Notícias

Aids: em pleno 2024, mitos e estigmas ainda atrapalham a adesão ao tratamento antirretroviral

Em entrevista, representante da UNAIDS fala sobre a importância do acolhimento adequado ao paciente recém diagnosticado


15/03/2024 11h00

Em 2022, quase 1 milhão de pessoas viviam com HIV no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.

De acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV/aids do ano passado, desde o primeiro caso de aids informado em território nacional, em 1980, foram detectados 1.088.536 casos até junho de 2022.

No entanto, apesar dos dados e das informações estarem disponíveis para toda a população, informações falsas e o preconceito ainda rondam o assunto, seja em bate-papos entre amigos, colegas de trabalho ou familiares.

Um exemplo é o fato de que muitos ainda acreditam que HIV e aids são a mesma coisa, mas na verdade, não são. Em entrevista ao site da TV Cultura, Ariadne Ribeiro Ferreira, oficial de Igualdade e Direitos da UNAIDS Brasil, esclarece que o HIV é o vírus responsável pela síndrome da imunodeficiência, a aids, que é adquirida quando ele, sem nenhuma intervenção biomédica, se replica dentro do organismo do ser humano.

“Quando o HIV infecta uma pessoa, ele infecta o sistema imunológico dessa pessoa, e ao infectar o sistema imunológico, essa pessoa vai ter um tempo para desenvolver a aids. Então, enquanto ela está sem medicação e sem acompanhamento médico, ela pode desenvolver a aids”, explica.

Leia também: Governo Federal libera R$ 1 bilhão para ações na terra indígena Yanomami

No entanto, ao aderir a medicação, que está disponível de forma gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS), a pessoa pode apresentar a partir de alguns meses de uso uma carga viral indetectável, que é quando a medicação consegue proteger as células de defesa e impedir que novas sejam infectadas. Em 2022, 95% daqueles que estavam em tratamento antirretroviral apresentavam a carga indetectável.

O acolhimento adequado

No entanto, adotar a medicação ainda é um desafio para muitos, não propriamente por efeitos colaterais ou por questões relacionadas ao próprio medicamento, mas devido ao estigma que ainda é associado ao uso.

“É muito mais comum que as pessoas tenham receio porque no bairro dela todo mundo a conhece e se ela for no centro de saúde todos vão saber. É muito mais sobre ela morar com a família e não querer contar que vive com HIV e tem medo de levar os potinhos para casa. Então é muito mais uma questão de aceitação do diagnóstico e empoderamento da cultura vigente”, diz Ariadne.

Além disso, ao receber o diagnóstico, é necessário ainda lidar com questionamentos desnecessários, como por exemplo, se ele vai morrer ou se já descobriu quem lhe transmitiu o vírus.

Outros pontos importantes a se destacar é que quem tem HIV pode ter relações sexuais, e se desejar, filhos, sem sequer colocá-los em risco. Beijar, abraçar e dividir itens pessoais também não é um problema para quem vive com aids e HIV.

De acordo com Ariadne, é necessário que a população entenda que não reproduzir mitos que o vírus carregou ao longo de muitos anos, pode colaborar para que o paciente que acabou de receber o diagnóstico se sinta acolhido e empoderado para falar sobre o assunto com outras pessoas e levar a medicação para casa.

“As pessoas precisam oferecer um acolhimento adequado. Que na revelação do diagnóstico os pacientes sejam capazes de se sentirem acolhidos ao ponto de tirar todas as suas dúvidas, de se sentirem empoderados, de conseguirem levar a medicação para casa, de conseguirem conversar de forma igualitária com aqueles com quem convivem”.

O acompanhamento psicológico também pode colaborar para que ele lide com esta nova fase, assim como ter uma rede de apoio ao lado. “Ótimo se a pessoa tiver um psicólogo, essa é a melhor escolha, mas às vezes ela precisa também de pessoas que vão estar disponíveis quando precisar, pode ser um vizinho ou um parente, mesmo que ele tenha um parente difícil, também vai ter o mais agradável. Mas é importante que a saúde mental dessa pessoa seja priorizada”, ressalta.

Leia também: Dengue: 87% dos paulistanos gostariam de ser vacinados contra a doença, diz pesquisa

O que falar e o que não falar?

Pontos positivos para falar em uma conversa:

  • falar sobre o quanto o tratamento atual e que está disponível no SUS não apresenta efeito colateral, e que existe a possibilidade de iniciar a medicação assim que se recebe o diagnóstico;
  • aconselhá-lo a se informar sobre o assunto sempre por profissionais, sites oficiais e nunca por outros mecanismos;
  • entender que quanto mais se fala sobre a sexualidade, menos estigma sobre a aids vai existir.

Pontos negativos e que devem ser evitados:

  • ficar com dó;
  • tratar o diagnóstico como uma sentença de morte;
  • fazer comentários relacionados a pessoas que já viu morrer de aids para tentar se sentir mais familiarizado com o assunto;
  • provocar gatilhos do tipo: “você sabe quem foi que te passou?”.

ÚLTIMAS DO FUTEBOL

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

“Liberdade de expressão não é liberdade de agressão”, afirma Alexandre Moraes

Dólar fecha no maior nível em seis meses; Ibovespa registra queda

+Milionária: Veja dezenas e trevos sorteados nesta quarta-feira (10)

Câmara mantém prisão de deputado Chiquinho Brazão

Combate à solidão: idosos vão receber "pets robôs" no Reino Unido