O compositor italiano Ermanno Wolf-Ferrari, nascido em Veneza, em 1876, demonstrou talento artístico desde menino. Só que pretendia ser pintor, como o pai alemão. Chegou a estudar na Academia de Belas-Artes em Roma, e depois em Munique; Nesta última, começou a estudar música. Só voltou a Veneza aos 19 anos. Conheceu Verdi e Boito, compôs uma ópera, “Cenerentola”, cujo fracasso levou-o a retornar a Munique, onde a ópera fez sucesso em 1902. Viveu sempre entre um e outro país. Durante a primeira guerra, por exemplo, estabeleceu-se em Zurique, pois a Suíça era neutra. Foi professor no Mozarteum de Salzburgo, mas morreu mesmo em Veneza, em 1948. A imagem mais ligada à ópera, entretanto, obscureceu sua produção instrumental, de resto econômica: um sexteto de cordas, uma sinfonia de câmara, dois quartetos, dois trios de cordas, dois trios com piano, um quinteto com piano e uma sonata para violoncelo.
E as três sonatas para violino e piano, duas da juventude, na virada do século; a terceira da plena maturidade, dfe 1943, Elas foram gravadas por Emmanuele Baldini, spalla da Osesp e nosso parceiro na Cultura FM, ao lado do pianista Luca Delle Donne, e foram lançadas há pouco pelo selo Naxos.
A primeira sonata, em sol menor, foi o opus 1 do compositor. Publicada em 1895, ainda respira muito Mendelssohn e Brahms, sobretudo no primeiro movimento, um encorpado Sostenuto-Allegro appassionato quasi presto. A segunda, em lá menor, foi seu opus 10, publicada em 1901 e dedicada a seu pai alemão, e tem apenas dois movimentos, derramadamente descritos: Appassionato; e Recitativo: Adagio – Sostenuto, con amore, semplicemente. Ferrari faz alusões explícitas ao “Tristão” de Richard Wagner no início do segundo movimento.
Mais de quarenta anos separam estas duas da terceira e última sonata, em mi maior, o opus 27 de Wolf-Ferrari. Em seus 26 minutos e quatro movimentos, é a mais ambiciosa e a mais ambígua. Ivan Moody, autor do texto do encarte do álbum, anota o caráter escapista da obra, como se o compositor estivesse com a sensação de não ter conseguido encontrar seu lugar no mundo. E conclui sobre a terceira sonata: “Uma obra fascinante e intrigantemente enigmática”.
Durante esta semana, os ouvintes da Cultura FM podem escutar quantas vezes desejarem este excelente álbum de Baldini, lançado há dois meses no mercado internacional pela Naxos.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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