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Lucas Uebel/Grêmio
Lucas Uebel/Grêmio

Em um período quando gestão e planejamento não eram recorrentes no meio do futebol, um matemático de formação resolveu entrar nesse mundo e mudar a forma como o esporte é administrado. Júnior Chávare, ex-dirigente do Grêmio, São Paulo, Bahia e Atlético/MG, começou sua carreira no início dos anos 2000 e deixou um legado em todos os clubes que passou.

“Sou um ponto fora da curva. Sou matemático de formação e trabalhei com tecnologia de informação por mais de 10 anos. Mas sempre gostei de futebol. Tentei jogar, mas não deu certo. Então, transformei o futebol num hobby. Quando ninguém falava de análise de mercado e desempenho, eu comecei a fazer meus estudos”, contou.

Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, Chavare revelou como essa visão o ajudou a implementar diversos processos dentro das diretorias em que trabalhou e revelou jogadores que foram para a seleção brasileira.

Início da carreira

O primeiro trabalho com futebol foi em Americana, sua cidade natal. Por lá, trabalhou no Rio Branco de Americana, que atualmente está na segunda divisão do Campeonato Paulista. Ele não negou que sofreu alguma resistência por parte de antigos dirigentes.

“No começo, vou ser sincero, eu me sentia um extraterrestre. Eu falava algumas coisas e as pessoas me olhavam assustadas. Alguns chegaram a me falar que não precisava ser tão organizado no meio do futebol”, revelou.

Suas ideias de organização e gestão chegaram aos ouvidos de investidores italianos que tinham parceria com a Inter de Limeira. Foi a primeira vez que ele foi contratado para fazer um trabalho 100% voltado ao futebol.

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Apesar da grande oportunidade, o trabalho era desafiador. No time do interior paulista, precisou montar os elencos dos times sub-15, sub-17 e sub-20 em apenas 45 dias. Utilizando sua metodologia, o resultado apareceu rapidamente.

“A equipe sub-20 foi campeã paulista da categoria. Uma das coisas que eu já fazia era ter um banco de dados de jogadores. Na Inter de Limeira, usamos a política de pegar jovens que estavam sendo dispensados dos grandes clubes. Até brincávamos que aquele time era igual a outlet, porque eram atletas de ponta que não seriam usados pelos grandes da capital”, explicou.

Além disso, a base dessa equipe foi promovida para a equipe profissional e conseguiram o acesso da série A2 para a elite do futebol paulista em 2004.

Elite do Futebol

O trabalho bem sucedido no interior paulista abriu portas para Júnior na elite do futebol. Após encerrar o ciclo com a empresa de consultoria da Itália, ele trabalhou no Grêmio, São Paulo, Atlético-MG e Bahia e ajudou a subir grandes jogadores do futebol nacional.

“A gente fez um trabalho muito pesado no Grêmio, que precisava de jogadores rapidamente. Quando cheguei no clube, o diretor revelou que a base estava bastante deficiente. Então, começamos o projeto no sub-13, que são os atletas que estão subindo agora. Mas, a curto prazo, trabalhos na captação de jogadores. Veio Alex Telles, Ramiro, Luan e Wallace no primeiro ano. No meu segundo, veio Cebolinha, Pepê e Ferreira. O projeto começou em 2013 e o time base da Copa do Brasil de 2016 era formado na base”, contou.

No elenco atual do tricolor gaúcho, Ferreirinha, Elias Manoel, Sarará e Gabriel Silva são alguns nomes da base que passaram nas mãos de Júnior.

Outro clube onde o dirigente teve sucesso foi no São Paulo, onde ele foi um dos responsáveis por lançar Brenner, Anthony, Rodrigo Nestor, David Neres e Luis Araújo.

Cuidados no lançamento de jogadores

São muitos jogadores de qualidade que passaram nas mãos de Chávare. Mas, ressalta que não há uma fórmula secreta, há muito trabalho extra campo e que cada clube possui uma política específica para jovens atletas.

“No futebol brasileiro atualmente, além da tática e técnica, é imprescindível a formação psicossocial. Nós trabalhamos, na média, com atletas que vem de classes sociais mais baixas, problemas familiares severos e formação educacional zerada”, revelou.

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Diante dessa realidade, ele falou que muitos clubes investem dinheiro e energia para os jovens atletas terem as melhores condições possíveis para atuarem bem dentro de campo.

Mercado

O último trabalho dele foi em 2021 no Bahia. Mesmo com o título da Copa do Nordeste, não conseguiu montar um time para permanecer na série A. As últimas semanas foram de monitoramento de todos os clubes da série A, B, C e D até mesmo daqueles que não possuem divisão.

A expectativa é que a volta a um clube de futebol aconteça no segundo semestre. “A situação das SAFs é muito interessante. Tem muita coisa acontecendo. É um mercado que devemos estar muito atento”, finalizou.