Radicada há muitos anos em Londres, a pianista brasileira Clélia Iruzun vem desenvolvendo uma carreira consistente e possui uma discografia bastante representativa, toda gravada na Europa. Ela explora o repertório dos séculos 19/20, com ênfase nos compositores brasileiros.
Já são 17 os álbuns gravados pela pianista. Em 2020, ela lançou dois álbuns pela Somm Recordings. Em fevereiro, imediatamente antes da pandemia, juntou-se ao quarteto de cordas Coull no CD “Treasures from the new world”, Tesouros do Novo Mundo. Ao lado do quinteto para piano e cordas da norte-americana Amy Beach, ela justapõe o quinteto de Henrique Oswald, além de duas peças curtas: a romança de Amy Beach para violino e piano e “Poema XXI”, opus 94, do brasileiro Marlos Nobre. Em seguida, lançou, ao lado do violinista Anthony Flint, o segundo volume da série com sonatas de Oswald e Miguez.
O primeiro volume, enfocando quintetos para piano, é o CD desta semana na Cultura FM. Amy Beach, nascida em 1867, morreu em 1944. Combina, em sua escrita, o modernismo francês com uma linguagem romântica salpicada de elementos da música norte-americana, por vocação inclusiva.
Beach era excelente pianista. Estreou com orquestra ao lado da Sinfônica de Boston, em 1885, solando o segundo concerto de Chopin. Casou-se com Henry Harris Aubrey Beach, que praticamente proibiu-a de se apresentar como pianista – o que a fez dedicar-se basicamente à composição. Morto o marido em 1910, ela retomou a carreira como intérprete. Em vida, foi reconhecida como especialista em canções; compôs mais de 150. Seu quinteto para piano e cordas é de 1908, e ela foi a pianista na estreia mundial. A obra é bastante influenciada pelos quintetos de Schumann e Brahms, que ela tocou nos Estados Unidos várias vezes. Aliás, o tema principal da obra, que aparece nos três movimentos, é uma citação do segundo tema do finale do quinteto de Brahms.
Clélia e o Coull Quartet encontraram no quinteto do brasileiro Henrique Oswald (1852-1931) o complemento ideal para este belo álbum. Igualmente influenciado pela música romântica, especialmente a da segunda metade do século 19 – mas não a linhagem germânica, e sim a francesa, a ponto de um amigo chamá-lo de “o Fauré brasileiro”. Seu encorpado quinteto foi composto em 1895, quando ele morava em Florença, O compositor não viu sua obra, que só foi editada em 1937, mas a tocou muitas vezes. Falei influência francesa, mas também percebe-se influência de Schumann no rigor de construção do primeiro e do último movimentos. Mas o colorido harmônico evoca, claro, Fauré.
Além destas duas obras mais ambiciosas, Clélia faz a primeira gravação do “Poema XXI” para piano, de Marlos Nobre. E, ao lado de Roger Coull, primeiro violino do Coull Quartet, ela interpreta a bela “Romança” de Amy Beach.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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