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Arquivo pessoal Letícia Macedo
Arquivo pessoal Letícia Macedo

Nos últimos anos, as mulheres têm ganhado cada vez mais espaço nas transmissões esportivas de futebol, tanto nas reportagens e comentários quanto na narração. Apesar da projeção do público feminino nessas funções representar mais diversidade, parte dos internautas e espectadores se mostram muito incomodados com o atual cenário.

Nas redes sociais, é comum observar críticas à locução de mulheres no futebol baseadas apenas no gênero. Um dos principais argumentos é o que diz que “mulher não combina com a narração do esporte”.

Reprodução | Redes sociais

Reprodução | Redes sociais

Reprodução | Redes sociais


No Instagram, outra prática que tem se tornado comum é imitar a narração da profissional Renata Silveira, da rede Globo e primeira mulher a narrar uma Copa do Mundo na TV aberta, substituindo a locução de outros narradores em lances históricos do futebol, como vitórias da seleção brasileira e partidas de Champions League. Nestes vídeos, inclusive, erros de locução cometidos por outras narradores mulheres são atribuídos à profissional.

Além dos comentários deslegitimando essas profissionais, algumas mulheres neste meio também recebem ofensas nas redes sociais.

É um desafio lidar com toda essa resistência de redes sociais. Acho que é um desafio especialmente para nossa saúde mental. É muito difícil sair de casa, trabalhar, fazer o que você ama e depois enfrentar uma enxurrada de ofensas pesadas”, afirma a narradora Isabelly Morais, do grupo Globo.

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Recentemente, nomes relevantes do jornalismo esportivo, como Silvio Luiz e Thiago Asmar, o “Pilhado”, se juntaram ao coro que diz que, no atual momento, mulheres não combinam com a locução futebolística.

Em entrevista ao podcast ‘PodChegar’, o locutor Silvio Luiz chegou a dizer que troca de canal quando percebe que há uma mulher no comando da transmissão.

“Com sinceridade? não [gosto de mulheres narrando]. É uma falta de adaptação. Vai chegar um dia que eu vou gostar, mas, no momento, eu não gosto. Quando vejo que a mulher está narrando eu mudo para outro canal onde tenha um homem. Não é que eu não queira que ela narre. Eu quero que ela narre, mas o meu ouvido ainda não se adaptou”, disse.

“Acho que é um processo de se acostumar com novas vozes narrando futebol. As pessoas cresceram ouvindo homens narrando futebol, então a voz masculina sempre foi muito naturalizada para quem ama futebol. Agora é o momento de naturalizar também a voz das mulheres”, defende Isabelly.

Reprodução|Instagram @isabellymrf

A resistência de parcela do público com mulheres envolvidas com o esporte mais popular do mundo, em alguns casos, é ampliada para a própria prática da modalidade. Nas redes sociais, o próprio futebol feminino gera considerável rejeição e sofre muitos ataques.

Para se ter um exemplo, a transmissão da CazéTV da partida entre Nova Zelândia e Noruega, válida pela Copa do Mundo feminina deste ano, teve que ter os comentários do YouTube desativados devido a quantidade de falas preconceituosas e machistas.

“O chat da CazéTV no YouTube foi desativado durante a transmissão de Nova Zelândia x Noruega porque percebemos que algumas pessoas estavam aproveitando a oportunidade de visibilidade para destilar preconceitos inaceitáveis dentro dos valores da CazéTV e de qualquer sociedade. Nos próximos jogos teremos ainda mais moderadores preparados para permitirem que as pessoas que curtem o canal se manifestem livremente e que discursos discriminatórios sejam banidos, como deve acontecer com qualquer espécie de preconceito”, manifestou o canal.

Letícia Macedo, narradora da CazéTV e a mais jovem a narrar um jogo de Copa do Mundo, com apenas 19 anos, garante que, mesmo sob críticas e ataques, a presença atual de mulheres nos eventos futebolísticos representa um avanço.

“Atualmente, quase todas as emissoras e canais de comunicação contam com pelo menos uma narradora mulher. Acho importante esse avanço pois contribui para uma maior diversidade de vozes e perspectivas. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar uma paridade completa”, comenta.

Arquivo pessoal Letícia Macedo

A igualdade de gênero nas transmissões ainda esbarra em um ambiente predominantemente masculino.

Em certos momentos é desafiador fazer parte desse cenário, pois temos que demonstrar o dobro de vezes que somos capazes e contamos com uma pressão muito maior também”, afirma Letícia.

Para Isabelly Morais, os gestores das redações esportivas precisam abandonar o “olhar viciado” para a contratação de profissionais homens.

“À medida que você vai dando mais oportunidade para mulheres, você vai criando uma geração de meninas que querem viver isso. Tudo é uma cultura”, diz.

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