No século 18, a vida musical nas cidades europeias acontecia basicamente em casa. Pais e filhos reuniam-se após o jantar e se divertiam fazendo música juntos. Não havia séries regulares de concertos, nem temporadas, como hoje em dia. A música instrumental, ou seja, leiga, não religiosa, só era permitida durante a quaresma – no restante do ano, era avis rara e rolava praticamente apenas nos palácios dos nobres, que mantinham suas próprias orquestras.
Por esta razão, não eram comuns as custosas edições de obras mais ambiciosas, como sinfonias e concertos. Em geral eram publicadas versões camerísticas dos concertos para instrumentos solistas antes dos originais com acompanhamento orquestral.
Os próprios compositores faziam reduções, em geral para quarteto ou quinteto de cordas acompanhando o instrumento solista. No CD desta semana, o autor dos arranjos para quarteto de cordas mais contrabaixo acompanhando o piano solista em dois concertos de Mozart é Ignaz Lachner. Ele nasceu em 1807, dezesseis anos depois da morte de Mozart.
Além de facilitar a circulação da música concertante, as versões reduzidas encaixavam-se bem porque os pianos ainda não ofereciam a potência sonora que os modernos exibem. O próprio Mozart escreveu cartas e tornou público que seus concertos poderiam ser tocados com orquestra ou “a quattro”.
O concerto no. 9, conhecido como “Jeunehomme”, K. 271,é de 1777, e o concerto no. 17, K. 453, de 1784. No CD desta semana, o ótimo quarteto de cordas norte-americano Fine Arts – que já gravou álbuns excepcionais com a pianista brasileira Cristina Ortiz – acompanha o pianista Alon Goldstein e também o contrabaixista Alexander Bickard.
Goldstein chama os concertos de piano de Mozart de “óperas-miniaturas”. E explica: “Neles, o pianista, responsável por múltiplos personagens, conversa com as cordas ou os sopros, cada um deles representando um personagem na trama. Quando toca com uma orquestra, o seu diálogo com os sopros acontece a certa distância, ambos de olhos fixos no maestro. Numa gravação como esta, a conversa entre os personagens-instrumentos é muito mais íntima e intensa. É música de câmara de primeira”.
É o que acontece neste álbum encantador, que os ouvintes da Cultura FM podem saborear quantas vezes quiserem durante esta semana.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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