete romances ‘Em busca do Tempo Perdido”.

O violoncelista britânico Steven Isserlis, 62 anos, decidiu mostrar, no recém-lançado álbum “Música dos Salões de Proust”, as músicas que nos ajudam a mergulhar mais fundo na magia de seu monumental ciclo de romances interligados. Aliás, a música é fundamental ao longo do ciclo. Proust cita 45 compositores.

Proust chegou a inventar Vinteuil, um compositor fictício, “à clef”: ou seja, remete a um compositor de carne e osso, seu contemporâneo, criado para assinar uma sonata para violino e piano que enfeitiça Swann – e é lembrada nos sete romances. Mas quem seria este Vinteuil, autor da “pequena frase” que impactou tanto Swann? Os candidatos naturais eram os contemporâneos de Proust: Camille Saint-Saens, Gabriel Fauré, Claude Debussy e César Franck. Descartados Fauré e Debussy, ficaram para a final Saint-Saëns. Hoje é consensual que Vinteuil é César Franck (1822-1890), e a obra é sua famosa “Sonata para Violino e Piano”. Há motivos para Proust encantar-se com Franck, um criador que fez da estrutura cíclica o seu modo de escrever música. Ou seja, ele expõe um tema, que, apresentado no início de sua obra, é devidamente ruminado, variado, explorado, nos demais movimentos. Uma postura em tudo parecida com a de Proust ruminando o passado enquanto saboreia uma de suas famosas madeleines (Proust não; seus personagens, claro).

Isserlis foi salomônico: interpreta – e muito bem – as duas sonatas, ao lado da pianista canadense de origem asiática Connie Shih. O “dandy” Reynaldo Hahn (1874-1947), nascido em Caracas, na Venezuela, de família abastada, viveu praticamente toda a vida adulta em Paris, onde foi compositor, maestro e crítico musical – além de paixão avassaladora de Proust. Henri Duparc e Augusta Holmes eram alunos de Franck.

O roteiro que proponho é o seguinte: você ouve algumas vezes o álbum primoroso de Isserlis e depois mergulha na leitura de “No caminho de Swann”, o primeiro volume – e chegue logo na segunda parte, “Um Amor de Swann”, intensamente musical.

Durante esta semana você pode ouvir quantas vezes quiser a encantadora Música dos Salões de Proust.


A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.