Segundo a pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil" realizada em 2022, as mulheres leem mais do que os homens no país. O estudo revela que 59% são leitoras, enquanto apenas 52% do público masculino é adepto do hábito. Apesar disso, elas continuam sendo pouco representadas no mercado editorial, desde a produção até a publicação de livros.
Neste Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta quarta-feira (8), o site da TV Cultura selecionou seis personalidades femininas que ajudaram na inovação, não apenas da literatura mas do acesso à educação.
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Historicamente, o símbolo feminino na escrita estava limitado às revistas de "comportamento". As matérias eram escritas em sua maioria por homens, que assinavam com pseudônimos femininos. No século XIX ou início do século XX, uma mulher que publicasse um livro expondo sua identidade, arriscava-se a ser criticada não só pela sociedade, mas também por familiares, amigos e todo o seu círculo social.
A data oficial do Dia das Mulheres só foi formalizada quando operárias russas exigiram "pão e paz" na revolução de 1917, e apenas quatro dias após a greve o czar foi forçado a abdicar. O governo provisório concedeu às mulheres o direito de votar, e, assim como o voto — hoje um direito garantido pela constituição dos países ao redor do mundo — a trajetória dessas mulheres é recente e marcada por turbulências. Conheça seis dessas personalidades que marcaram a história:
Maria Firmina dos Reis
Homenageada da Festa Literária de Paraty, que aconteceu em novembro de 2022, a escritora é considerada a primeira romancista abolicionista do país, além de ter sido educadora. Mulher, negra e filha de uma escrava alforriada, a romancista nasceu no dia 11 de março, data em que nos dias de hoje é comemorado o Dia da Mulher Maranhense.
Os escritos de Maria Firmina foram abafados pelo tempo e pela sociedade patriarcal. Hoje, temos mais acesso à sua literatura e aos livros publicados.
Clarice Lispector
A escritora e jornalista teve seu primeiro livro "Perto do Coração Selvagem" publicado em dezembro de 1943. Clarice tinha apenas 23 anos, e se tornou uma referência no mundo da literatura modernista e contemporânea, servindo de inspiração para peças de teatros, monólogos e clubes de leitura. Uma edição especial dos seus escritos, com análises e manuscritos, foi lançada pela editora Rocco.
Anália Emília Franco
Conhecida como a Dama da educação brasileira, Anália foi professora, jornalista, poetisa e filantropa brasileira. Aos cinco anos, a jovem mudou-se para São Paulo. Desde os 12 anos de idade mostrou-se interessada pela educação e ajudava a sua mãe no magistério. Ela descobriu sua 'missão' ao se formar professora e se dedicar de corpo e alma ao magistério público.
Apesar do preconceito da época, enfrentou o machismo ao defender a igualdade entre mulheres e homens, negros e brancos e principalmente o direito à educação. Anália presidiu a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva até o dia de sua morte, com a missão de amparar, instruir e educar as crianças pobres da cidade de São Paulo. Acolhedora e justa, lutava pelas minorias com força e perseverava.
J.K Rowling
Conhecida pela saga Harry Potter, a escritora é uma das mulheres mais bem pagas no ramo. Em 2022, em termos de faturamento, ela foi a maior autora do segmento infanto-juvenil no Brasil. Seus livros continuam sendo uma referência no âmbito da fantasia e foi traduzida em 79 idiomas, tendo sido adaptada em oito filmes de sucesso.
Malala
Conhecida internacionalmente pelo seu ativismo na área da educação, a jovem, hoje formada em filosofia, política e economia pela universidade de Oxford, morava em uma região dominada pelo Talibã e desafiou as ordens desse grupo fundamentalista de parar de estudar. Seu ativismo fez com que ela se tornasse alvo do Talibã e fosse vítima de um atentado em 2012. Ela sobreviveu, e, em 2014, recebeu o Nobel da Paz.
Em 2018, a ativista veio ao Brasil e concedeu uma entrevista ao Fantástico. Nela, Malala falou sobre o instituto "Rede Malala", e a divulgação do manifesto escrito por 21 meninas brasileiras, incluindo negras, indígenas, trans, com deficiência e aquelas que são da zona rural. “Existem meninas que têm diferentes desafios, diferentes barreiras no acesso à educação. Por isso comecei meu trabalho no Brasil. Outras pessoas se tornam os representantes deles, mas acho que as meninas podem ser líderes, podem ser agentes de mudança. Elas podem dizer aos líder o que precisa ser feito".
Aline Bei
Aline Bei é uma escritora brasileira da era atual. Ganhadora do Prêmio Toca, criado pelo escritor Marcelino Freire, a romancista escreveu em 2017 seu primeiro livro "O Peso do Pássaro Morto". A escritora lidera um grupo de leituras, sendo uma das principais representantes da literatura feminina atualmente.
Aline já esteve na TV Cultura, em entrevista com para o Provoca, apresentado pelo Marcelo Tas. Em 2021, fez seu lançamento mais recente, que também traz a relação da mulher no mundo atual, e no qual conta a história de uma menina que cresce e forma a própria individualidade em meio ao abuso da mãe e à ausência do pai.
Apesar dos empecilhos, anonimato e exclusão, o mercado editorial abre as portas para mais escritoras, dando espaço para mulheres periféricas, LGBTQIAP+ e suas diversas vozes. Nos últimos anos, surgiram iniciativas para difundir a literatura feminina. Uma dessas iniciativas é o #LeiaMulheres, que começou em São Paulo e se expande nas redes sociais por todo o Brasil.
O movimento tem como proposta divulgar as obras de escritoras e criar um clube de leitura, assim como a editora Feminas. O desejo da poeta Sandra Regina, de alavancar a voz de mulheres se tornou um espaço voltado para produção, escrita e divulgação de escritoras femininas de todas as raças, classes e identidades sexuais.
O clube Lendo Mulheres Negras, criado em 2016, tem como proposta combater não só o machismo, mas também o racismo entre as publicações atuais. Ao longo das décadas, essas mulheres foram tecendo redes, motivando outras com seus diferentes fios e linhas a criarem uma nova literatura e levantar questões excluídas pela sociedade.
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