“Existe dificuldade do brasileiro em reconhecer o racismo para além das ofensas verbais", diz Marcio Black
Coordenador de projetos do Instituto Peregum comenta estudo Ipec sobre racismo no Brasil e critica falta de políticas públicas para lutar contra o preconceito
27/07/2023 18h29
Pesquisa realizada pelo IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) mostrou que 81% dos brasileiros acham o Brasil um país racista. Além disso, 51% dos entrevistados revelaram que já presenciaram um ato de preconceito racial.
Apesar dos números altos, a maioria dos brasileiros não tem uma percepção de ser racista. O levantamento mostrou que apenas 5% das pessoas admitem que já tiveram alguma atitute racista. Além disso, 4% dizem fazer parte de uma família que já cometeu atos preconceituosos.
“[Existe] essa dificuldade do brasileiro em reconhecer o racismo para além das relações interpessoais, para além dos xingamentos e ofensas verbais. Ele não consegue localizar, por exemplo, o racismo na falta de oportunidades, no tratamento diferenciado que as pessoas recebem das polícias”, explica Márcio Black, coordenador de projetos do Instituto Peregum.
Entre as pessoas que afirmaram já ter sofrido violência racial, 38% citaram as instituições de ensino como espaços de violação.
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“Boa parte da sociedade ainda não entende que o direito a educação é algo que extrapola o direito de alguns grupos sociais e ainda oferecem resistência à presença negra nesses espaços”, diz a historiadora Taina Silva Santos.
Quase metade dos pesquisadores acham que o Brasil não tem políticas públicas efetivas para garantir a inclusão e combater a violência racial. Iniciativas tomadas nos últimos 20 anos, como a Lei de Cotas, ajudaram, mas ainda não é o suficiente.
“Existem perspectivas de futuro que são positivas para jovens negros, ou crianças negras. Isso não quer dizer que elas são ideais. Esses dados mostram, e a partir deles, nós precisamos trabalhar para que seja feita uma radicalização da nossa democracia, pra que a gente possa aprofundar nossa democracia e assim garantir uma participação digna para a população negra”, completa a historiadora.
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