Editoras se solidarizam com neurocientista chamado de "viciado" por Sérgio Camargo
Carl Hart foi atacado nas redes sociais pelo presidente da Fundação Palmares depois de dar uma entrevista sobre livro escrito por ele que discute liberação de drogas
23/06/2021 19h45
A editora Companhia das Letras e a editora Zahar prestaram solidariedade ao neurocientista norte-americano Carl Hart após ataques do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. Hart foi chamado de “viciado” depois de dar uma entrevista à Folha de S. Paulo sobre o livro “Drogas para adultos”, escrito por ele e que sairá no Brasil pela Zahar nesta sexta-feira (25). A obra discute o tema da liberação e do uso destas substâncias.
“Alguma dúvida de que o negro que a Folha escalou para defender a liberação das drogas é um viciado, não um neurocientista? Não tenho dúvida alguma! Parem de usar negros para defender o que não presta! É um insulto aos negros e acirra o preconceito racial” escreveu Camargo em sua conta oficial do Twitter acompanhado de duas fotos do cientista.
Em ato de solidariedade, as editoras publicaram nas redes sociais uma manifestação de apoio ao neurocientista pelo “ataque difamatório e negacionista” sofrido por ele.
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“Carl Hart é um dos mais respeitados especialistas da atualidade nos efeitos das drogas e seu trabalho é reconhecido mundialmente. É incansável também no questionamento da relação que habitualmente se faz entre consumo de drogas e criminalidade, um flagelo que só contribui para que o ciclo de discriminação racial, marginalização e mortes se perpetue. Repudiamos a campanha de Sérgio Camargo contra lideranças negras e a cultura brasileira em geral e reforçamos que, assim como Carl Hart, estamos ao lado da ciência, da pluralidade e da liberdade”, diz o comunicado das editoras.
Depois de insinuar que Hart seria um dependente químico com base em duas fotos e afirmar que ele não seria um neurocientista, Camargo se retratou, mas voltou a criticar o autor de “Drogas para adultos”. “Correção: ele é, de fato, professor universitário. Mas sua pregação em favor das drogas é criminosa e o estilo de vida, deplorável”, declarou.
Sérgio Camargo acumula polêmicas à frente da presidência da Fundação Palmares. Dentre outras coisas chamou o movimento negro de “escória maldita” e excluiu pessoas como Elza Soares, Martinho da Vila, Milton Nascimento e Gilberto Gil da lista das Personalidades Negras da Fundação Palmares, transformando-a em uma homenagem póstuma.
Recentemente, Camargo decidiu pela exclusão de mais de 400 obras de viés de esquerda do acervo da fundação.
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