Davi Vittorazzi — AGÊNCIA CENARIUM

CUIABÁ (MT) — Em um ato histórico, a professora Eliane Boroponepá Monzilar tomou posse como coordenadora de Licenciatura Intercultural Indígena, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), na última semana. Ela é a primeira indígena no cargo como esse no MT.

O curso faz parte da Faculdade Intercultural Indígena (Faindi), no Câmpus de Barra do Bugres (a 166 quilômetros de Cuiabá). Eliane se formou na primeira turma da Faindi em 2006. Seguiu a carreira acadêmia com o mestrado em Desenvolvimento Sustentável junto a Povos de Terras Indígenas e doutora em Antropologia pela Universidade de Brasília (UnB).

"Para mim é um avanço muito positivo para os povos indígenas do Estado do Mato Grosso. É um avanço onde é uma conquista não somente minha, mas uma conquista coletiva", ressaltou Eliane à CENARIUM.

"Estar nesse espaço é uma grande responsabilidade de estar contribuindo e ajudando na formação. De professores indígenas. Eu acredito que são lutas, resistências, de conquistas ao longo das décadas e esse espaço irá contribuir para a manutenção, o fortalecimento e, acima de tudo, a valorização e o respeito dos povos indígenas", acrescentou.

Apesar da conquista, a atual coordenadora aponta que a educação indígena no Estado ainda tem desafios a serem superados, principalmente para a implementação da legislação já vigente. "Vejo um dos desafios é estar no espaço político, porque todas essas questões, elas giram em torno de política. Então também um desafio é o espaço da política", defende.

Eliane é indígena da etnia Balatiponé Umutina, sua família e membros da comunidade também estiveram na posse. A Unemat é a primeira universidade de Mato Grosso a ter uma faculdade intercultural e atende estudantes de 41 dos 46 povos indígenas que vivem no estado.

A Faindi começou a funcionar no ano de 2001 e oferece graduação específica e diferenciada para indígenas. Os cursos são: Licenciatura Intercultura Indígena e Pedagogia Intercultural Indígena. Segundo a Unemat, em mais de 16 anos em educação para indígenas, a instituição já formou 450 professores indígenas em Licenciaturas Intercultural: Línguas, Artes e Literatura; Ciências Sociais, Ciências Matemática e da Natureza, e Pedagogia e especializou 140 professores.

"Precisamos nos articular, precisamos nos mobilizar, buscar parceiros para que realmente os nossos direitos possam estar sendo executados na íntegra. E é somente através da luta, de resistência e mobilização que nós conseguiremos alcançar. A luta é contínua e ao longo das décadas os povos indígenas vêm fazendo seu papel", finaliza Eliane.