Ana Pastana - AGÊNCIA CENARIUM
MANAUS (AM) - O pré-candidato à Prefeitura de Manaus Amom Mandel usou as redes sociais, nesta terça-feira, 30, para informar que vai realizar um "chá revelação" para anunciar o candidato a vice e oficializar a chapa da Federação PSDB/Cidadania e PRTB no pleito de outubro. Com referência de cores azul e rosa, para representar "homem" e "mulher", a publicação ignora a diversidade e inclusão de gênero.
A origem do chá de revelação é atribuída aos Estados Unidos, no início dos anos 2000, e a prática se tornou popular no Brasil para revelar o sexo do bebê para familiares e amigos. No caso da proposta do político do Cidadania, a revelação será do nome de uma pessoa adulta com gênero definido, o que exclui pessoas Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Pôli, Não-binárias e mais (LGBTQIAPN+), reconhecidas pela Resolução do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
A convenção de Mandel deve ocorrer nesta terça-feira, 30, às 19h no Sesi Clube do Trabalhador, localizado no bairro São José, na Zona Leste da capital. No anúncio, o pré-candidato questiona: "Você acha que é homem ou mulher?", deixando de fora outras identidades de gênero existentes.
O pensamento binário da concepção de gênero pode ser explicado em artigos como "As marcas do gênero no sexo do chá revelação: sentido e significado das múltiplas identidades do indivíduo", da doutora em Educação Escolar e Educação e especialista em Direitos Humanos, Diversidade e Relações étnico-raciais Solange Monteiro.
"Os gêneros inteligíveis obedecem à seguinte lógica: vagina– mulher–feminilidade versus pênis–homem–masculinidade. A heterossexualidade daria coerência às diferenças binárias entre os gêneros. A complementaridade natural seria a prova inquestionável de que a humanidade é necessariamente heterossexual e que o gênero só faz sentido quando está relacionado às capacidades inerentes de cada corpo", explica a autora no artigo.
Outro artigo do acervo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), da doutoranda em Antropologia Social Vanessa Fonte Oliveira, realiza uma crítica direta à prática. "Por exemplo, quando a mulher engravida, a primeira pergunta é se a criança é menina ou menino, se for menina a decoração do quarto e o enxoval será rosa, se for menino será tudo azul, os brinquedos, atividades de lazer, os gestos são diferentes em cada gênero; por isso o desejo em (re)pensar a festividade do Chá de Revelação a partir de uma perspectiva reflexiva sobre as relações de gênero", reflete.
Além das críticas das pesquisadoras, a influenciadora trans Bryanna Nasck também critica a prática. "Muitos argumentam: 'Mas é sobre o SEXO e não o gênero'. O quão bizarro é você fazer uma festa para dizer para as pessoas qual genitália um bebê tem?", questiona.
Conforme a personalidade digital, o chá de revelação é uma forma moderna de fazermos a manutenção de um sistema binário."Ao invés de uma festa de revelação de genitálias, por que não só uma festa onde você comemora a vinda de uma vida?", completa.
Nasck também cita uma notícia do veículo americano Paper, que indica que "A própria criadora desta modalidade de festa pede para pararem de usar a festa para revelar 'gêneros' e reforçar estruturas sociais. Coisa que ela aprendeu com a filha que quebra as imposições sociais e abriu a mente da mãe para a diversidade", afirma a influencer.
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