Violões na velha São Paulo
A pesquisa da violonista Flavia Prando
03/02/2024 09h00
Ouça o programa completo:
A violonista Flavia Prando apresentou em 2024 o disco "Violões na velha São Paulo", trabalho fruto da pesquisa de doutorado que Prando defendeu na ECA/USP. A instrumentista, em sua pesquisa, trouxe à tona a história da música para violão na São Paulo do século XIX, período anterior à formação do circuito de partituras para o instrumento, o que significa que muitas das obras do disco foram resgatadas de manuscritos ou arranjadas a partir de versões para piano.
A primeira das três faixas de destaque é a valsa "Lágrimas de saudade" de Venâncio Costa. Ele foi estudante da Academia de Direito em 1862, onde fez amizade com o poeta Fagundes Varela. Costa era compositor e hábil violonista, ao lado de Varela dividiu a autoria de modinhas e serenatas.
A segunda raridade é uma composição de Antonio Estanislau do Amaral que era botânico e músico amador. Dele o programa apresenta "Panamby", do tupi "rio das borboletas", uma valsa tradicional, aos moldes das danças de salão do século XIX e início do XX. Prando destaca que "esta obra foi publicada, em edição particular, e revela um circuito de relações entre os violonistas e figuras da elite local, diversificando a narrativa sobre o status do violão como instrumento de malandro e possibilitando um alargamento da nossa visão sobre as práticas que envolveram o instrumento na sociedade paulista do período."
Por fim, a faixa "Sabãozinho", de João Avelino Camargo. Importante violonista paulistano do início do século XX, João Avelino de Camargo foi aluno e amigo de Agustín Barrios. O músico participou dos primórdios do rádio nos anos 1920 com o trio de violões "Três Sustenidos", que contava também com Theotônio Correa e José Melinho de Piracicaba. Sobre João Avelino, Flavia Prando destaca que "suas peças representam a síntese do repertório cultivado pelos violonistas neste período: músicas de salão e choros, explorando os idiomatismos do instrumento e deixando transparecer, aqui e ali, o sotaque caipira que insistia em permanecer na música e nos costumes da metrópole em crescimento, conforme pode ser notado na segunda parte do presente choro; e incorporando influências dos gêneros difundidos na radiofonia e fonografia do início do século XX, como é o caso do tango argentino, que pode ser ouvida na terceira parte de Sabãozinho."
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