Fundação Padre Anchieta

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Foto: Malu Marinho
Foto: Malu Marinho

Maria do Livramento Souza, de 47 anos, é dona de um brechó localizado na região de Perdizes, zona oeste de São Paulo. Com dois filhos, a lojista conta que encontrou nas vendas uma forma de se enxergar como mulher e fugir da violência que sofria do ex-marido. "Todo brasileiro é guerreiro, a gente tem que se virar para sobreviver", diz.

Com as mãos fracas por conta das agressões, Maria relata que trabalhava como manicure, mas não conseguiu voltar à profissão. "Achava que eu ia voltar logo mas não foi bem assim (...) Hoje em dia elas [as mãos] têm movimento. Mas não é mas como era antes, eu não tenho a mesma agilidade", relata.

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Nascida em um lar carente na região Nordeste do país, Maria revela em entrevista concedida ao site da TV Cultura que encontrou no brechó uma alternativa de sobrevivência. Com o exemplo das polêmicas recentes envolvendo a ausência do consumo consciente no estilo de vida de algumas blogueiras, como Jade Picon, a vendedora relata que a moda, para ela, também é saber reutilizar os tecidos. "Minha mãe comprava duas roupas por ano. Às vezes era só um sapato. Então, eu dou muito valor a isso", lembra.

Há tempos a indústria da moda tem sido criticada por seu alto impacto ambiental, tanto pelo descarte da conhecida "fast fashion" — que se acumula em toneladas nos aterros — como pelas denúncias de trabalho escravo e pela alta proliferação do GEE (índice que mede a quantidade total das emissões de Gases do Efeito Estufa). Estima-se que esse impacto seja maior do que o de dois setores bastante poluidores: transporte marítimo e aéreo.

Foi assim que o universo dos brechós se expandiu nos últimos anos e vem caindo no gosto das pessoas na hora de decidir comprar uma roupa, independente da classe social. Os interesses variam desde a procura por marcas famosas até a economia na aquisição dos produtos.

Depois de sua separação — por medidas de segurança — Maria revela que se mudou de bairro e não conseguiu se readaptar ao mercado. Ela conta que as clientes de quando era manicure se juntaram e fizeram algumas doações, dando a ideia do brechó.

"Pegando daqui e ali fui gostando, pegando gosto pelas roupas mesmo, porque além de tudo é a maneira das pessoas economizarem e o planeta agradece (...) A gente, hoje em dia, acha que é lixo e não é lixo, é tecido, foi um gasto de produção, água, pessoas".

Apesar de estatísticas sugerirem que os consumidores da Geração Z se preocupam mais com a sustentabilidade, o mercado de fast fashion vem crescendo. No ano passado, a indústria da moda renovou o compromisso com ações para combater a mudança climática. O anúncio foi feito na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26) que visa ações para conter o aquecimento global.

A mudança no mercado é uma queixa de Maria, que diz ainda receber muito preconceito por parte de algumas pessoas que acreditam que os brechós são "sujos", ou dizer que "roupa usada não presta". Foi lutando contra isso que, na pandemia, a lojista começou a vender pela internet, e acrescentar móveis ao seu catálogo. "E assim fui levando", diz Maria e acrescenta " quando uma mulher decide 'eu não quero mais viver essa vida que não tá boa, eu quero fazer diferente' ela não é compreendida ou acham que é maluca, mas eu fui ajudada e estou ajudando como posso, isso que importa".

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