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Arquivo Pessoal
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De segunda a domingo é em cima de uma Honda CB 300, trabalhando como motoboy em meio à tradicional correria de São Paulo (SP), onde faz entregas para uma loja de roupas femininas durante o dia e, à noite, no delivery de uma pizzaria. Aos fins de semana, porém, a 'magrela' se reveza com uma Yamaha R1, que, ao invés das ruas da capital, tem acelerado cada vez mais pelos principais autódromos de motovelocidade do país.

Esta é a rotina semanal de Sérgio Aparecido da Silva, que aos 35 anos trabalha em dois períodos para cobrir os custos do SuperBike Brasil, maior campeonato de motovelocidade das américas, no qual estreou em 2018 e já sonha em alcançar a categoria principal. Se depender de Serginho, porém, não há sonho distante que não possa ser realizado em um futuro próximo.

"O SuperBike existe há 10 anos. Naquela época eu não tinha nem moto, ia na garupa dos meus amigos para assistir as corridas", contou ele, cujo amor pelo veículo de duas rodas surgiu ainda na infância, por influência do pai. "Meus pais não tinham condição de comprar uma moto pra mim. Mas eu nunca invejei nada de ninguém, sempre falei 'vou batalhar, vou trabalhar e vou ter'. Quando eu assisti o SBK pela primeira vez fiquei muito admirado, muito mesmo, e falei pros meus amigos: 'um dia vou correr aqui'. Ninguém acreditou, alguns deram risada. E graças a deus hoje isso está se realizando", completou.

E foi distribuindo panfletos que conseguiu comprar sua primeira moto, uma Honda ML 125, que apesar da baixa potência serviu para que vivesse sua primeira experiência em uma pista de autódromo. Aconteceu há cerca de uma década, em uma sessão de moto-passeio (para não pilotos) do SuperBike Brasil em Interlagos, que, na verdade, de passeio não tinha nada para Serginho.

"No final das corridas, eles deixavam você entrar na pista com a sua moto, devagar, só para conhecer. Aí quando adquiri minha primeira moto, comecei a fazer isso e o gosto aumentou ainda mais", lembrou. "Eu deixava todo mundo distanciar na reta oposta, aí agachava e acelerava, para sentir a pista, mesmo com a motinha", completou Serginho, que não demorou a trocar de moto.

E foi em 2018, quando conseguiu comprar a tão sonhada R1 e já trabalhando como motoboy, que enfim surgiu a primeira oportunidade de incorporar o grid do SuperBike. Com incentivo dos amigos, se inscreveu para a pré-seletiva visando uma vaga na categoria SBK Escola, que serve de transição aos pilotos recém-chegados. A partir de então, a Yamaha 2008 de Serginho começou a andar cada vez mais rápido, mesmo sem os equipamentos ideais.

"Eu não tinha moto preparada, nada, estava com escapamento, retrovisor, placa, tudo original. Nessa corrida eu cheguei a ficar em segundo e terminei em quinto, por cansaço, falta de preparo, condicionamento físico... Mas mesmo assim consegui meu primeiro pódio. E não quis parar mais, foi a porta de entrada", contou. "Na SBK Escola, já na categoria 1000, fiquei em quarto no campeonato geral de 2018, com seis pódios em oito corridas. Depois da paralisação em 2019, comecei 2020 com pole position e vitória na Copa Pirelli. Aí foi maravilhoso pra mim, consegui abrir várias portas, o pessoal começou a me ver mais. Eu terminei o ano com vice no paulista e terceiro lugar no Brasileiro. Ao todo são 16 pódios, sem nunca ter caído", completou, merecidamente orgulhoso.

Apesar dos bons resultados obtidos em suas três primeiras temporadas no SuperBike, o piloto da moto 64, que em 2021 começou a correr na categoria SBK Light, vive realidade diferente da maioria dos competidores. Com recursos e investimentos limitados, o motoboy faz de pouco muito para competir no mesmo nível que os demais.

"É um esporte bem caro e a gente se vira como pode. Às vezes saio do treino do SBK e vou direto para a pizzaria. A gente conta com ajuda de amigos, pequenos apoios. Eu não tenho patrocínio forte, por isso não troquei de moto ainda. Isso limita o desempenho com relação aos outros", lamentou. "Às vezes eu corro com um jogo de pneu só, às vezes tenho que economizar pastilha, combustível, para poder estar ali. Tem treino que eu nem consigo entrar na pista. Se minha moto tiver 160 cavalos de potencia, é muito. E eu estou brigando ali com motos de 200 cavalos. Eles mexem a cada corrida, eu não tenho como fazer isso. E se eu começar a andar cada vez mais rápido, virar tempo, a gente tem que ter tudo de sobra. A manutenção da moto é primordial", ressaltou.

Mesmo em condições desiguais e com todas as adversidades enfrentadas, Serginho não tira o pé e conta com o apoio dos companheiros para seguir adiante. Para o piloto, que sonha um dia integrar a categoria principal, SuperBike Pro, o mais importante é a mensagem a ser transmitida e o exemplo a ser passado por ele, dentro e fora das pistas. 

"Sempre que precisei, muitas equipes se disponibilizaram a ajudar. Inclusive, recentemente ganhei uma bomba de freio de presente de um piloto. Quando eles podem, eles ajudam", destacou. "Eu vejo isso por um lado bom. Com humildade e simplicidade você chega onde vc quiser. Posso servir como inspiração para que outros motoboys tenham vontade de correr e virar piloto. Isso tem muito mais valor. E o campeonato me proporciona muitas coisas boas. Dou minha vida, me dedico ao máximo para estar ali. E você ver os pilotos comprando as coisas, mexendo nas motos, aumentando a cavalaria, dá ainda mais vontade de crescer", concluiu.