Esporte

Mulheres enfrentam obstáculos no esporte a motor: "Não falta interesse, faltam oportunidades"

Primeira engenheira da Stock Car, Rachel Loh conta que no começo "não entendia as barreiras que estava rompendo"


12/09/2022 19h15

As mulheres têm um histórico repleto de conquistas importantes no esporte e as atletas brasileiras são o exemplo disso, como é o caso de Marta no time nacional de futebol, Jackie no voleibol, Hortência no basquete, Rafaela Silva no Judô, entre muitas outras. No automobilismo, a paulistana Bia Figueiredo teve uma carreira de destaque em diversas categorias internacionais, sendo a primeira mulher a vencer uma corrida na história da Indy Lights e a única representante feminina do Brasil na Fórmula Indy - o maior campeonato de monopostos nos Estados Unidos - entre 2010 e 2013.

Contudo, Bia é uma exceção à regra. Grande parte das atletas muitas vezes não contam com apoio e oportunidades, mesmo apresentando bons resultados dentro de pista. Luiza Mesquita, de 17 anos, tem o kart na rotina desde pequena por influência do pai, e conta que ao longo dos anos presenciou péssimos momentos no cenário da base. “Até ano passado diziam que se eu ganhava a corrida era porque o kart estava muito bom ou porque tive sorte no dia, nunca porque eu havia andado bem. Passei por situações em que amigos de outros pilotos se inscreveram nos campeonatos só pra me jogar pra fora da pista, porque não queriam perder pra mim de jeito nenhum. Sofri um acidente uma vez em uma final de campeonato, e meu pai foi questionar o piloto que havia causado o toque. Ele disse algo do tipo ‘bati mesmo, lugar de mulher não é na pista’.

Aos 42 anos, Rachel Loh é a primeira e única mulher engenheira e analista de dados na história da Stock Car Pro Series, principal categoria do automobilismo nacional. Graduada pela Universidade Federal Fluminense, a profissional de Petrópolis ultrapassou obstáculos que nem imaginava durante sua trajetória acadêmica. “No começo, eu não tinha a menor noção do que era o feminismo, não entendia as barreiras que eu estava rompendo, simplesmente tracei uma meta e fui igual um furacão, estava obstinada. Levei muita porrada na universidade, porque fui a primeira mulher dentro de uma equipe de projeto estudantil (Baja). Hoje olho para trás e tenho muito orgulho de ter tido um pioneirismo nessa área”.

A engenheira ressalta que “ter sido a primeira mulher na Stock Car é um motivo de muito orgulho, mas ser a única até hoje é uma tragédia”.

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A luta das mulheres é constante e aos poucos vai gerando frutos tanto nas pistas como nos bastidores do esporte. Podem ser citados alguns exemplos de destaque, como Aurelia Nobels, jovem talento que é finalista da seletiva “Girls On Track” da Federação Internacional de Automobilismo pelo segundo ano e compete na Fórmula 4 Brasil. Outra é Bruna Tomaselli, que integra o grid internacional da W Series, categoria preliminar da Fórmula 1 e que é formada 100% por mulheres. E também Thaline Chicoski, que solidifica seu nome na cena nacional do Mercedes-Benz Challenge e da Copa HB20.

Na linha de frente da modalidade no Brasil, Luiza acredita em um futuro mais diverso nos circuitos. “É muito importante que tenhamos cada vez mais mulheres. Percebo que não se trata de uma falta de interesse, mas sim a falta de oportunidades. Quando comecei conseguia contar nos dedos o número de mulheres que via nas pistas, e hoje em dia já existe equipe 100% feminina, campeonato 100% feminino com mais de uma bateria”, comenta a kartista.

Figura já conhecida na Stock Car, Rachel busca engajar novas fãs durante a temporada e incentiva a participação das mesmas no esporte. “Caso as equipes não tenham mulheres, eu busco orientar ‘por que não?’, e mostrar que o automobilismo é super possível. Neste ano, toda etapa estou levando aos autódromos um grupo de mulheres. Na etapa de Interlagos trouxe várias, fiz o ‘track walk’ com vinte delas atrás de mim, foi sensacional. Quero muito mais engenheiras, meu sonho é ver uma mulher fazendo pit-stop, para mostrar que ela é tão boa quanto os mecânicos”.

O futuro feminino no esporte a motor é promissor e nos próximos anos é esperado que mais pilotas disputem campeonatos de alto nível, como é o caso da colombiana Tatiana Calderón já em 2022, tendo competido na Fórmula Indy e na Fórmula 2, duas das maiores categorias de monopostos no mundo.

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