Desde o começo de 2023, o Brasil tem visto de perto a situação precária dos povos Yanomami. As notificações de risco pela desnutrição e contaminação pelo garimpo vêm sendo mencionadas por lideranças desde 2015. Hoje, após quatro anos de paralisação, o Brasil retoma a política de demarcação indígena, com pressão da comunidade nativa. O site da TV Cultura conversou com as lideranças Kerexu Krukutu, Waiã Pataxó e Thyara Pataxó sobre o mês que exalta a cultura dos povos nativos. Elas deram destaque a tragédia acompanhada em janeiro e a comentaram sobre a principal pauta da comunidade que é a demarcação do território.
O recém-criado Ministério dos Povos Indígenas, sob o comando de Sonia Guajajara (PSOL), pretende encaminhar para conclusão, nos primeiros meses de governo, processos demarcatórios de 13 terras indígenas nas regiões Norte, Nordeste, Centro Oeste e Sul. São territórios marcados por conflitos pela posse da terra e que já cumpriram todas as etapas da regularização, livres de entraves judiciais. Aguardavam apenas a homologação por parte do Executivo, até então refém da política anti-indígena do governo de Jair Bolsonaro (PL). "Enquanto não tivermos os territórios demarcados, essas invasões não vão parar. O que queremos é que coisas como essas deixem de acontecer, que tenhamos nosso direito de permanência", diz a guarani Kerexu.
A antropóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Rita de Cássia Oliveira, explica que os nativos estão presentes há cerca de mil anos no território que ocupam até hoje — em uma área de floresta tropical localizada entre o Brasil e a Venezuela. A professora diz ainda, que os Yanomami são um dos maiores povos indígenas da Amazônia. Além de conservarem as tradições, vivem espalhados por cerca de 230 mil km² com 640 aldeias. "Esses nativos têm uma longa história anterior à crise recente causada pela invasão do garimpo. Essa trajetória é marcada por costumes e mitos próprios e pelo desenvolvimento de uma relação íntima e sagrada com a floresta". diz Oliveira.
Na prática, a homologação garante aos povos originários direitos plenos sobre essa terra que ocupam. Além do território, também é garantida a posse permanente e o uso exclusivo dos recursos naturais. Também viabilizam o acesso a políticas públicas e têm o potencial de pacificar disputas violentas entre indígenas e não indígenas. "O que as pessoas talvez não entendam é que ainda somos nós [povos nativos] os protetores da floresta, guardiões. E sem natureza, não tem vida. Tudo na terra Yanomami, e o que a gente luta para não acontecer na nossa, é destruição feita por dinheiro e ganância", afirma Waiã Pataxó.
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Mais de 14 territórios para demarcar
Em entrevista para o Roda Viva, no mês das mulheres, a ministra Sonia Guajajara promete demarcar ao mínimo 14 terras indígenas — que já estão no processo de luta territorial. Questionadas, as líderes dizem que essa missão não será fácil, já que muito se envolve com produtores rurais, fazendeiros e principalmente o garimpo, "é uma peste, parece que o governo tira um grupo e entra mais 10 deles", afirma Thyara Pataxó, liderança da aldeia localizada sul da Bahia.
Apesar da luta incansável, tanto Waiã como Thyara e Kerexu, se mantém otimistas com o novo plano de governo, e as três reafirmam a importância desse reconhecimento nativo e ancestral. "Por meu avô ser o cacique da aldeia, desde criança lido com esses assuntos, e só consigo pensar no tanto que quero ver meus irmãos pequenos em terras nossas, demarcadas, aldeias demarcadas. O sangue que escorreu do nosso povo não pode ter sido por nada, porque continuares lutando por aquilo que é nosso direito", finaliza Waiã.
Relembre Roda Viva com a ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara:
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