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Ana Cláudia Leocádio - AGÊNCIA CENARIUM

BRASÍLIA (DF) - Além da exploração da madeireira e do ouro, as organizações criminosas que atuam na Tríplice Fronteira do Brasil, Peru e Colômbia, agora apostam também na pesca do pirarucu para poder diversificar e "lavar" o dinheiro do tráfico de drogas, segundo aponta o relatório “Um problema de três fronteiras: restringindo as fronteiras criminosas da Amazônia”, divulgado esta semana pela Organização Não Governamental (ONG) International Crisis Group (ICG).

Além de constatar o franco crescimento da atuação das facções criminosas nos três Países na produção e venda de cocaína, o relatório do ICG enfatiza que tudo isso ocorre porque esses grupos encontram na Amazônia um terreno propício para atuar, com “fraco alcance dos Estados, a abundância de recursos naturais e a pobreza das comunidades locais para crescer, diversificar e criar novos empreendimentos transfronteiriços”.

O relatório destaca que os grupos criminosos “tornaram-se particularmente ativos na pesca ilegal”. Como o pirarucu, conhecido no Peru como "paiche", tem preço elevado no mercado, ele tornou-se muito visado pelos traficantes.

Região da tríplice fronteira na cidade de Letícia, na Colômbia (Crisis Group/Bram Ebus)

“Embora os mercados locais normalmente ofereçam pirarucu a preços que variam de US$ 1,50 a US$ 2,50 por quilo, em Letícia os preços sobem para cerca de US$ 6 antes de o peixe ser transportado para fora da região. Essas margens de lucro induziram os traficantes de droga a investir em grandes operações de pesca, desafiando as regulamentações estatais para evitar a sobrepesca. Além disso, há relatos de que carregamentos de peixe estão sendo usados para esconder narcóticos”, informa o ICG.

Crescimento da violência

O relatório do ICG mostra que a crescente influência desses grupos criminosos, na Tríplice Fronteira, contribui para o aumento da violência, com maior número de assassinatos. Além disso, fez emergir a liderança de um novo grupo nas disputas entre as organizações – o Comando Vermelho, que nasceu há 50 anos no Rio de Janeiro e desbancou duas facções rivais, segundo a ONG. “As autoridades policiais acreditam que o Comando Vermelho pode estar em conluio com o grupo guerrilheiro colombiano Carolina Ramírez, que se separou das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), agora desmobilizadas”, diz o relatório.

A maior preocupação, expressa no relatório, é o resultado desse consórcio do crime, porque “eles exploram uma série de empreendimentos ilegais, desde o cultivo de coca e seu processamento em cocaína até a extração de madeira, a dragagem de ouro e a pesca em áreas protegidas”. Esse trabalho tem como resultado danos ao meio ambiente, violência às populações locais e comunidades indígenas, principais alvos de recrutamento desses grupos criminosos, que também querem explorar suas terras para plantação de coca.

Folha de coca em Loreto, no Peru (Crisis Group/Bram Ebus)
Extração de ouro

De acordo com o ICG, a extração e o processamento ilegal de madeira também são desenfreados na Amazônia, cuja legalização se dá por meio de falsificação de documentos, no Peru, por exemplo. Há, ainda, a suspeita de que os traficantes utilizam as toras para esconder cocaína.

O principal ponto de dragagem de ouro ocorre ao longo do rio Purué (conhecido como Puré, quando atravessa da Colômbia para o Brasil). “Os garimpeiros locais também reclamam que os guerrilheiros colombianos e os oficiais corruptos da Polícia Militar brasileira frequentemente extorquem pagamentos daqueles que trabalham no rio, exigindo uma certa quantidade de ouro por draga de mineração”, denuncia o relatório.

O ICG ressalta também que “as autoridades brasileiras e colombianas tentaram reprimir a dragagem ilegal, mas as suas medidas foram ineficazes: depois que agentes policiais encerram as operações ilícitas, as dragas ressurgem". Pessoas entrevistadas pelos pesquisadores da ONG informaram que funcionários públicos corruptos vazam informações sobre as operações, permitindo que os garimpeiros afundem as dragas e as recuperem, após a saída das forças de segurança.

Dos três Países, segundo o ICG, o Peru, por sua vez, se transformou no “motor da produção de cocaína na região, causando sérios danos ambientais ao longo da fronteira”, com plantações financiadas por investidores colombianos ou brasileiros e utilizando mão-de-obra de moradores locais. “O produto final é transportado em grande parte sem qualquer controle ao longo do Amazonas e seus afluentes. A maior parte acaba sendo vendida no Brasil – o maior mercado interno para a droga na América do Sul – ou exportada para a Europa e África. Parte dela passa pelo Equador, o País que atualmente sofre os piores índices de violência criminal da América do Sul”, detalha o documento.

Alerta aos fóruns internacionais

Ao final, o relatório do ICG faz uma série de recomendações e sugere algumas ações que podem melhorar o vazio institucional que favorece a ação dos criminosos na Tríplice Fronteira. “É essencial padronizar a legislação sobre crimes ambientais entre os países e utilizar ferramentas tecnológicas, como imagens de satélite, para detectar atividades ilegais, incluindo a operação de plantações de coca e projetos de dragagem ilícitos”, afirma a ONG.

Os autores também lembram que essas questões estarão em debate nos principais eventos internacionais que abordam os desafios ambientais globais, como COP16 da Biodiversidade em Cali, Colômbia, em outubro de 2024; a Cúpula do G20 que o Brasil sediará em novembro de 2024; e a COP30 do Clima, que se reunirá em Belém do Pará, na Amazônia brasileira, em novembro de 2025.

“Os países presentes nessas reuniões devem tomar cuidado para não fazer grandes promessas de proteger o meio ambiente sem também abordar as condições de base na Amazônia e os efeitos corrosivos que o crime, os meios de subsistência ilícitos e a corrupção estatal podem ter sobre a possibilidade de concretizar as promessas verdes”, orienta o relatório.

A International Crisis Group (ICG) é uma organização independente que trabalha para prevenir guerras e moldar políticas que construirão um mundo mais pacífico. É uma das principais fontes independentes e imparciais de análise e assessoria sobre prevenção e resolução de conflitos armados e atua em mais de sessenta Países.