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Novembrinho Azul: Entenda campanha que promove a conscientização da saúde infantil

Sancionada em outubro, lei incluiu a vacina contra o HPV no calendário de vacinação para todas as crianças


29/11/2023 16h17

Em outubro deste ano, o governo federal sancionou a Lei 14.694, que institui a campanha Novembrinho Azul. A medida tem como objetivo promover ações de conscientização contra o HPV para meninos de até 15 anos.

Entre as ações que a nova lei prevê, está a discussão com especialistas sobre medidas de prevenção; distribuição de material informativo sobre a doença; e capacitação de profissionais no Sistema Único de Saúde, o SUS.

Junto com a sanção da lei, o governo também incluiu a vacina contra o HPV foi incluída no calendário de vacinação para todas as crianças e adolescentes entre 9 e 14 anos. Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil tem de 9 a 10 milhões de infectados pelo HPV, conhecido como Papiloma Vírus Humano. A cada ano, 700 mil novos casos da infecção podem surgir.

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Além disso, a campanha do novembrinho azul também deve chamar atenção para quadros de dor testicular e de aumento do volume escrotal, além da importância da vacina e do tratamento precoce, que protege os menores antes mesmo do início da vida sexual.

A principal forma de prevenir doenças é com um acompanhamento médico regular, que tem como objetivo analisar e verificar a saúde do paciente, e também começar um tratamento rápido em casos de quadros mais graves. A prevenção não deve começar somente na vida adulta, a ida a consultas médicas anuais precisa iniciar na infância, tanto na vida de meninas como na de meninos.

No entanto, segundo levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) com dados do Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde mostra que, em 2021, foram registrados 10.673 atendimentos de adolescentes com a faixa etária entre 12 e 18 anos por urologista. Esse índice é cerca de 18 vezes menor que o de meninas com a mesma idade.

De acordo com a Cirurgiã Urologista Pediátrica e Coordenadora do Departamento de Cirurgia Pediátrica do Sabará Hospital Infantil, Dra. Fernanda Ghilardi Leão, esse fato acontece por diversas razões, mas a principal é que as meninas iniciam o acompanhamento médico por conta da primeira menstruação.

“Os meninos passam por toda transição e toda mudança corporal, mas não têm um um ponto de mudança como as meninas têm a menarca, que é a primeira menstruação. Então, acho que isso faz com que elas tenham um acompanhamento mais próximo do que os meninos”, explica a especialista.

Segundo a médica, a lei que estabelece o novembrinho azul é importante para a conscientização dos pais e da população sobre a saúde masculina infantil. De acordo com Fernanda Ghilardi, como os meninos não possuem esse momento de transformação da infância para a adolescência, não há um acompanhamento durante a transição, além disso, ela ressalta que a vergonha e o afastamento dos pais durante esse período também são responsáveis pela porcentagem baixa no atendimento.

“As campanhas sempre são bem-vindas para conscientização da população, muitas vezes a população não consegue visualizar alguns detalhes importantes. No caso do novo novembrino azul, é preciso ter uma visão diferenciada para o seu filho dependendo da faixa etária, de como ele está passando e os cuidados que tem que ter nessa nessa fase da adolescência. Foi super importante o governo colocar isso para chamar a atenção da população, porque a gente sabe que as meninas quando entram na adolescência as mães levam a para acompanhamento com ginecologista e os meninos a gente sabe que tem uma porcentagem muito menor”, afirma.

“Os meninos acabam passando essa fase sem ter um acompanhamento mais próximo. Tem a própria característica do adolescente, ele passa por uma fase de transição, muitas vezes, ele fica mais envergonhado, mais introspectivo e acaba não falando para os pais alguma alteração que ele está tendo. mesmo assim, os pais não tem mais o acesso a visualizar se tem alguma coisa diferente em relação ao desenvolvimento puberal, então fica uma fase que fica um pouco perdida. Com a campanha a gente consegue detectar algumas alterações da infância que podem repercutir na adulta”, acrescentou.

Não é segredo que os homens adultos procuram menos médicos do que mulheres na mesma faixa etária. Seis em cada 10 homens no Brasil só procuram um médico quando os sintomas estão insuportáveis, segundo o levantamento do Instituto Lado a Lado Pela Vida divulgado em outubro de 2022.

A pesquisa ouviu 1.800 homens de 18 a 65 anos no Brasil, no México, na Colômbia e na Argentina. No Brasil, 62% dos respondentes afirmaram terem esse hábito.

A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que homens sem fatores de risco ou sintomas procurem um médico a partir dos 50 anos para fazer uma avaliação. No caso de pessoas com fatores de risco, como ser da raça negra ou ter parente de primeiro grau com câncer de próstata, a avaliação médica deve ser feita a partir dos 45 anos.

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Em 2020, por exemplo, o câncer de próstata foi diagnosticado em mais 65 mil homens e quase 16 mil pessoas perderam a vida para essa doença em 2019, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer

Na visão da cirurgiã urologista, o acompanhamento desde a infância pode ajudar na desmistificação de que a procura só deve acontecer em casos já graves.

“Eu acho que já para conscientizar desde pequenos esse acompanhamento e durante a fase puberal. Eles continuam tendo esse hábito e sabem que na vida adulta é importante esse acompanhamento, então isso já cria um hábito, desde pequeno faz parte, do acompanhamento e ver a parte do desenvolvimento genital e a parte hormonal, isso tem que ter um acompanhamento também, não só de crescimento e de peso, mas de todo o desenvolvimento que acontece nessa fase da adolescência”, aponta.

Doenças mais comuns

De acordo com a especialista, três doenças urológicas podem ser destacadas como as mais comuns. São elas: fimose, testículos fora da bolsa e varicocele.

Fimose

Segundo algumas estimativas, cerca de 97% dos meninos nascem com fimose. A fimose ocorre quando ao se puxar a pele do prepúcio não é possível expor a cabeça do pênis, sendo dividido em duas formas: a fisiológica e a patológica que pode desencadear a dificuldade de higienização, gerando infecções locais e infecções urinárias.

Testículos fora da bolsa

A criptorquidia ou testículos fora da bolsa (ou não descidos) pode surgir em 45% dos meninos nascidos prematuramente e acontece quando os testículos - que normalmente são formados no interior do abdômen, descem até o escroto durante o crescimento intrauterino e não chegam ao local correto.

“A cirurgia para reposicionamento dos testículos é indicada para as crianças entre seis e 12 meses de idade. Esse procedimento cirúrgico reduz, entre outras coisas, futuras complicações como hérnias e torções testiculares e câncer de testículos”, explica a especialista.

Varicocele

A varicocele é considerada uma das principais causas de infertilidade masculina e tem uma incidência de 15% dos homens, surgindo na maioria das vezes, entre 12 e 13 anos.

A varicocele é uma dilatação das veias que drenam o sangue testicular devido à incompetência das válvulas venosas, associada ao refluxo venoso.

Todas essas três doenças podem ser identificadas por meio de alteração de tamanho na região, inchaço, dores, incômodo e vermelhidão na região do pênis ou do testículo. A especialista afirma que os responsáveis devem sempre estar atentos e que a conversa é ideal para diagnóstico rápido e eficaz.

“A gente sempre recomenda o contato dos pais de meninos é sempre ter uma conversa aberta com os filhos. Sempre ter um diálogo com os filhos mostrando as mudanças que acontecem no corpo que é natural, que os cuidados que tem ter nessa fase o cuidado com o próprio corpo. Tudo isso faz parte da saúde masculina, que é o que a gente chama na campanha de conscientização para a saúde masculina das crianças que se repete na vida adulta”, ressalta.

Prevenção

A especialista pontua que a principal prevenção para essas doenças é a consulta médica anual. “Eu sempre recomendo quando os pacientes passam comigo nessa fase para acompanhar o desenvolvimento, é que passe uma vez por ano para ver se está tudo bem. Se não aparecer nenhuma alteração, também oriento os próprios meninos e os pais que precisam retornar antes disso em caso de alteração ou dos sinais de alerta”, completa.

Campanha

Para a campanha do novembrinho azul ser mais divulgada, a especialista afirma que um dos caminhos pode ser a intensificação nos ambientes escolares.

“Seria bem interessante para gente poder trazer isso para as escolas, é uma forma de trazer informação também para os garotos que estão nessa fase da vida. Nas escolas já tem a parte educacional, que tem orientação da mudança corpórea e tudo que acontece relacionado a parte da saúde futura dos meninos, eu acho que seria bem importante poder levar para as escolas essa campanha também”, finaliza.

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