Radicada há muitos anos em Londres, a pianista brasileira Clélia Iruzun vem desenvolvendo uma carreira muito consistente e possui uma discografia consistente, toda gravada na Europa. Ela explora o repertório dos séculos 19/20, com ênfase nos compositores brasileiros.
Sua parceria com a Somm Recordings vem lhe dando autonomia para realizar um importante conjunto de gravações que não só enfocam o repertório brasileiro. Dão-se ao luxo de resgatar peças hoje praticamente esquecidas, e que constituem etapas expressivas do desenvolvimento histórico da música no Brasil.
É o caso do CD desta semana, dedicado a duas encorpadas sonatas para violino e piano, de Henrique Oswald (1852-1931) e Leopoldo Miguez (1850-1902), que juntas ocupam uma hora do álbum recém-lançado no mercado internacional. Além disso, Clélia Iruzun e o violinista inglês Anthony Flint três peças curtas assinadas por Alexandre Levy, Francisco Mignone e Marlos Nobre.
Flint, que foi spalla da Filarmônica de Minas Gerais entre 2010 e o início de 2019, conhece bem o país e os compositores brasileiros. Um intérprete, portanto, ideal para estas preciosas gravações.
O maior destaque fica para a envolvente leitura da sonata de Henrique Oswald, um compositor europeizado que sofreu muito com os preconceitos do movimento nacionalista e só foi resgatado nas últimas quatro décadas, primeiro por José Eduardo Martins, em seguida por Eduardo Monteiro. Era natural, já que Oswald viveu, estudou e atuou muito tempo na Europa, até por conta de bolsa concedida por Dom Pedro II, que o viu tocar em 1871. Lá casou-se com a cantora Laudamia Gasperini e aproximou-se dos grandes compositores europeus, incluindo Brahms e Liszt. A sonata em quatro movimentos foi composta quando ele já retornara ao Brasil, em 1908, O Allegro moderato inicial, por exemplo, acusa a influência de Brahms.
Curiosamente, Oswald assumiu a direção do Insittuto Nacional de Música em 1903, sucedendo a Miguez, que morrera no ano anterior. Este, que também estudou em Portugal e França, Sua sonata de 1885, também em quatro movimentos, tem, como a de Oswald, um longo Allegro inicial, igualmente influenciado pela escrita camerística de Brahms.
Completam este notável álbum três vinhetes para violino e piano de Mignone, Levy e Nobre.
No portal da Cultura Fm, vocês podem ouvir quantas vezes quiserem durante esta semana o álbum “Tesouros do Novo Mjundo “ vol. 2, da pianista brasileira Clélia Iruzun ao lado do violinista inglês Anthony Flint.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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