Apesar da independência do Brasil ser celebrada no dia 7 de setembro após o grito de “Independência ou Morte” nas margens do Rio Ipiranga em 1822, o processo de desvinculação de Portugal foi muito complexo e durou anos.
Se engana quem acha que a população brasileira não teve influência na independência e toda a questão foi resolvida por Dom Pedro I. Por muitos anos, o país registrou revoltas e movimentos sociais que já pediam o fim da escravidão e da colonização portuguesa.
Dessa maneira, o site da TV Cultura lista os movimentos emancipacionistas mais importantes, quais as principais reivindicações e como cada um deles foi sufocado pela coroa portuguesa.
Inconfidência Mineira
Um dos primeiros grandes movimentos que reivindicavam a separação do Brasil com Portugal foi a Inconfidência Mineira, também conhecida como Conjuração Mineira, organizada pela elite de Minas Gerais.
O principal motivo que levou a organização do movimento foram os altos impostos cobrados por Portugal. Na época, Minas Gerais prosperava devido a extração de ouro e diamantes e a coroa tinha planos para a reconstrução de Lisboa, capital portuguesa afetada por terremotos.
Assim, a elite socioeconômica da capitânia organizou a conspiração, que também contava com "poetas, cônegos, engenheiros, médicos, militares e comerciantes. Um dos nomes mais conhecidos do movimento é Tiradentes, comandante da tropa que monitorava a estrada que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais.
O estopim para a deflagração da Conjuração foram os governos de Luís da Cunha Miranda e Visconde de Barbacena na capitania. Enquanto o primeiro foi acusado de corrupção, o segundo foi o responsável pela realização da “derrama”, cobrança de imposto com o objetivo de arrecadar 100 arrobas de ouro. Isso causou indignação da elite, já que a economia local estava em crise.
As principais reivindicações eram a proclamação de uma república, pois a elite entendia que a Minas Gerais poderia se sustentar sem a Coroa, realização de eleições anuais e incentivos de manufaturas.
Apesar de todo o movimento ser organizado, ele nunca chegou a ser deflagrado de fato. Por anos, houveram reuniões secretas entre os líderes, mas elas foram denunciadas ao governo.
Por mais que não fosse o líder, Tiradentes foi quem recebeu a pena mais pesada, ao ser condenado a forca. Em 21 de abril de 1972, sua sentença foi cumprida no Rio de Janeiro.
Conjuração Baiana
Poucos anos depois da Inconfidência Mineira, aconteceu na Conjuração Baiana, entre 1798 e 1799, na Capitania da Bahia. O movimento também ficou conhecido como Revolta dos Alfaiates, pois havia membros que exerciam essa profissão.
O início do descontentamento da população com a coroa portuguesa era o preço de alimentos básicos. Diante desse cenário, houve um aumento de roubos e saques na capitania.
Eram seis as principais reivindicações dos líderes da Revolta: abolição da escravidão, proclamação da República, diminuição de impostos, abertura dos portos, fim do preconceito e o aumento salarial.
Luiz Gonzaga das Virgens, um soldado naquele período, e Cipriano Barata, médico e filósofo, foram os responsáveis por difundir as ideias da Conjuração entre as pessoas por meio de panfletos. Ao todo, foram 11 boletins espalhados pela cidade.
A revolta nunca chegou ter um grande ato, pois em 12 de agosto de 1789, as tropas do governo prenderam os líderes do movimento. Além de Barata e Gonzaga, o aprendiz de alfaiate Manuel Faustino dos Santos Lira e o mestre alfaiate João de Deus Nascimento também foi capturado. Todos foram enforcados em praça pública e tiveram seus corpos esquartejados como forma de exemplo para quem quisesse seguir o mesmo caminho deles.
Revolução Pernambucana
Movimento mais próximo a data de independência. A Revolução Pernambucana foi uma revolta sociais que aconteceu em março de 1817.
Assim como em Minas Gerais, Pernambuco era uma das capitanias mais lucrativas para a coroa portuguesa. A diferença era que o carro-chefe era a cana de açúcar. O motivo do início do movimento foram os altos impostos.
A diferença dos pernambucanos é que a maior parte do que era arrecadado ia diretamente para o Rio de Janeiro, onde a Família Real Portuguesa estava, pois tinha fugido do avanço de Napoleão Bonaparte na Europa.
Dessa maneira, os pernambucanos passaram a clamar pela independência e a instalação de uma república. Quem liderava os ideais dentro do movimento eram Domingos José Martins, José de Barros Lima, Cruz Cabugá e o Padre João Ribeiro. A elite local, militares, comerciantes e padres apoiavam a Revolta.
As principais reivindicações eram a proclamação de República, fim dos impostos cobrados por Dom João VI, liberdade de imprensa e de culto e o aumento do salário dos soldados. Pela elite participar dessa revolta, o fim do trabalho escravo não era uma das pautas.
O estopim foi em 6 de março de 1817, quando o militar português Manoel Joaquim Barbosa foi assassinado pelo capitão José de Barros Lima. Com o apoio dos soldados, foi possível tomar o governo da capitania e formar uma administração provisória.
Porém, as lideranças começaram a divergir na maneira de administrar a capitania, fazendo movimento perder força. Dom João VI preparou uma ofensiva e fez com que os revoltosos se entregassem no dia 20 de maio daquele mesmo ano.
Todos os líderes foram condenados e mortos de maneira cruel em praça pública.
“Independência foi um golpe contra os movimentos sociais”, diz historiador
Anos depois, algumas das principais reivindicações dos movimentos se concretizaram, como a separação do Brasil de Portugal. Mas, foi muito pouco. Quem diz isso é o historiador Weber Lopes. Durante sua participação no Estação Livre na última sexta-feira (2), o evento de Dom Pedro I “freou” diversos movimentos sociais no país.
“Na verdade, esse evento da independência atrapalhou não só os movimentos abolicionistas, mas também a construção de um Brasil de verdade. Historicamente, todas as lutas encampadas pelos movimentos sociais, inclusive aqueles que tinham o fim da escravidão como pauta, foram suplantadas”, explicou o historiador.
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