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A ciência avançou muito desde o último século, época em que o mundo vivia outra pandemia: a gripe espanhola. Mas apesar da tecnologia e do progresso científico, velhas práticas médicas são usadas até hoje, e uma delas está no centro de uma polêmica de Estado.

Segundo a historiadora Lilia Schwarcz, “pouca coisa mudou de 100 anos para cá. Já naquele contexto se recomendou o isolamento, os locais públicos foram fechados. As pessoas tinham que usar máscara. E um medicamento nos chamou a atenção. Já naquele contexto, o sal de quinino, a cloroquina, que já eram usados pra combater a malária que era uma das epidemias, foram descolocadas para a grande gripe”, diz. 

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Existiam outros remédios com promessa de cura da gripe espanhola: oxyform, formagem e tônico anti febril. Apesar de figurarem como salvadores, não se mostraram eficazes. Só no Brasil, o número de mortos pela gripe espanhola chegou a 300 mil.

Este foi um dos temas da pesquisa que deu origem ao livro "A bailarina da morte: a gripe espanhola no Brasil", das historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, com lançamento marcado para o próximo mês.

O clínico geral do Hospital das Clínicas Arnaldo Lichtenstein, explica que nos 100 anos que separam as duas pandemias, a liberação de remédios passou por avanços significativos, impulsionados, em especial, por dois fatos históricos: a má formação fetal causada pela talidomida, nos anos 1960, e o movimento canadense dos anos 1990 que pregou a prática da medicina baseada em evidências.

“A partir da segurança e da confiabilidade na ação dos remédios hoje em dia todas as agencias só vão liberar remédios se o remédio for comprovadamente eficaz. Precisam sempre ter estudos que comprovem a eficácia e a segurança”, afirma Lichtenstein.

O cuidado com a recomendação de medicamentos também passa pelo âmbito legal. E a importância é tanta que a carta magna do Brasil dispõe sobre o tema. A constituição de 1988 restringe a publicidade de remédios para proteger a população de riscos à saúde pelo uso indiscriminado.

Lilia Schwarcz conta que jornais lucraram muito com propaganda de medicamentos que prometiam a cura da gripe espanhola. Mas que também houve atitudes positivas, como a confiabilidade de autoridades na comunidade científica.

“No caso da gripe espanhola, houve um diálogo bastante grande entre governo e especialista na saúde. A gente deve aprender com os acertos do passado. E com os erros. Qual foi o erro: o uso do sal de quinino e da clorquena cloroquinina”, diz.

Os riscos da repetição de erros vão muito além e podem ser mais graves do que os efeitos colaterais. Para Arnaldo, “a falsa sensação de segurança que esses remédios dão então eu não preciso fazer isolamento social, não preciso usar a máscara, não preciso me proteger nem proteger o outro. Esse é o pior efeito colateral”.