Marcela Leiros - AGÊNCIA CENARIUM
MANAUS (AM) - A pugilista argelina Imane Khelif tornou-se alvo de ataques nas redes sociais, nesta quinta-feira, 1º, após derrotar a italiana Angela Carini na luta da primeira rodada da categoria até 66 kg do boxe feminino, nas Olimpíadas de Paris 2024. A transfobia foi o principal teor dos comentários. Khelif afirma ser cisgênero e ter nascido com o sexo biológico feminino.
Declarações transfóbicas foram direcionados à atleta que derrotou a adversária em apenas 46 segundos. "Trans é trans e mulher é mulher", disse uma internauta no X (antigo Twitter).
"Angela Carini abandona a luta contra uma mulher trans nas olimpíadas de Paris. Ou seja, ela estava lutando contra um homem", disse outro, na mesma rede social.
"Nojento, totalmente imoral, o COI [Comitê Olímpico Internacional] obrigar uma mulher biológica a lutar contra uma 'trans', porque a trans é um homem biológico, Angela Carini teve q abandonar a luta para a sua própria segurança. Homem batendo em mulher e ocupando o nosso espaço Parabéns COI, Parabéns feministas", disse uma terceira.
Apesar da polêmica, Carini garantiu que o abandono não teve nada a ver com a adversária. A atleta explicou que desistiu do confronto por causa de dores intensas no nariz. Com 30 segundos de combate, ela foi ao corner ajustar o capacete e, depois, desistiu.
"Eu não perdi hoje, apenas fiz meu trabalho como lutadora. Entrei no ringue, lutei e não consegui. Saio de cabeça erguida e com o coração partido. Sempre fui muito instintiva. Quando sinto que algo não está certo, não é desistir, é ter a maturidade de parar", comentou.
Polêmica
Nascida na Argélia — País da África do Norte onde a homossexualidade e a transexualidade são passíveis de punição — Khelif não se identifica como transgênero e afirma ter nascido mulher. Fotos da atleta ainda criança, com brincos e laços no cabelo, circulam nas redes. Apesar disso, a atleta já enfrenta questionamentos a respeito da sua identidade de gênero há anos, bem como a colega taiwanesa Lin Yu-ting, que compete na mesma modalidade.
No campeonato mundial de boxe do ano passado, em Nova Delhi, na Índia, as duas foram desclassificadas pela Associação Internacional de Boxe (IBA) por reprovarem em "testes de gênero". O presidente da entidade, Igor Kremlev, disse à imprensa que testes de DNA apontaram que as duas "tinham cromossomos XY e foram, portanto, excluídas dos eventos esportivos". Nas palavras do executivo, foram identificadas "várias atletas que tentaram enganar as colegas e se fingir de mulheres".
De lá para cá, porém, o COI baniu a IBA do circuito olímpico por falhas recorrentes em integridade e transparência na governança da associação, acusada de manipulação de resultados e corrupção. As duas foram autorizadas pelo, COI, a participarem das Olimpíadas de Paris.
Testosterona
Khelif participou do Campeonato Mundial Feminino de Boxe da IBA de 2022 e tornou-se a primeira boxeadora argelina a chegar à final depois de derrotar Chelsey Heijnen, da Holanda. Ela enfrentou Amy Broadhurst da Irlanda na final e foi derrotada.
Em março de 2023, Khelif foi desqualificada por não atender aos critérios de elegibilidade pouco antes de sua luta pela medalha de ouro no Campeonato Mundial Feminino de Boxe da IBA de 2023. O Comitê Olímpico da Argélia disse que Khelif foi desclassificado por motivos médicos.
Mais tarde descobriu-se que a desqualificação foi devido a altos níveis de testosterona característico de um distúrbio do desenvolvimento sexual (DSD), que faz com que algumas mulheres tenham cromossomos XY e níveis de testosterona no sangue típicos de um homem.
Em janeiro de 2024, Khelif tornou-se embaixador nacional da Fundo das Nações Unidas para a Infância (Inicef). O COI observou que Khelif é uma mulher de acordo com seu passaporte e que esta não era uma "questão transgênero".
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