Com a pandemia do novo coronavírus, é visível que as pessoas estão mais estressadas. No entanto, é preciso ficar atento a esse estresse, se é algo rotineiro ou se é constante. Neste último caso, o problema pode ser algo maior.
Uma pessoa que apresenta oscilação de humor constante pode estar com alguma patologia psicossocial e pelo estresse ser algo frequente no dia a dia, os sintomas são facilmente confundidos.
Para esclarecer o assunto, o site da TV Cultura entrevistou Ana Gabriela Andriani, psicoterapeuta e doutora pela Unicamp, que explicou quando a oscilação de humor deixa de ser estresse e indica o desenvolvimento de uma doença.
Ela conta que as oscilações de humor são alterações dos estados emocionais que indicam que as emoções se movimentam, não são estáticas. Este movimento é natural: um dia estamos mais alegres, mais seguros, em outro momento estamos vivendo um período mais inseguro ou talvez mais triste por conta de situações que estejam acontecendo.
“O momento que estamos vivendo é de grande instabilidade emocional porque nossos principais pilares de sustentação, que são a economia e a saúde, estão ameaçados. Estamos lidando com muitas frustrações e restrições: de contato, de planos, de possibilidades financeiras, de planejamentos. Então, é natural que haja mais oscilações de humor e que as pessoas estejam se sentindo mais ansiosas, mais inseguras, com mais medo e mais irritadas”, explica.
Ana Gabriela afirma que o estresse contribui para que haja oscilações de humor, ou seja, para que se fique mais ansioso, irritado e deprimido.
No entanto, ela explica que, quando acontece de forma intensa (pessoa varia de estados de muita tristeza para muita alegria, por exemplo), em um espaço curto de tempo (em um mesmo dia ou por dias seguidos a pessoa tem mudanças bruscas de humor) e de forma prolongada (há meses, por exemplo), é preciso ficar atento. Essas oscilações de humor constantes sinalizam alguma patologia.
Ana relata a dificuldade de diagnóstico, pois isso depende de uma série de fatores, como genética, história de vida e construção de relações.
“Às vezes, por exemplo, a pessoa até possui uma predisposição genética, mas o histórico de vida faz com que ela não desenvolva nenhuma patologia, ou vice-versa. Entretanto, os sinais podem ser percebidos, e as variações de humor frequentes e intensas podem ser um deles”, explica.
Segundo a psicoterapeuta, em casos de pessoas que tenham uma tendência ou um diagnóstico de bipolaridade, de transtorno de personalidade borderline, de burnout ou de depressão, é preciso ficar mais alertas, porque neste momento de grande instabilidade, há uma tendência para que elas sejam mais afetadas por serem mais frágeis emocionalmente.
Doenças
São patologias que tem como uma de suas características (dentre outras) a mudança de humor: o transtorno de personalidade borderline, o burnout e o transtorno bipolar.
Ana explica que o burnout é provocado diretamente pelo estresse, ao contrário das outras patologias que, provavelmente, já eram preexistentes e o estresse apenas as intensificou.
“No burnout, é comum sentir-se horas deprimido, horas ansioso e em outros momentos irritado. Isso em curto período de tempo e de forma intensa”, diz. “A pessoa tem um colapso físico, emocional e intelectual por conta de um clima de alta exigência, de alta performance. No geral, quem desenvolve o burnout é muito exigente e crítico consigo mesmo. Em um momento de estresse, onde vários campos da vida estão ameaçados, esta síndrome torna-se mais frequente”, completa.
Tratamentos
O tratamento para esses transtornos todos é o psicoterapêutico, conta a especialista. Em alguns casos há necessidade também de acompanhamento psiquiátrico.
Além disso, Ana recomenda: “É importante as pessoas buscarem atividades de lazer, fazer atividades físicas e se manter em contato com as pessoas, não perder suas relações, mesmo que seja por vídeo, por redes sociais. Buscar ajuda se necessário, contar o que está sentindo, compartilhar o que está acontecendo com ela, para procurar ajuda”.
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