Comemora-se nesta sexta-feira (30) o Dia Internacional do Surdo, data que tem como objetivo dar visibilidade à comunidade surda, suas lutas e conquistas, mas apesar de se referir a pessoas surdas, oferece espaço para dar visibilidade à surdez canina, já que o número de tutores que enfrentam desafios com esses cães cresce a cada dia.
Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, a médica veterinária Alessandra Barreto, explica que fatores genéticos e hereditários são responsáveis pela surdez de nascença e condições genéticas como o albinismo - ausência de pigmentação genética da pele - e heterocromia - olhos de cores diferentes -, em sua maioria, estão associados à redução parcial ou total da capacidade auditiva.
Para animais que não nascem com essa condição, a otite canina - que consiste na inflamação do conduto auditivo - ou doenças neurológicas, como a cinomose, podem evoluir para o ouvido interno e danificar permanentemente ou não a capacidade auditiva dos cães, da mesma forma que traumas cranianos, como pancadas, acidentes ou maus tratos.
Já o animal idoso pode desenvolver a surdez em condição progressiva, pelo envelhecimento e degeneração de células neurológicas, de forma natural, não patogênica. De acordo com ela, a reabilitação auditiva depende diretamente da causa e do quão rápido iniciou-se o tratamento, e especificamente em casos de surdez genética e hereditária não há reversão dessa condição.
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Para Carolina Jardim, psicóloga especialista em Comportamento Animal e fundadora da Turma do Focinho, os dois quadros apresentam pontos positivos e negativos. Entre aqueles que já nascem surdos, encontra-se neles maior facilidade para lidar com a surdez, mas por outro lado, se não forem bem manejados e se os responsáveis por eles não desenvolverem uma comunicação adequada, é muito comum que eles desenvolvam problemas comportamentais ligados à ansiedade.
No caso dos animais que desenvolvem surdez senil, casos em que algum transtorno aparece são muito raros. “Eles têm mais dificuldade de se adaptar por ter que descobrir um novo mundo sem audição, mas é muito raro que desenvolvam problemas de comportamento em função disso”, expõe.
A especialista, que já atendeu mais de 60 cães nesta condição, revela que muitas das famílias que conheceu têm dois ou mais amigos de quatro patas, sendo que normalmente um é surdo e o outro ouvinte ou então dois são ouvintes e um surdo.
“Para algumas coisas facilita muito e é até indicado por especialistas de fora do país porque o ouvinte se torna quase que um suporte para o outro, já que ele não sabe quando alguém está passando na rua ou quando toca a campainha, ele só sabe quando tem esse contato visual, e o ouvinte dá esse sinal. O desafio é mais do ponto de vista do tutor porque ele vai ter que ter um jogo de cintura para se comunicar, falar com o que escuta e não falar com aquele que não escuta”, destaca Carolina.
Em seus atendimentos, sempre indica o apoio de um educador canino que tenha conhecimento específico sobre a surdez para que ele ofereça apoio, primeiro na comunicação em sinais, já que o ser humano é uma espécie muito verbal e precisa se adaptar a como conversar com o seu companheiro, e em seguida no manejo, na criação de uma rotina adequada.
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O que levar em consideração ao adotar ou comprar um cão com deficiência auditiva?
Segundo ela, a primeira coisa a se levar em consideração é a questão da segurança, já que ele jamais poderá passear solto, pois é necessário pensar que quando ele está sem contato visual pode ser atropelado ou a depender do seu temperamento atacar outro animal ou uma pessoa. Outra questão de grande relevância é entender que a grande maioria dos cães surdos têm um teor de energia mais alto, característica que faz com que seja necessário encontrar alternativas para que ele não fique entediado.
O conhecimento também faz total diferença. “Quando você vai comprar ou adotar um cachorrinho que escuta você pode até buscar informações na internet, e muitos deles normalmente não precisam de um adestramento específico, a não ser que desenvolva um problema, mas o cão surdo tem uma tendência maior. Então talvez a pessoa já precise se planejar para a contratação de um profissional especializado para ajudar na adaptação e prevenção de problemas comportamentais”, relata.
Alessandra completa e destaca que para qualquer cão, surdo ou não, o tutor deve estar atento à qualidade de vida. “A alimentação e a higiene são aspectos muito importantes que visam na prevenção de novos problemas. Nos casos de cães cuja surdez veio de uma condição genética, que também compromete o sistema imunológico, esse cuidado deve ser redobrado. Alimentos de alta qualidade e hábitos de higiene auditiva são fundamentais, e devem ser orientados por um profissional veterinário de confiança”.
Como descobrir se o seu pet sofre dessa condição?
De acordo com a médica veterinária, os que nascem com a condição tendem a latir alto em uma tentativa desesperada de comunicação com seus tutores e em casos de animais idosos normalmente eles são mais fáceis de perceber, geralmente por uma mudança no comportamento do cão, que passa a não responder a sons baixos com a mesma eficiência de antes.
Já a psicóloga comportamental revela que algumas raças apresentam uma tendência maior de desenvolver a surdez, entre elas, os dálmatas, o border collie, pitbull, bull terrier e pastor-australiano. O quadro também pode acontecer com animais sem raça definida. “Muitas pessoas me procuram antes mesmo de pegar, quando já sabem que vão pegar um cão surdo, mas também tem muitos casos em que a pessoa compra um cachorro em um canil e começa a perceber uma diferença nele e me consultam, aí peço que me mandem vídeos para que façamos testes caseiros e identificamos a surdez”.
Conheça testes caseiros:
Teste 1
Passo 1: Quando seu cachorro estiver dormindo bem relaxado, aproxime-se dele a no máximo três metros de distância (não pode ser muito perto porque cães surdos sentem vibrações com maestria) chame-o pelo nome, assobie e observe a resposta.
Passo 2: Repita o procedimento, mas para isso, use um brinquedo daqueles com apito e o aperte algumas vezes.
Caso ele não tenha nenhuma reação a nenhum desses estímulos, é muito provável que seja surdo. É importante repetir o procedimento quando a outra orelha estiver coberta (caso ele esteja dormindo de lado), porque muitos cães nascem surdos apenas de um ouvido.
Teste 2
Passo 1: Com o cachorro acordado, peça para alguém te ajudar e posicione-se do lado oposto de onde está seu cachorro. Peça para a outra pessoa dar petiscos para reter a atenção dele.
Passo 2: Do outro lado, sem contato visual, você faz a mesma coisa: chama, assobia e, se tiver a uma distância de no mínimo cinco metros, bata palmas e pode até mesmo elevar o tom de voz.
Caso ele não tenha nenhuma reação novamente, a probabilidade é ainda maior, já que ao dormir, ainda mais se for filhote, pode ser apenas que ele tenha o sono pesado.
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