A Polícia Federal (PF) encontrou um documento com instruções para um golpe de Estado no celular do tenente-coronel Mauro Cid, que atuou como ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Inicialmente, as informações contidas em um relatório foram divulgadas na última quinta-feira (15) pela revista Veja. Nesta sexta-feira (16), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu tornar públicas os conteúdos.
O documento com nome de "Forças Armadas como poder moderador" funcionava como uma espécie de roteiro para o Golpe de Estado. A partir da autorização do presidente, as orientações visavam a desestruturação das instituições democráticas, como a nomeação de um interventor, a abertura de inquéritos e substituição de ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a criação de um prazo para a implementação de novas eleições.
"Afinal, diante de todo o exposto e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o Estado de Sítio e, como ato contínuo, decreto Operação de Garantia da Lei e da Ordem", diz trecho do texto achado no celular, sem que a identificação do autor fosse revelada.
De acordo com o parecer da polícia, o texto teria sido criado no dia 25 de outubro de 2022, dias antes do segundo turno das eleições presenciais e meses antes da invasão ao Congresso Nacional por manifestantes antidemocráticos. Vale destacar que, até o momento, não há provas de que a minuta tenha sido acessada ou encaminhada a Bolsonaro.
Em operação que investiga a suspeita de fraude em cartão de vacina do ex-presidente da República, Cid acabou sendo preso no dia 3 de maio deste ano.
Diálogos golpistas com coronel
A PF ainda detectou conversas entre Cid e o coronel Jean Lawand Junior, que incentivou a implementação de um golpe logo após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No dia 1º de dezembro de 2022, Lawand, que era o gerente de ordens do Alto Comando do Exército (ACE), teria enviado um áudio ao tenente-coronel: "Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara".
Em outra mensagem, no dia 10 de dezembro, o coronel teria escreveu: "Cid pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, de Divisão para baixo está". Em resposta, Cid afirmou: "Muita coisa acontecendo. Passo a passo".
O relatório ainda apresenta a última conversa que teria acontecido quatro dias antes do Natal, em 21 de dezembro.
"Soube agora que não vai sair nada. Decepção irmão. Entregamos o país aos bandidos", disse Jean Lawand.
Na sequência, o tenente-coronel, ex- ajudante de ordens de Bolsonaro, escreveu: "Infelizmente".
À Veja, ambos teriam dito que não se lembravam da conversa de caráter antidemocrática.
Em outro documento encontrado no aparelho celular, um questionário revela que o jurista Ives Gandra Martins apontava uma ação já refutada por inúmeros juristas. Segundo ele, as Forças Armadas poderiam atuar com poder moderador em caso de inimigos externos ou crise entre poderes.
Exército impede ida do coronel aos EUA
Jean Lawand Junior iria assumir o posto de adjunto do adido militar em Washington (EUA). Entretanto, após as informações do plano de golpe virem a público, a instituição suspendeu a nomeação diplomática.
Segundo o Comando do Exército, o militar deve ficar no Brasil para responder aos inquéritos que estão sendo conduzidos pela polícia, tanto dos atos golpistas de 8 de janeiro, quanto dos documentos encontrados em seu celular.
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