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Com a chegada da pandemia da Covid-19, as videochamadas se tornaram parte da rotina de muitas pessoas, seja por trabalho, estudo ou por reuniões com amigos e familiares. Entretanto, após mais de um ano de crise sanitária, as videochamadas começam a trazer cansaço físico e mental. Esta exaustão ganhou o nome de Zoom fatigue, em menção a um conhecido aplicativo de videoconferências.

A neuropsicóloga Simone Marangoni explica que “quando trabalhamos com reuniões presenciais, o cérebro está menos ativado emocionalmente porque esse é um ambiente de rotina em que as pessoas já se relacionam. Você acaba tendo um certo controle das suas emoções e das emoções interpessoais. Quando você transfere isso para uma videochamada, o ritmo de trabalho precisa ser outro, e na realidade, só estamos substituindo a ferramenta, mas o método continua o mesmo, a duração continua a mesma.”

Para ela, “o ponto crucial da Zoom fatigue não é a ferramenta em si, mas todo o modo operante do trabalho e da escola em formato remoto. (...) A transição de modelos precisa ocorrer com mudanças para que o sujeito que está estressado e que adoeceu não seja culpabilizado.”

Priscila Song estava no último semestre da faculdade de Design de Arquitetura, que cursou nos Estados Unidos, quando voltou ao Brasil e a pandemia começou. Ela veio para visitar a família, mas não conseguiu retornar para Nova York devido ao fechamento das fronteiras. Atualmente, Priscila começou um mestrado em sua área. “Agora tudo ficou online, meu contato com amigos, meus estudos e até a terapia”, conta.

“Sinto dor de cabeça, sinto ansiedade e existe uma cobrança de responder as pessoas e de estar ativa nas redes sociais. Antes da pandemia, na nossa hora de descanso, a gente podia sair, mas agora até nessas horas precisamos das telas. Hoje em dia não sei mais o que é descanso porque estou sempre atrás de uma tela.”

A arquiteta Isabela Moraes também se sente cansada desse excesso de contato virtual. Ela diz que sempre foi uma pessoa que prefere o “cara a cara” e que para além das videochamadas, está desanimada com as redes sociais. “A gente sempre quer mostrar alguma coisa, mas nesse tempo parece que não temos muitas novidades. Prefiro outras formas para me comunicar com as pessoas, quando possível.”

Ela também contou que no início da pandemia assistia várias lives, mas agora se sente sem paciência. As chamadas de vídeo também se tornaram menos frequentes. “Minha família fazia reuniões pelo menos todo domingo. Nesse ano, só fiz uma em março, no meu aniversário.”

O engenheiro Tiago Tibério é de São Paulo, mas se mudou recentemente para Recife, onde trabalha temporariamente de forma presencial em um projeto. “Quando estava em São Paulo e trabalhava em home office sentia muita falta do contato com as pessoas da empresa. Basicamente eu vivia dentro do meu quarto, a rotina ficou psicologicamente bem estressante pra mim, acho que isso inclusive afetou meu rendimento”, conta.

Tiago também contou que as videochamadas com os amigos se tornaram mais raras e que, com a família, as ligações ficaram restritas à ocasiões especiais, como aniversários e feriados. Ele acredita que isso ocorra devido ao desgaste que a comunicação por vídeo trouxe.

De acordo com a neuropsicóloga Simone Marangoni, “quando fazemos muitas videochamadas, estamos olhando constantemente para uma tela que emite luz e atentos ao que as pessoas estão falando, isso exacerba muitas funções. Além disso, quando as chamadas de vídeo não tem imagem, isso requer que nós tenhamos um excesso de percepção auditiva.”

“As pessoas ficam disponibilizadas na tela de forma diferente de como estão disponibilizadas presencialmente, então nosso cérebro muitas vezes não está habituado a esse tipo de estímulo e tudo o que é novo para o cérebro é desgastante”, completa.

A doutora em psicologia social e professora da PUC-SP Gabriela Gramkow aponta que a exaustão mental se dá pela impossibilidade da circulação social por conta da pandemia e pelo uso das ferramentas digitais de modo mais intenso, quando o corpo está impedido do encontro com o outro, do toque e do abraço. “A relação virtual não nos permite uma troca de relações afetivas mais intensa. Como humanos, é fundamental o encontro com o outro. Isso nos acolhe e nos cansa menos, porque a gente precisa ter laços sociais.”

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Saídas para a Zoom fatigue

Simone Marangoni faz um alerta: “estamos indo na contramão da saúde”. Para ela, as formas de trabalho e de estudo precisam ser repensadas, já que o formato presencial e o formato remoto não são iguais. Ela aponta que existe uma pressão muito grande para que a produção continue a mesma. “O número de reuniões está aumentando, mas precisamos diminuir o ritmo.”

Ela diz que caminhar, olhar para o horizonte e desviar a atenção são boas formas de diminuir o cansaço e o estresse durante o home office e as aulas online. “Só no meu consultório, o número de pacientes que estão procurando a psicologia e a neuropsicologia aumentou em 70% por causa do estresse”.

“Tenho medo que essa realidade se torne um 'novo normal', isso é muito perigoso. Nós precisamos estar em alerta e brigar para que isso não aconteça porque as pessoas estão adoecendo”, completa.

A doutora Gabriela Gramkow diz que o trabalho e o estudo remoto trazem a falsa impressão de que estamos mais relaxados. “Por estarmos parados, parece que estamos menos cansados, mas na verdade não, porque não temos a possibilidade de interação como no presente. Apesar de o corpo se movimentar muito mais, esse movimento nos permite uma expansão de linguagens, de encontro e de produção de vida.”