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Setembro Azul: OMS estima que até 2050, 2,5 bilhões de pessoas desenvolvam surdez

Para fechar o mês da visibilidade da comunidade surda brasileira, o site da TV Cultura entrevistou especialistas sobre as dificuldades de se viver em uma sociedade sem acessibilidade para deficientes auditivos


30/09/2021 13h12

Mais do que ser o último dia do mês, esta quinta-feira finaliza o Setembro Azul, voltado para a visibilidade da comunidade surda brasileira. Ao longo de todo o mês foram realizados diversos eventos voltados para a conscientização sobre a acessibilidade e a comemoração das conquistas obtidas pelos deficientes auditivos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), 5% da população brasileira é composta por pessoas surdas. Essa parcela corresponde a cerca de 10 milhões de pessoas, sendo que 2,7 milhões possuem surdez profunda.

O aumento do quadro de perda auditiva se deve em parte ao processo de envelhecimento, um fato que atinge a população em nível mundial. Por isso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estimativa é de que 2,5 bilhões de pessoas podem desenvolver surdez até 2050.

A otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez explicou ao site da TV Cultura os tipos de surdez e o grau de acometimento de cada uma. Lembrando que essas características da perda auditiva são definidas exclusivamente pelo exame de audiometria.

Leve: a pessoa ouve as palavras em geral, mas sem alguns dos fonemas. Não provoca atraso na aquisição da linguagem, mas dificulta ouvir uma conversa normal.

Média: a pessoa só ouve as palavras em intensidade mais forte. Tem dificuldades na aquisição da linguagem, na articulação da palavra e na linguagem, em falar ao telefone e complementar com leitura orofacial para a compreensão.

Severa: a pessoa só ouve as palavras em intensidade bem mais forte. Em geral, as outras pessoas precisam falar bem mais alto com elas; pode haver mudanças na voz e forte necessidade de leitura orofacial.

Profunda: a pessoa já não tem nenhuma sensação auditiva e, frequentemente, tem dificuldade de falar.

O empresário Breno Nunes de Oliveira teve a surdez detectada no primeiro ano de vida. Sua mãe contraiu rubéola durante a gestação, ocasionando a surdez como sequela da doença.

Ao site da TV Cultura, Breno contou como é ser surdo no Brasil. “É vivenciar inúmeras barreiras, principalmente na comunicação. Eu posso ir a vários lugares, porém há ausência da língua de sinais em muitos deles”, disse.

Ele afirma que as maiores dificuldades para os deficientes auditivos estão na internet, onde, apesar do aumento significativo em conteúdos acessíveis em libras, ainda há melhorias necessárias para se fazer.

Um exemplo disso está no Youtube. Hoje em dia, 720.000 horas de vídeo são publicadas, mas 99,9% são sem acessibilidade para surdos.

Segundo o empresário, a invisibilidade no mercado de trabalho é outro ponto problemático. “Geralmente, não há oportunidades de carreira profissional para o surdo. A inexistência de comunicação adequada também é um problema”.

“Em uma reunião a pessoa surda na maioria das vezes é excluída, isolada, ela não pode partilhar das informações, por questões da ausência de comunicação nesse meio. Vivemos em um mundo onde as pessoas surdas sempre estão um passo atrás dos ouvintes”, argumenta Breno.

Para a psicóloga Edlamar Mendes Correia, a precariedade na acessibilidade dos surdos pode se tornar um obstáculo e causar transtornos específicos na vida dos deficientes e de seus familiares, especialmente na área emocional, ocasionando depressão, baixa autoestima com dificuldades em lidar com suas emoções e sentimentos, problemas comportamentais e ansiedade.

Segundo a especialista, a área acadêmica é uma das mais afetadas pela falta de acessibilidade, causando a desmotivação pelos estudos.

“A oralidade e o português escrito são, sem dúvida, o corriqueiro e foco nas escolas e em diversos contextos (redes sociais, clubes, teatros, bares, restaurantes, hotéis e etc.). Em pleno século XXI ainda encontramos muitas barreiras, onde se observa a evasão escolar, pouco acesso ao ensino superior e dificuldades em ingressar no mercado de trabalho”.

“Um dos fatores que prejudicam essas pessoas com deficiências é pouco domínio e capacitação dos profissionais por falta de conhecimento do ensino em Libras, além da apropriação de métodos e técnicas adequadas e o conhecimento na elaboração de um currículo adaptado, que atenda as especificidades de cada indivíduo e permitam seu direito de ir e vir”, finaliza a psicóloga.

Diante dessa situação, a startup Wise Hands, que tem foco em soluções inovadoras para promover acessibilidade por meio da tecnologia, decidiu criar o Cadastro Nacional de Surdos, Amigos e Familiares para geração de cadastros de PD* (Profissional Diferenciado, antes denominado PCD - Pessoa Com Deficiência).

O objetivo da ação é ter um efetivo registro da comunidade surda para que, posteriormente, sejam oferecidos conteúdos acessíveis em libras.

“Quando iniciamos a Wise hands encontramos dificuldades de detalhar informações sobre surdos usando fontes tradicionais como o censo do governo, último realizado em 2010”, explica Rafael Rezende, cofundador da empresa.

O cadastro é feito por meio do preenchimento de um formulário eletrônico através do site. Além dos próprios deficientes auditivos, amigos e familiares também podem se cadastrar no grupo.

“Nossas expectativas são que realmente consigamos ter um canal de comunicação eficaz entre a empresa e os surdos, que possamos validar e criar novas soluções para a comunidade”, conclui Rezende.

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