Fundação Padre Anchieta

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Janeiro é o mês da visibilidade trans, período que amplia o significado e a importância do dia 29 de janeiro, data que foi criada pelo Ministério da Saúde em 2004, para ampliar a visibilidade de toda a comunidade travesti e transexual.

“Ser travesti, sobretudo no Brasil, país que mais mata travestis e transexuais no mundo, é ser resistência, é romper com uma série de estigmas que sempre nos associa à margem da sociedade”, afirma Giovanna Heliodoro, historiadora, comunicadora e travesti, em entrevista ao site da TV Cultura.

A expectativa de vida da comunidade no Brasil é de apenas 35 anos, menos da metade prevista para o resto da população (75,5 anos), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mas o que é ser travesti ou transexual? Giovanna Heliodoro explica de forma direta: “é romper a cadeia cis (quando a pessoa se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu). Se você é uma pessoa que rompe com isso, você é uma pessoa travestigenere (palavra que engloba pessoas trans, travestis e não binárias).”

As pessoas também se perguntam frequentemente qual é a diferença entre ser transexual e ser travesti. Giovanna explica que a travestilidade está ligada a uma identidade feminina, mas que também pode se colocar em um lugar de não reconhecimento como homem nem como mulher, rompendo, desta forma, com a cisgeneridade. Enquanto os transexuais se identificam com o gênero que difere daquele designado ao nascimento.

Existem também as pessoas não binárias, que estão entre o eixo dos gêneros masculino e feminino. “Essas pessoas preferem ser tratadas pelos pronomes neutros (elu/delu). Muitos falam que elas querem impor uma linguagem neutra, mas isso não é uma imposição, é uma questão de respeito à identidade do outro”, aponta a historiadora.

“É importante ressaltar que a letra T dentro da sigla LGBTQIA+ cumpre um papel de construção de identidade, não de uma sexualidade”, completa.

Drag queens e cross dressers estão inclusos na comunidade travestigenere?

“Não. Drag queens estão ligadas ao ”estar” e não ao “ser”, o movimento é parte de uma manifestação artística. Já o cross dresser está mais ligado às pessoas que passam por um processo de se expressar com outro gênero em situações específicas, como em relações sexuais”, explica Giovanna.

Mês da visibilidade trans

Para Giovanna, “esse período surge em uma tentativa da gente construir espaços de visibilidade para as nossas pautas. A visibilidade que a gente busca deve ser atingida para além do campo do visível, para também estarmos presente no espaço das possibilidades”.

Dentro deste contexto, ela propõe vários questionamentos: “quais são as possibilidades que as pessoas constroem para travestis e transexuais? Quantas travestis e transexuais estão em lugares de poder na sociedade? Quantos estudaram com você? Quantas você considera suas amigas e amigos e já entraram na sua casa? Quantas pessoas trans você tem como referência? Quantas pessoas trans você acompanha para além das redes sociais?”

“Quando a gente começa a fazer esses questionamentos, percebemos que pessoas trans e travestis não fazem parte dos espaços sociais, não fazem parte do convívio de boa parte dos brasileiros. Isso constrói uma estrutura transfóbica, porque uma vez que você não convive com essas pessoas, você não sabe como lidar, nem como tratá-las”, completa.

Principais lutas da comunidade

“A gente está na luta por direitos básicos, como o direito de sermos reconhecidos como pessoas nesse "CIStema". A gente pede o direito à vida, à cidadania, a integrar o mercado de trabalho formal, para termos outras oportunidades para além do trabalho sexual, que é uma coisa que nos foi colocada, justamente porque não temos outras oportunidades. Nós lutamos também por acesso à educação e às instituições afetivas, incluindo família. Queremos ter o direito de vivenciar o que é o afeto e o amor.”

De acordo com Dossiê de 2019 da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 90% da população de travestis e mulheres transexuais utilizam a prostituição como fonte de renda devido à falta de oportunidades no mercado de trabalho. 

Giovanna aponta ainda que apenas 0.4% da comunidade está presente em algum curso de ensino superior no Brasil. “Nos tiraram as instituições familiares, as escolas e as universidades. Por muito tempo, a gente não via travestis e transexuais andando na rua de dia porque isso não foi nos dado.”

“Quando as pessoas entendem a construção dessa estrutura transfóbica em que vivemos e que colaboram para ela direta ou indiretamente, apenas por não conviverem com pessoas trans, elas entendem que têm algo a resolver e a mudar nesse contexto. E aí, cabe a cada um pensar se vai ser uma pessoa anti-transfóbica ou não”,aponta.

Giovanna usa suas redes sociais para falar sobre a causa transgenere. Veja alguns posts abaixo:

A historiadora fala também sobre a possibilidade de construção de um amanhã próspero, em que transgeneres possam atuar para além da sua identidade de gênero. Eu queria poder falar para além das minhas questões identitárias, eu queria poder falar enquanto historiadora, pesquisadora e comunicadora. Essa é uma questão muito presente dentro da nossa comunidade.”

“Um exemplo muito bom disso é a médica transexual Rachel Levine, que foi eleita pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para liderar o combate ao coronavírus no país. Acho isso muito importante, porque ela não está nesse papel para falar sobre gênero e sexualidade, ela está ali para construir uma outra narrativa.”

Levine foi nomeada como secretária assistente da área de saúde do Departamento de Saúde e Serviços Humanos norte-americano. A nomeação ainda precisa ser confirmada pelo Senado. Caso aprovada, ela será a primeira mulher transexual a ocupar o cargo.