O risco de morrer de Covid-19 é significativamente maior para homens negros e mulheres brancas e negras do que para homens brancos no Brasil, de acordo com um grupo de pesquisadores que analisou estatísticas oficiais sobre milhares de brasileiros mortos no ano passado.
Segundo dados da pesquisa divulgados pelo jornal Folha de S.Paulo, o grupo ligado à Rede de Pesquisa Solidária, que reúne várias instituições públicas e privadas, concluiu que as desigualdades raciais e de gênero contribuem para aumentar o risco de morte mesmo em grupos de pessoas com atividades profissionais que as colocam no topo da pirâmide social.
"Pensávamos que a mortalidade dos negros era maior porque trabalhavam em atividades mais expostas ao vírus, mas nem sempre isso é verdade", diz o sociólogo Ian Prates, pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e coordenador do grupo responsável pelo estudo.
De acordo com a reportagem, os pesquisadores examinaram dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, sobre 67,5 mil pessoas que morreram de Covid-19 no ano passado, amostra equivalente a um terço de todas as mortes causadas pelo coronavírus notificadas no período.
Em números absolutos, houve mais mortes por Covid em grupos ocupacionais que são grandes empregadores, como comércio e serviços (6.420), agricultura (3.384) e transportes (3.367), mas o estudo mostra que alguns setores foram muito mais afetados em termos relativos.
As mortes por Covid representaram 24% de todas as mortes de profissionais de saúde registradas. Na segurança, incluindo praças das Forças Armadas, policiais militares e bombeiros, foram 25%. Entre líderes religiosos, 44% das mortes do ano passado foram causadas pelo vírus.
Para homens negros, os riscos são maiores do que os enfrentados pelos brancos em todas as atividades, com exceção da agricultura, de acordo com o estudo. O trabalho aponta mortalidade maior até mesmo entre advogados, com risco 43% maior, e engenheiros e arquitetos, com 44%.
Uma das hipóteses dos autores do estudo é que a inserção mais precária de muitos negros no mercado de trabalho, em empresas de menor porte ou sem vínculo empregatício formal, os tornou mais vulneráveis na pandemia, aumentando os riscos criados pela exposição ao coronavírus.
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