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Vala comum com restos mortais de indígenas do período da ditadura é descoberta no Mato Grosso

Pesquisadores e lideranças indígenas reivindicam áreas ainda não demarcadas


11/08/2023 21h34

Uma vala comum com possíveis restos mortais do povo indígena xavante foi encontrada na Terra Indígena São Marcos, no município de Barra do Garças, no Mato Grosso. Embora existissem relatos a respeito da existência da vala, a sua materialidade só foi confirmada nesta semana. Segundo pesquisadores, foram enterrados indígenas vítimas de violações de direitos humanos no período da Ditadura Militar.

Após a descoberta, pesquisadores e 14 caciques xavantes reivindicam a identificação, registro e preservação dos sítios arqueológicos indígenas em áreas não demarcadas. A reivindicação foi enviada ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ao Ministério Público Federal (MPF) e à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

A pesquisa foi iniciada em 2019, com coordenação da arqueóloga e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Cláudia Plens. Os estudos também envolvem cientistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Polish Academy of Science, na Polônia, e da Universidade de Winnipeg, no Canadá.

Em junho deste ano foram identificados vestígios de antigas comunidades em territórios que, atualmente, estão em propriedades privadas. Entre as aldeias mais antigas está a “Bö’u”, que por estar em terreno particular se encontra em elevada situação de ameaça.

“Eles [sítios arqueológicos em propriedade privada] podem desaparecer. O fazendeiro pode passar a máquina, e toda a cultura material que poderia contar a história dos xavante pode ser destruída. É o patrimônio cultural dessa sociedade que pode desaparecer”, destacou a arqueóloga.

Entenda o caso

Em 1966, no período da Ditadura no Brasil (1964-1985), a população xavante de Marãiwatsédé foi vítima de remoção compulsória de seu território tradicional para a região de São Marcos, a cerca de 500 quilômetros de distância. O deslocamento foi feito em aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), em meio a uma epidemia de sarampo.

Na ocasião, dezenas de indígenas foram acometidos pela doença e enterrados na vala comum.

"Os relatos dos anciões mostram que, inicialmente, começava a morrer algumas pessoas que foram enterradas de forma individual e conforme os rituais. Depois, como morriam mais de 10 pessoas por dia, eles eram carregados em carrocerias puxadas por um trator para serem colocadas na vala comum", afirmou o professor de antropologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Paulo Delgado, em entrevista ao g1.

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Segundo Delgado, com esses estudos os Xavantes podem ainda solicitar uma reparação devido à violência histórica a que eles foram submetidos. 

"Sabemos que a ditadura vitimou dezenas de políticos, jornalistas e há uma grande quantidade de pessoas desaparecidas, e com os povos indígenas não foi diferente. Morreram mais indígenas do que não-indígenas", enfatizou o professor, que também assina o texto enviado às autoridades. 

Um dos trechos do documento detalha ainda mais o conflito: “Os sobreviventes, conforme relataram os interlocutores a essa pesquisa, naquela época, desejaram veementemente retornar a seus antigos locais de moradia em virtude não só da crise humanitária gerada pelo sarampo, mas, também, pela convivência forçada com um grupo xavante que lhes era hostil”.

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