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“Eu não escolhi a cozinha, ela me escolheu", diz Carmem Virginia, chef dos orixás

Ao site da TV Cultura, chef do restaurante Altar falou sobre o início da carreira, influências na profissão e da fome persistente no país


17/08/2021 18h45

A chef do restaurante Altar, pesquisadora, influencer e jurada nos realities shows "Cozinheiros em ação", do GNT, e "FFF Brasil", do SBT, Dona Carmem Virginia, como é conhecida pelos seguidores, é uma das referências da culinária brasileira. Nascida na periferia de Pernambuco e filha de mãe solo, ela não queria ter falta de dinheiro e ganhar pouco como cozinheira, mas se espelhou na avó para seguir na profissão.

Nas redes sociais, Carmen criou o quadro “Comida de Quinta” para ensinar pratos saudáveis e simples para um público de mais de 60 mil seguidores. Com a pandemia da Covid-19, muitas pessoas pediram dicas de receitas com alimentos mais “baratos”. A chef afirma que o trabalho é para enobrecer a comida, e não para romantizar o problema da fome no país.

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“São dicas de como usar ingredientes baratos da melhor forma, com qualidade. Não pode ser o descarte. Eu não ensino a fazer comida só para matar a fome, ensino fazer comida que vai nutrir o corpo e a mente. A pessoa tem que ficar feliz de comer o alimento", explica a chef.

Um estudo divulgado em abril deste ano por pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade de Brasília, revelou que 59% dos brasileiros entrevistados passaram por situação de insegurança alimentar no último trimestre de 2020. São mais de 12 milhões de pessoas nessa situação. O levantamento aponta que o país pode voltar ao Mapa da Fome, ranking que deixou em 2014.

O aumento do desemprego e a diminuição na renda da população levaram 31,1% dos brasileiros ao estágio de insegurança alimentar leve, 12,2% estão na faixa moderada e 15% na grave. A situação significa a falta de acesso das pessoas aos alimentos, além da quantidade de refeições, que foram reduzidas.

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No entanto, segundo Carmem, não é certo que as pessoas fiquem em filas de açougues para pegarem ossos de carne e, por isso, não indica esses produtos.

“Meus seguidores são pessoas pobres, são para eles que eu estou ali, para mostrar comida simples e saborosa. Eu tento normalizar técnicas e tento despertar o que tem dentro delas de melhor. A gente não pode fazer uma romantização de um processo [de fome] que está se agravando de uns 2 ou 3 anos para cá. O meu papel é melhorar a qualidade de vida das pessoas. Eu preciso ver novamente o meu país crescer, ver novamente as pessoas felizes”, afirma.

História

A história de Dona Carmem Virginia com a comida começou cedo. Neta de merendeira de escola pública, a chef conta que passou a infância vendo a avó cozinhar. Aos 14 anos de idade, foi escolhida como cozinheira dos orixás, já que morava junto a um terreiro de candomblé desde pequena. Segundo a influencer, aprendeu grande parte das técnicas culinárias e receitas olhando a avó, já que não tinha autorização para ajudar.

Apesar da relação forte com a cozinha, Carmem afirma que não tinha o sonho de ser chef ou cozinheira, tinha vontade de ser jornalista.

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Eu não escolhi a cozinha, foi ela que me escolheu, foi um orixá que me escolheu, eu não achava que isso era uma profissão e nem queria, eu só queria que as pessoas me respeitassem do jeito que respeitavam minha avó. Estando dentro da cozinha de santo, e as pessoas admirando minha comida, indo pro terreiro com a expectativa de comer, me fez gostar de servir as pessoas, de estar perto das pessoas, não há profissão nenhuma que dê o brilho no olhar de admiração e carinho”, declara.

O sonho de ser jornalista hoje é incorporado no perfil do Instagram. Carmem escreve textos com reflexões sobre comida, sociedade e música. A cozinheira ainda viu a função como algo importante na representativa negra.

“Nunca sonhei em ser chef, mas assumi porque as pessoas olham e esperam muito mais. Entendi que poucas mulheres da minha cor poderiam escolher a profissão, para mim, foi um privilégio. Eu sou aclamada como cozinheira e, naturalmente, como chef. Não tive logo de imediato, eu fico feliz quando me reconhecem como chef. Aceito o cargo, mas me orgulho em ser Iabassê*”, conta.

O que é Iabassê?: Pessoa responsável pelo preparo dos alimentos sagrados no candomblé. Quem cozinha para os orixás. 

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Antes de estar na cozinha, a chef foi vendedora de plano de saúde e corretora de imóveis. Hoje é proprietária do restaurante Altar, em Recife. O prato mais vendido é uma receita de sua avó.

“Aprendi com ela o que a faculdade não vai ensinar: o olhar, o cuidar da comida, a escolha dos ingredientes, garantir que a energia esteja no alimento, com amor e afeto. Que as pessoas se sintam felizes de comer a minha comida”, declara.



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