“Tudo precisa ser rápido e em conjunto”, saiba como funciona a preparação física de um piloto
Treinamento dos atletas envolve principalmente a musculatura dos ombros, braços e pescoço
21/09/2022 18h29
A adrenalina durante uma transmissão de corrida de automobilismo é algo incrível para o público, mas o que passa na cabeça dos protagonistas na pista a cada curva, a cada ultrapassagem? Para proporcionar o espetáculo em circuitos de todo o país, os pilotos passam por toda uma preparação física e mental nos bastidores.
Atual piloto da Copa HB20, Rafael Velho conta que percebeu a importância do treinamento fora dos autódromos em 2013 após uma prova no kart. “Comentaram que eu parecia muito cansado e sem fôlego, se eu não fizesse nada a respeito não conseguiria continuar. Comecei indo na academia e fazendo natação, coisas simples quando ainda não tinha acompanhamento”.
“Faço exercícios que envolvem primeiramente o psicofísico, no qual alinhamos a parte física com a mental, tudo que fazemos precisa ser rápido e em conjunto. Na parte mental, refletimos como o piloto deve se comportar com resultados ruins, ocasionais acidentes, tudo levando em conta que não se trata apenas dele na pista, mas de todo o grid”, conclui o competidor do torneio paulistano Race Cup.
O desenvolvimento da musculatura dos ombros, costas, pescoço, braços e cintura é essencial para que os atletas do esporte a motor aguentem competir em corridas de 25 minutos ou 3 horas em diante, como é o caso dos campeonatos de endurance. Para efeito de comparação, pilotos de caças militares enfrentam até 8 g, ou seja, o próprio peso multiplicado por oito vezes a força da gravidade (9,81 m/s²). Na Fórmula 1, os competidores têm de suportar até 6,5 g durante as corridas. Em 2020, o francês Romain Grosjean sofreu um grave acidente na etapa do Bahrein e suportou um impacto de 53 g.
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Quiroprata pós graduado pelo New York Chiropractic College, Luiz Heihati já atuou em grandes eventos do automobilismo como o Rally dos Sertões e Rally Dakar, e comenta que para aqueles com situações delicadas na coluna, o tratamento “deve ser minucioso”. “Temos que tomar cuidado, a maioria dos atletas tem algum tipo de fratura na coluna. Em algumas ocasiões caso o carro quebre, imagina o piloto dirigindo a 120, 160 km/h sem direção hidráulica em um circuito esburacado, as partes dos ombros, trapézio e cervical sempre acabam sendo muito judiadas no final do dia, ficam muito tensas. Na região da lombar, observo muitas lesões prévias. Stress físico e emocional, falta de sono e aumento do cortisol acabam sendo a má combinação perfeita, são a cara da crise para quem já tem um problema de coluna”, conclui.
O esforço do esportista também varia de acordo com o tipo de carro em que compete. Karts e monopostos de categorias de fórmula exigem mais do piloto do que carros de turismo, em razão do posicionamento no veículo e o balanço peso/potência do mesmo, entre outros fatores. Rafael Velho acredita que a velocidade de reação é a principal diferença entre os modelos. “No kart tudo é um pra um, você é o seu centro de gravidade, considerando uma pilotagem mais agressiva com tração traseira. O carro de turismo é maior, a questão de transferência de peso e velocidade é um pouco mais lenta, também pelo fato de muitos deles serem tração dianteira, existe essa diferença na velocidade de reação”.
Piloto da Fórmula Delta, Matheus Comparatto faz questão de frequentar a academia para evoluir fisicamente e mentalmente. “Treino duas vezes por semana, pratico tanto a parte envolvendo os simuladores quanto a parte física, esta que é fundamental para ter um bom desempenho em uma corrida. Treino a parte mental com o José Rubens D’Elia (treinador psicofísico), faço exercícios pra me tranquilizar antes das corridas, exercícios para ativação do cérebro e para me manter focado”.
O momento atual do automobilismo mostra que desde muito jovens os pilotos têm dado início a uma rotina intensa de treinos físicos, fato que há 30, 40 anos atrás não era algo recorrente. Competidores de diversas categorias do país buscam profissionais da área da saúde para os acompanharem ao longo do ano. Em São Paulo, por exemplo, a Pilotech é um dos centros de treinamento especializados que recebe estes atletas.
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