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Reprodução/Instagram @predatorbodybuilder
Reprodução/Instagram @predatorbodybuilder

Há pouco mais de dois anos, o fisiculturismo brasileiro presenciou uma das cenas mais chocantes e delicadas da internet. Um vídeo que mostra Marcus Araujo, conhecido como "Predador", se jogar da janela do décimo andar de seu prédio, viralizou.

O atleta não só sobreviveu, como voltou a andar, treinar e competir, gradativamente. Mesmo depois de perder mais de 30 quilos, ele venceu o campeonato sul-brasileiro de fisiculturismo e o Arnold Classic Ohio, competição criada por Arnold Schwarzenegger

Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, Marcus falou sobre sua carreira, sua luta contra a depressão, sua volta por cima e seu afastamento dos palcos, anunciado recentemente.

Saúde mental e volta por cima

Depois de receber alta hospitalar, Marcus buscou a ajuda de médicos e demais profissionais para voltar a perseguir seu sonho: “Não sei quais são os planos de Deus, mas sei que ele me quer no esporte!

Predador contou sobre a época em que ele teve que fazer fisioterapia para voltar a caminhar normalmente e, posteriormente, treinar. Ele lembrou que, mesmo com as limitações, caminhava até o local de tratamento todos os dias. "Eu ia de muleta, todos os dias, andando... Levava uma para fazer esse percurso”, destacou o fisiculturista.

Hoje eu olho, passo a passo e fico muito feliz. Eu me orgulho muito pelo processo que eu passei, pelo passo a passo que tive”, disparou. Ele também alega que as preparações o abalavam mais antes da queda.

Uma das maiores mudanças após a queda foi a mentalidade do atleta. Enquanto ele sempre se achava o pior competidor, independente do resultado: “Mesmo eu sendo campeão brasileiro e tendo vários títulos, eu me sentia o pior atleta do mundo.” Hoje, Marcus se enxerga como um campeão. "Eu sou muito dedicado e tenho uma genética muito boa”, afirmou.

O atleta também enfatizou a importância da saúde mental, tanto no dentro do esporte quanto fora dele. "Não só atletas, mas todos nós precisamos (cuidar da saúde mental). Terapia é algo para você ser uma pessoa melhor. Para você mesmo e para os outros. Então todo mundo necessita de terapia, principalmente aqui no Brasil, que é muito fechado para isso, que tem a mente ainda muito fechada para isso. Mas é algo que pode nos levar muito à frente, pode nos ajudar muito a ter uma vida melhor e a proporcionar uma vida melhor para todos que estão próximos de nós", completou.

O acidente

“Hoje é tranquilo. Antes do acidente, da tentativa de suicídio, ninguém sabia que eu tinha depressão. Eu tentava esconder ao máximo de todo mundo. Então após acontecer o acidente, após filmarem, não tinha mais o que fazer. Eu tinha que falar o que realmente estava acontecendo comigo”, alegou Predador.

Ao relatar que voltou a lutar contra a depressão, ele lembrou que a doença o acompanha desde a infância, onde cresceu "sem amor próprio e autoestima" e explicou como seu quadro o levou à queda.

Eu estava há três dias sem dormir. Quando a gente fica três dias sem dormir, a gente vê até 'Gasparzinho'. Na época, eu perdia muito o sono. Não conseguia dormir de jeito nenhum", contou. Diante do quadro grave de insônia, o atleta resolveu se automedicar. No entanto, o que deveria apenas o dar sono teve um efeito muito mais forte.

"Na minha cabeça, eu tomei, fui para a cama e dormi. Só que me falaram que eu não fui dormir. Fiquei 'xarope' com o medicamento e não consegui dormir. Então eu tomei mais, mais e mais, tomei duas cartelas inteiras. Pelo que me informaram, só aí era para eu ter morrido com uma parada cardiorrespiratória. Como eu não conseguia dormir, eu queria a chave do carro para sair. Não me deram a chave do carro, me trancaram. Deu 10 minutos que saíram (de casa), eu quebrei a janela e pulei do décimo andar do prédio”, relembrou.

Com a queda, Marcus quebrou seu fêmur ao meio, fraturou a bacia e colecionou diversos machucados em seu corpo. Ele apontou que não se lembrava do acidente, e só acreditou no que tinha acontecido após voltar para casa.

“Quando eu acordei na mesa do hospital, o médico me explicou tudo o que tinha acontecido, porque até hoje eu não lembro de nada do acidente. A minha primeira pergunta não foi nem se eu poderia voltar a andar, foi se eu poderia voltar a competir”, falou o atleta.

Apesar da situação, ele vê o acidente como "a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, porque afastou muitas pessoas ruins que eu tinha na minha vida, assim como mudou a minha mente para algumas coisas”. "Após o acidente, eu vi o quanto minha vida era maravilhosa. Eu vi o quanto Deus sempre me abençoou, e quis aproveitar cada segundo. E aproveitar fazendo o que eu amo, que é o fisiculturismo", acrescentou.


Afastamento dos palcos

Recentemente, Predador anunciou que não competirá mais no fisiculturismo para se focar nos estudos. Enquanto trabalhava como motorista de aplicativo, o atleta foi assaltado e perdeu grande parte de suas economias, o que o fez repensar seus próximos passos.

“Isso mexeu muito comigo, porque hoje eu dou valor para a minha vida. Eu quero viver. Eu cheguei a trabalhar 18 horas por dia no Uber para me manter no esporte. Trabalhava, treinava... Tinha dias que eu dormia duas, três horas... assim foi a minha preparação para o Arnold Classic. E eu cheguei lá no melhor shape da minha vida”, relatou.

Outra razão pela pausa na carreira foi a falta de investimento que Marcus recebeu. “Ou eu mantenho o esporte ou estudo, já que eu não tenho patrocínio. Se tivesse, daria para eu manter os dois. Mas como eu não tenho, tive que escolher”, explicou.

Vou ter que largar meu sonho, já que no Brasil não me reconheceram (...) Eu amo muito o esporte, mas hoje eu amo muito mais a minha vida”, lamentou.

Depois de trancar o curso para se focar no combate à depressão, Marcus disse que voltará a estudar Educação Física e se graduará dentro de um ano, além de fazer um curso intensivo de massoterapia.

Depois de lembrar sua trajetória, sua luta, conquista, queda e ascensão, ele concluiu a conversa com uma mensagem motivadora: “É lembrar desses momentos (títulos após o tratamento) que faz eu me curar da minha depressão. É lembrar de como Deus foi bom para mim o tempo inteiro."


O começo na academia

Marcus começou a fazer musculação pelo mesmo motivo de milhares de jovens. Ele era um adolescente muito magro, e queria ganhar mais músculos para melhorar sua performance nas artes marciais

“Eu era muito magro. Pesava 48kg com 16 anos. Comecei a fazer musculação para ganhar um pouco mais de massa para poder lutar melhor”, afirmou. Com o tempo, ele deixou a luta e começou a se dedicar aos palcos, pois rapidamente notou mudanças em seu físico. "Me encontrei no fisiculturismo", pontuou.

O fisiculturista também lembrou que o esporte é sua grande paixão, e ressaltou que as limitações de ser um atleta de alto nível não o incomodam. “É um esporte que exige muito do atleta. Só que para mim é prazeroso. Eu não tenho vontade de beber, não fumo, não gosto de balada. O que eu amo é ser atleta”, afirmou.


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