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"Cenário de guerra": Com colapso, médicos são obrigados a escolher quem tratar, diz coord. de UTI

Ho Yeh Li, responsável pela UTI-Infectologia do Hospital das Clínicas, desabafa: "Não é nada fácil. [...] Temos que decidir o que fazer para perder menos vidas"


19/03/2021 20h01

Com a piora crescente nos números da Covid-19 no Brasil e sobrecarga do sistema de saúde em todo o país, médicos são forçados a decidir quais pacientes terão vaga na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Em entrevista ao Jornal da Tarde desta sexta (19), Ho Yeh Li, coordenadora da UTI-Infectologia do Hospital das Clínicas, falou sobre a situação dos profissionais de saúde na pior fase da pandemia até agora. 

São Paulo registrou nesta semana a primeira morte de um paciente de Covid-19 à espera de um leito e a situação se torna cada vez mais frequente em diversas outras regiões do Brasil. Segundo a médica, como não há leitos suficientes para todos, os profissionais precisam avaliar o cenário e tomar decisões difíceis: "Não é nada fácil. A gente não é Deus, a gente não consegue fazer essa escolha. Infelizmente, às vezes, a gente tem que ser um pouco mais racional e deixar de lado o lado emocional para fazer a melhor decisão. Se eu tiver dois pacientes na mesma gravidade, porém um tem mais chance de sobreviver do que outro, infelizmente a gente tem que fazer a escolha de dar o leito para essa pessoa que tem mais chance, caso contrário a gente pode perder as duas vidas. Ninguém quer fazer essa decisão, porém é como se a gente estivesse num cenário de guerra. Temos que decidir o que fazer para perder menos vidas".

Para a médica, a situação em 2021 é mais grave devido a uma soma de fatores: "Ano passado, quando teve maior restrição de mobilidade, a população aderiu. Tanto que, para outras doenças não-Covid, houve uma redução importante. Infelizmente, isso não está acontecendo neste ano; além de aumento de Covid-19, a gente tem junto aumento de acidentes, aumento de casos de trauma, vítimas de violência com armas de fogo. Então, isso tudo está acontecendo simultaneamente", conta. 

Além disso, os pacientes de outras doenças que evitaram procurar atendimento hospitalar em 2020 enfrentam as consequências agora. Houve aumento de casos de infarto, AVC e problemas renais, afirma Li. 

Leia também: Pesquisadores da UFMG desenvolvem teste rápido para identificação de variantes da Covid-19

Nesta fase da pandemia, o sistema de saúde enfrenta desafios em todas as frentes, com falta de equipamentos, medicamentos, leitos e, principalmente, de profissionais: "A situação realmente é desesperadora. Quem já estava nesse processo há um ano está totalmente cansado. E os recém-formados não têm experiência ainda", continua a médica.

"É importante a população entender que não é só um leito, não só um ventilador. Uma pessoa intubada precisa de medicamentos para manter esse paciente intubado e confortável. [...] Precisa ter medicamentos para fazer todo o tratamento, afinal não é uma questão só respiratória. Estamos falando de uma doença que, apesar de a porta de entrada ser via respiratória, a gente sabe que essa doença pode acometer rins, coração, os vasos. Então, há necessidade de tratamento que abrange todos esses órgãos e, para isso, precisamos de insumos", afirma. 

A médica ainda falou sobre a parcela da população que não leva a sério a situação da pandemia no Brasil: "Tem gente que ainda está fazendo festas clandestinas, que ainda questiona se realmente está acontecendo isso nos hospitais, nos prontos-socorros, nas UPAs. Eu queria convidar essas pessoas: vão à UPA para ver. Em vez de ir à festa, vai à UPA ajudar para ver se o cenário é real". 

Diante do colapso, ela reforça a recomendação para que as pessoas se protejam. "Não saia na rua sem necessidade; se sair, saia de máscara; não se aglomere sem necessidade, não se exponha. Caso contrário, você fica doente e leva a doença para casa. Infelizmente não adianta depois chorar na porta de um hospital", completa. 

Assista à entrevista completa no Jornal da Tarde:

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