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Paixão de Cristo pintada por Rogier van der Weiden (c.1490)
Paixão de Cristo pintada por Rogier van der Weiden (c.1490)

A música teve sempre uma função especial dentro das celebrações da Semana Santa, desde os primórdios da era cristã. Os ritos utilizados antigamente se faziam acompanhar de cantos místicos, que acentuavam o caráter devocional dos ofícios religiosos.

Muito embora o Papa Pio XII tenha promovido em 1955 uma grande reforma da liturgia da Igreja Católica Romana, executa-se ainda durante as cerimônias solenes da Semana Santa o repertório criado especificamente para essas comemorações religiosas.

Durante a Semana Santa as Matinas e Laudes (compostas de cinco salmos, um hino e do cântico Benedictus) do ofício divino eram entoadas de um modo mais elaborado. Habitualmente, estas horas eram antecipadas e recitadas na tarde do dia anterior. Portanto, as horas canônicas do ofício religioso da quinta-feira, sexta-feira e sábado eram cantadas durante a Semana Santa nas tardes de quarta, quinta e sexta-feira.

Estas recitações solenes receberam o nome de Tenebrae. A cerimônia ocorria numa igreja iluminada por candelabro de quinze velas. Após cada um dos nove salmos de Matinas e cinco de Laudes, uma vela era apagada. Durante o Benedictus, apagavam-se as velas do altar e finalmente, durante o canto da antífona Traditor autem, a última vela era retirada do altar, ficando a igreja na mais profunda escuridão. Depois de um momento de silêncio e meditação, o altar voltava a ser iluminado, simbolizando a Ressurreição de Cristo.

A cerimônia mais solene ocorria durante a missa de quinta-feira, que celebrava a última ceia. O ofício fazia uso generoso de incenso e música, e os sacerdotes trajavam seus melhores paramentos. Ao final da celebração, o coro entoava o hino Pange lingua e as hóstias consagradas eram levadas em procissão. Ao chegar ao altar secundário, chamado Altar da reserva, o Santíssimo era novamente incensado e o coro entoava o Tantum ergo, composto das duas últimas estrofes do hino Pange lingua.

Uma das principais obras dessa ocasião é "A Paixão Segundo São Mateus", de Johann Sebastian Bach. Veja a série sobre Formas Musicais ouvindo a professora Yara Caznok falar apaixonadamente.

Nesta ocasião, o altar principal era despojado de todos os adornos, em preparação para o dia de luto. Na sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor, a igreja celebrava um rito de comunhão; dividindo-se a liturgia do dia em quatro partes. A primeira delas era dedicada a duas breves leituras e ao canto solene da Paixão segundo São João por três celebrantes e o coro. Na segunda parte, havia uma recitação de diversas preces.

O terceiro segmento da liturgia foi denominado Adoração da Cruz. O celebrante carregava uma cruz coberta por um pano de cor roxa. Ao subir os degraus do altar, o pano era retirado da cruz em três etapas, e o sacerdote cantava, cada vez mais alto, Ecce lignum Crucis in quo salus mundit perpendit (Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo). Todos os celebrantes ajoelhavam-se, reverenciavam e beijavam a cruz, que era levada imediatamente à entrada do santuário. Os fiéis presentes repetiam então os mesmo gestos diante da cruz. Durante esta parte da cerimônia, o coro cantava Improperia, representando as queixas de Cristo ao seu povo infiel e ingrato.

Logo após a reverência à cruz, os celebrantes em procissão traziam de volta ao altar as hóstias consagradas no dia anterior. Durante séculos o coro acompanhava a procissão cantando fervorosamente o hino Vexilla regis prodeunt. Seguia-se o rito da comunhão, que tinha início com o Pater Noster. Encerrava-se assim a liturgia da sexta-feira da Paixão.

Diversos responsórios, antífonas e hinos foram incluídos por muitos compositores nos ofícios que compuseram para a Semana Santa, destacando-se especialmente Christus factus est, Tenebrae factae sunt, O vos omnes (responsório das Matinas do sábado), In Monte Oliveti, Domine, tu mihi lavas pedes? (antífona cantada durante a cerimônia do lava-pés, na quinta-feira), Judas mercator pessimus, Crux fideles, Felle potus, Sepulto Domino, entre muitos outros.

Devemos ainda mencionar as numerosas Paixões, que têm por tema a Paixão de Cristo tal como a relatam os quatro evangelhos. Este gênero religioso de cantata ou oratório é cantado durante a Semana Santa. Esta forma ficou especialmente (porém não exclusivamente) ligada ao culto protestante, sendo seu ponto culminante a “Paixão segundo São Mateus” de Johann Sebastian Bach. Temos, entretanto, inúmeras paixões que foram escritas durante os últimos cinco séculos por compositores das mais diversas nacionalidades, credos religiosos e estéticas musicais.

Este breve ensaio sobre a música utilizada na Semana Santa não poderia omitir uma das mais importantes fontes de inspiração para tantos compositores, que é o Stabat Mater. Esta é uma composição da liturgia católica, cujo título foi retirado das primeiras palavras da sequência que faz parte da missa de Nossa Senhora das Dores. A autoria do poema é atribuído a Jacopone da Todi (1236-1306) e o texto foi musicado ao longo dos séculos por algumas centenas de criadores musicais.

É preciso ainda citar que as Sete Palavras de Cristo na Cruz, conforme narradas nos evangelhos, inspiraram muitos compositores, especialmente a partir do século 18, na criação de oratórios sacros e de obras instrumentais de expressão religiosa.