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Reprodução/Instagram @ramondinopro
Reprodução/Instagram @ramondinopro

Ramon Rocha Queiroz, o "Dinossauro do Acre" ou simplesmente "Dino", é um dos principais fisiculturistas do mundo na atualidade. 

Aos 27 anos de idade, o acreano figura como uma das maiores estrelas do esporte brasileiro e um dos principais candidatos ao título da Classic Physique (categoria na qual o limite de peso se dá pela altura, onde é buscado um físico mais proporcional e estético) no Olympia (tido como a "Copa do Mundo" do fisiculturismo, o show mais importante do circuito profissional) de 2022.

Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, "Ramon Dino" falou sobre o início de sua carreira, sua mudança do Acre para São Paulo, suas pretensões profissionais e seu lado empresário.

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Batalha pelo pro card

Em 2018, o acreano de até então 23 anos ainda era um fisiculturista amador. Com o Olympia Brasil, campeonato que concedia o pro card ("cartão profissional" em inglês), Ramon via a possibilidade de se profissionalizar no esporte e ver sua vida mudar. No entanto, as condições que tinha na época não eram favoráveis para uma preparação.

"Morava de aluguel. Estava desempregado, mas queria, persistia no sonho de competir pelo meu pro card. Então, tinha uma mercearia na esquina da minha casa e eu pedia: ‘Cara, eu estou sem condições de te pagar agora, mas vim te pedir pelo menos uma cartela de ovos. Quando eu tiver condições, te pago.’ E assim, eu fui conseguindo", conta Dino.

"Amigos me ajudaram, me deram dinheiro, mas mesmo a ajuda ainda não era o suficiente para conseguir tudo aquilo que a gente precisava", explica o atleta. Em uma preparação, a alimentação dos fisiculturistas é essencial. Por isso, o fato de utilizar apenas arroz e ovo em todas as suas refeições até o campeonato chamou a atenção de especialistas e espectadores.

Ramon chegou a vender alguns de seus pertences para ressarcir o dono da mercearia que o ajudava com as cartelas de ovos. "Consegui arranjar dinheiro para a viagem com as redes que a gente tinha feito. O pessoal ajudou muito a gente. Com toda a ajuda possível, nunca desistimos daquilo com o que a gente estava sonhando", completa.

Foi no dia 21 de outubro de 2018, então, que o menino do Acre, diante de todas as dificuldades, venceu dezenas de atletas e conquistou o Overall (disputa entre os campeões de todas as divisões da categoria) da Classic Physique, o que colocou seu nome oficialmente no circuito profissional do fisiculturismo brasileiro.

Mudança para São Paulo

Ao contrário do que pensava, a vida de Ramon não mudou imediatamente após se tornar um atleta profissional. Foi cerca de um ano depois da conquista que, por meio das redes sociais, o influenciador digital Toguro o "descobriu" e o chamou para a "Mansão Maromba", na capital paulista.

"Continuei fazendo meu trabalho, continuei indo para a academia. Aí veio o convite. Várias pessoas acessaram meu perfil e mandaram para ele. Vim para São Paulo, passei um mês e meio aqui. Conheci várias pessoas, várias pessoas conheceram a minha história", lembra o atleta.

Foi na Mansão Maromba que ele conseguiu patrocínios de grandes empresas de suplementos e conheceu sua esposa, Vitória Viana Queiroz. Hoje, o casal tem um filho, Ravi, e espera o segundo.

"Hoje em dia, eu só agradeço a Deus. Eu não reclamo. Nunca reclamei, só agradeci a Deus. Desde sempre, só agradeci pelos tropeços. Porque se eu tropecei, é porque tinha uma pedra no caminho. Tem gente que não tem nem pedra. Tem gente que nem anda. Tudo na vida é questão de gratidão", ressalta o fisiculturista.

Críticas

Como tudo na vida, nem tudo são flores. Ao chegar na capital paulista e ascender como a principal promessa do fisiculturismo nacional, diversos fãs do esporte queriam Ramon nos palcos de imediato. No entanto, a passagem da liga amadora para a profissional foi mais complicada do que parece.

"Eu não estava pensando em já competir. Uma competição já é difícil. Sair do interior para uma cidade grande é mais difícil ainda. Então, até eu me adaptar, me estabilizar, para poder pensar em campeonato foi um período, todo um processo. Eu tinha que respeitar esse processo, tinha que ter condições para competir", afirma o Dinossauro do Acre.

A "demora" para estrear na liga profissional (seu primeiro show na Pro League foi o Europa Pro em agosto de 2021) fez com que alguns internautas questionassem o potencial do jovem. Em certos momentos, foi dito que o incrível físico apresentado por Ramon jamais deixaria as redes sociais. "As pessoas falavam: ‘O Ramon tem que competir, é atleta de Instagram", recorda o fisiculturista.

Mesmo com as críticas, o acreano nunca mudou seu foco: "Eu peneirei tudo isso. Escutei as coisas boas, e as ruins, deixei de lado." "Acho que, nesse ponto, as pessoas acabam sendo mais afoitas que eu", avalia.

Ramon ainda diz que, em algumas oportunidades, os fãs "colocam expectativa demais, mas só a gente sabe o que passa no dia a dia. Todo dia é uma vitória. Fazer dieta não é fácil, manter essa rotina todo dia não é fácil. Então tem que ter cabeça. As pessoas acham que é simples de se fazer, acho que é por isso que elas criticam tanto."


Genética ou trabalho duro?

Desde o início de sua carreira, Ramon é apontado como um fenômeno genético. Um tipo de atleta que surge a cada geração. O acreano carrega a esperança de, possivelmente, se tornar o primeiro homem brasileiro a conseguir se tornar o Mister Olympia, patamar mais alto que qualquer atleta pode atingir.

No entanto, o fato de ter sido "abençoado" com o dom não tira o fato de que o fisiculturista precisa se dedicar tanto quanto qualquer outro colega de profissão: "Tem gente que acha que é ‘só genética’. Mas eu continuei fazendo meu trabalho. Não preciso mostrar nada para ninguém, tenho que fazer o que preciso. Os caras que trabalham comigo sabem o quanto eu me esforço, sabem o quanto eu me dedico 100% para não errar."

Ramon aponta que chegou a se abalar com os comentários. "Antes eu chegava a ficar um pouco mais incomodado, porque eu faço o que todo mundo faz. Treino, dieta, etc. Eu ralo ‘pra caramba’, fico sem comer. Sinto dores, exaustão, sofro também... a cabeça de campeão é essa. É pensar em não errar todo dia. Mesmo que você não seja o top1, você fez seu melhor, você se venceu a cada dia", reflete.

Olympia 2022

Atual quinto melhor atleta do mundo em sua categoria, Ramon quer levar o título do Olympia para casa em 2022. No ano passado, ele ficou atrás de Chris Bumbstead (Canadá), Terrence Ruffin (EUA), Breon Ansley (EUA) e Urs Kalecinski (Alemanha). 

No Arnold Classic Ohio 2022, ele superou Breon e Urs, o que o coloca como um dos principais rivais de "Cbum" no Olympia deste ano. Ao reafirmar que "com certeza" vai brigar pelo título, o brasileiro comenta que agora vai "mais tranquilo, com a cabeça mais focada no campeonato". "Quero ser vitorioso", dispara.

Em 2021, Ramon fez sua estreia no campeonato mais importante e difícil do mundo. Diante de problemas com seu visto devido à situação da pandemia e de uma quarentena nas semanas que antecederam o show, o atleta não chegou nos seus 100%. Mesmo assim, chamou a atenção de todo o mundo.

"Com todo o trabalho que temos feito, toda a evolução… até os árbitros sabem que está por vir algo diferente. A gente sempre lutou pelo top1, mas tenho certeza que este ano estaremos mais perto", garante.

Homem de negócios

Além do atleta profissional, outro lado que Ramon desenvolveu nos últimos anos foi o do empresário. Recentemente, ele lançou sua própria marca de roupas, a "Ramon Dino Gear". 

"Hoje, minhas roupas são vendidas lá fora e aqui no Brasil também. Para mim está sendo uma coisa nova, não tem nem muito o que falar ainda. Mas é muito bom, porque não fico somente no lado atleta, dá para focar no lado empresarial também. Se amanhã eu me acidentar, o que vai ser do Ramon sem algo a mais que o esporte?", questiona.

Sua marca não é a única ação que o Dino promoveu nos últimos meses. O Égide, pré-treino de sua patrocinadora, a Max Titanium Suplementos, agora tem um sabor especial de Abacaxi e Manga, denominado "Special Olympia". 

"Nossos suplementos são maravilhosos, mas estávamos com vontade de fazer uma coisa nova. Quando eu viajei para o Olympia 2021, conheci alguns sabores novos, o que me deu a ideia de fazer um pré-treino. Foi aí que a Max Titanium e eu decidimos fazer esse sabor novo do pré-treino. Quem sabe, no futuro, a gente consiga fazer coisas novas", ventila Ramon.

Sem revelar todas as iniciativas que ainda estão por vir, o acreano conclui que tem o desejo de fazer algo por seu estado: "Tem os projetos que eu quero que sejam concretizados. Também quero fazer algo no meu estado, o Acre, ajudar pessoas que passam necessidade, assim como eu passei".