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Reprodução / Instagram @sindicatoferroviariossp
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Na próxima terça-feira (3), a partir da meia-noite, o Metrô de São Paulo será paralisado. Os trabalhadores da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Companhia de Saneamento Básico (Sabesp) também aderiram ao movimento. Além de reivindicar por melhores condições de trabalho, a greve em questão tem o intuito de protestar contra os planos de privatização do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O Sindicato dos Metroviários(as) de São Paulo anunciou que quatro linhas do Metrô serão paralisadas, a 1-Azul, a 2-Verde, a 3-Vermelha e a 15-Prata. Os representantes dos ferroviários também divulgaram a suspensão das linhas 7, 10, 11, 12 e 13 da CPTM.

Entretanto, durante esta quinta (28) e sexta (29), liminares concedidas pela Justiça do Trabalho impuseram limites ao movimento. Tanto o Metrô quanto a CPTM deverão operar com 100% do efetivo nos horários de pico. Em caso de descumprimento, as multas chegam a R$ 500 mil. No caso do serviço da CPTM, a liberação de catracas, como forma de manifestação, também foi negada.

Em relação à Sabesp, a determinação foi a de manter 85% do efetivo de trabalhadores vinculados aos setores responsáveis pela prestação dos serviços essenciais de saneamento básico.

A princípio, a greve tem previsão de durar 24 horas, mas esse prazo pode ser estendido. No caso dos metroviários, haverá, na terça-feira (3), uma assembleia às 18h para discutir a avaliação do movimento.

Qual a motivação da greve?

Foto: Sindicato dos Metroviários(as) de SP

Para responder a essa questão, o portal da TV Cultura entrou em contato com Camila Lisboa, presidente do Sindicato dos Metroviários e Metroviárias de São Paulo.

“Nós achamos um absurdo privatizar a água e transporte público. São serviços essenciais para a população e que não podem ser mercadorias para enriquecer bilionários e aumentar a conta para a população”, afirmou a presidente.

A representante do sindicato, que também é socióloga formada pela Unicamp, realizou ainda comparações com serviços geridos pela iniciativa privada.

“Se você olhar a Linha 8 e 9, elas têm cinco vezes mais problemas do que os serviços públicos de metrô e de trens. No Rio de Janeiro, onde teve metrô, trem e água privatizados, a tarifa aumentou e o serviço piorou. Tem que ser público porque transporte é um direito social”, enfatizou.

Críticas à qualidade do serviço prestado

Foto: Reprodução/Secretaria dos Transportes Metropolitanos-SP

De acordo com um levantamento realizado pela TV Globo divulgado neste mês, as linhas de trens operadas pelas concessionárias na cidade foram as que mais apresentaram falhas. Dos 107 problemas detectados em 2023, 73 deles ocorreram nas linhas administradas pela Via Mobilidade, número que representa quase 70% dos casos.

Entre as principais preocupações das organizações contrárias à privatização está o receio de uma piora das condições de trabalho e do serviço oferecido, além da apreensão em relação a um possível aumento no valor das passagens e, no caso da Sabesp, das tarifas de água.

“Esse modelo de concessões está deixando o Grupo CCR bilionário enquanto deixa o pessoal atrasado na chamada ‘Via Calamidade’, como os usuários apelidaram as linhas 8 e 9”, afirmou a presidente do Sindicato dos Metroviários.

O Grupo CCR mencionado é uma empresa brasileira responsável por realizar a operação, a manutenção e os investimentos de todas as linhas concedidas à iniciativa privada da capital paulista, que incluem a Via Mobilidade e a Via Quatro.

Falhasatrasos são frequentemente relatados por passageiros que dependem do transporte. No 1º dia do The Town, festival de música que recebeu 100 mil pessoas durante a data, ocorreu uma pane elétrica na Linha 9. O episódio mais recente foi na noite de ontem (28), quando uma falha de tração em um trem também gerou atrasos na Linha 9. Na última terça-feira (26), um outro problema na Linha 8 obrigou passageiros a caminharem pelos trilhos.

Nas redes sociais, registros dos dois últimos casos citados foram publicados nas redes sociais. Veja:



Após série de falhas, a ViaMobilidade passou a ser investigada pelo Ministério Público estadual, que em março deste ano chegou a pedir o fim do contrato com a concessionária. Entretanto, em agosto, por intermédio da Promotoria do Patrimônio Público e da Promotoria do Consumidor, o MPSP formalizou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Com a medida, a companhia se comprometeu a implementar melhorias no transporte e pagar uma indenização por danos materiais e morais coletivos no valor de R$ 150 milhões.

Procurada pelo portal da TV Cultura, a Via Mobilidade disse que vem investindo em melhorias nas linhas 8 e 9 desde o início da concessão, em janeiro de 2022. Segundo a concessionária, 36 novos trens estão previstos para serem adquiridos durante a gestão, com dois deles já em operação.

“O plano de investimentos prevê R$ 3,8 bilhões somente nos três primeiros anos, dos quais mais de R$ 2,5 bilhões já foram aportados. Investimentos adicionais, além do previsto em contrato válido por 30 anos, foram necessários devido ao nível de degradação das vias e sistemas de sinalização, energia, assim como dos trens recebidos na transição da operação”, apontou a empresa de mobilidade urbana à reportagem. 

As linhas operadas pela iniciativa privada (8-Diamante, 9-Esmeralda, 5-Lilás e 4-Amarela) terão funcionamento normal na próxima terça-feira.

Vai faltar água durante a paralisação?

Foto: Reprodução/Agência Senado

Com o slogan “Água privatizada não dá para engolir”, o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente (Sintaema) publicou um edital reforçando o apoio à greve. No entanto, o órgão, que atende cerca de 30 milhões de pessoas em 375 municípios, enfatizou que haverá turmas de emergência para que não haja colapso do sistema de fornecimento de água da Sabesp.

Segundo levantamento do Sintaema, a tarifa social de cidades privatizadas é mais cara. Em Manaus, os usuários pagam 250% a mais do que em São Paulo, enquanto no Rio de Janeiro a tarifa é 20% superior.

“O governador Tarcísio vai enfrentar a unidade dos trabalhadores do saneamento, ferroviários e metroviários. Ele resolveu ignorar os trabalhadores e a população e acelerar a privatização. Não vamos descansar até que esse projeto seja enterrado”, afirmou em comunicado o presidente do Sintaema, José Faggian.

A que pé andam as privatizações?

O governador de São Paulo já encomendou estudos para privatizar todas as linhas da CPTM. O objetivo é o mesmo para as linhas do Metrô, em que uma eventual concessão é estimada para acontecer até 2025.

“Vamos estudar isso com muito cuidado e muita responsabilidade, a ideia é que esse estudo [da privatização do Metrô] aconteça ao longo do ano que vem e, em termos de leilão, isso ocorra em 2025”, afirmou Tarcísio em evento realizado em agosto. 

A gestão de Tarcísio também pretende, em outubro, levar à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) o projeto de lei (PL) que visa privatizar a Sabesp, considerada a maior estatal paulista. O governador já defendeu que, com a privatização, o valor da conta da água seria reduzido. Porém, para que isso fosse feito, seria necessário um subsídio da tarifa utilizando parte da verba arrecadada com a venda da estatal, como apontou o IFC (Internacional Finance Corporation), contratado pelo governo estadual para analisar a implementação.

O portal da TV Cultura procurou o Governo do Estado de São Paulo para um posicionamento, mas até o momento não obteve retorno.

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Plebiscito contra a privatização

No dia 5 de setembro ocorreu o lançamento de um Plebiscito independente contra as concessões, privatizações e terceirizações do Metrô, da CPTM e da Sabesp. Desde então, as organizações que representam os trabalhadores estiveram em estações, escolas e fábricas coletando votos, em cédulas físicas, em prol da causa. A votação, que foi prorrogada até o dia 5 de novembro, tem o intuito de dar voz à população sobre o tema. A partir da consulta, as pessoas têm a possibilidade de dizer se são ou não favoráveis à desestatização.

Na segunda-feira (2), um dia antes da greve, deverá ser realizado o que os sindicalistas estão chamando de “Dia D”, com passeatas e campanhas com o propósito de dar visibilidade à causa e intensificar a votação do Plebiscito.

Padre Júlio Lancellotti participa do Plebiscito - Foto: Sindicato dos Metroviários(as) de SP

A última paralisação do Metrô ocorreu em março deste ano. Na ocasião, em que o rodízio municipal de veículos chegou a ser suspenso, trabalhadores reivindicavam o pagamento do abono, a revogação de demissões por aposentadoria e pediam por novas contratações.

“O movimento sindical e social de São Paulo, junto com a população que precisa dos serviços públicos, não vai aceitar que isso ocorra sem haver resistência. São Paulo pode assistir a uma mobilização como nunca antes ocorrida na história”, alerta trecho do manifesto publicado em setembro na página do Sindicato dos Metroviários.

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