Fundação Padre Anchieta

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As enchentes no Rio Grande do Sul afetaram inúmeras vidas, inclusive a de animais de grande, médio e pequeno porte.

Ao todo, mais de 12 mil foram resgatados, segundo o boletim divulgado pela Defesa Civil nesta terça-feira (28). No entanto, muitos não sobreviveram, e a contagem de corpos ainda não pode ser feita, uma vez que a água até agora não baixou em diversos locais.

Ao serem encontrados com vida, muitos pets apresentam hipotermia, glicemia baixa e outras doenças, mas os efeitos também se estendem ao emocional de cada um deles.

Em entrevista ao site da TV Cultura, Carla Sássi, médica-veterinária e fundadora do Grupo de Resposta a Animais em Desastres (G.R.A.D), que está desde 1º de maio no estado com sua equipe, afirma que assim como os humanos, eles também ficam abalados com tudo que estão vivendo.

“Eles tinham uma rotina de vida com suas famílias, e de repente, eles se encontram em um ambiente estranho, restritos de espaço e com pessoas diferentes. E por mais que todos os voluntários tentem dar a devida atenção, não é suficiente e comparável com o tipo de vida que eles tinham antes”, explica.

O grupo, que também atuou no rompimento da barragem de Fundão em Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019, nas queimadas do Pantanal, em 2020, e no repercutido caso dos búfalos em São Paulo, inicialmente enfrentou dificuldades ao tentar se deslocar de um local para outro no Rio Grande do Sul, visto que a maioria das rodovias estavam interditadas, além, é claro, da extensão dos estragos.

Mas, isso não impediu que os 19 integrantes promovessem salvamentos em várias áreas, como em Canoas, Eldorado e São Sebastião. Segundo Sássi, o número total de animais resgatados, assistidos e reintegrados às suas famílias por eles - desde cães, gatos, cavalos, aves e porcos - passou de 3 mil.

Os animais carregarão traumas?

Em meio a tanto sofrimento, imagens de cães com o semblante triste circularam nas redes sociais e causaram comoção nacional. Algumas chamaram mais atenção pelo fato de apresentarem ações incomuns, como cães subirem em cima de casinhas de madeira nos abrigos e continuarem a nadar no ar após o resgate, o que preocupou muitos internautas.

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Contudo, em bate-papo com o site da TV Cultura, o médico-veterinário Adroaldo José Zanella, professor de bem-estar animal no Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP) esclarece que apesar de preocupante, não há um indicativo de que essas atitudes permanecerão para sempre.

“Se você o tirou da água e o cérebro dele está completamente focado, isso pode ter acontecido. Pelo tempo que passou [nadando ou em cima do telhado] é provável que ele ainda carregue essa expectativa de que terá mais água e que ele precisará nadar ou subir em algo”, expõe.

Segundo o especialista, esse controle motor é operado pelo cerebelo, e se assemelha ao que os humanos passam quando realizam uma atividade por um certo período de tempo. “Se eu passo muito tempo dirigindo eu nem percebo, eu dirijo e converso, como por exemplo, o fato dele continuar nadando representa que ele entrou nesse modo”.

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Zanella ainda diz que apenas por uma foto ou vídeo é impossível prever as consequências desse cenário para a saúde emocional de cada um dos bichos, e salienta que cada caso deverá ser analisado individualmente com o passar do tempo.

“Devido a magnitude da tragédia, ela não permite que os voluntários forneçam os cuidados ideais aos animais resgatados, porque é uma tragédia humana também. Quando eles são recolhidos não existe tempo ou pessoas suficientes para aconchegá-los para tentar mitigar consequências negativas, então, a possibilidade de que eles desenvolvam o desamparo aprendido, que ocorre quando eles deixam de responder a estímulos externos, existe, mas não são fotos que vão antecipar isso”.

Para aqueles que desejam adotar um amigo de quatro patas que sobreviveu em meio às fortes chuvas, o especialista alerta que isso deve ser feito sem pré-conceitos.

“Assim como o humano, o animal também reescreve a vida todo dia. Se você o adota na expectativa de que ele está levando sequelas, você está imediatamente condenando o futuro dele. É claro que se você adotá-lo deve ficar atento se ele irá precisar de uma intervenção veterinária, mas não antecipe isso, lhe dê a chance de ter uma vida normal”, ressalta.

Vale lembrar que as doações continuam a ser necessárias, e que cidadãos de outros estados que desejam ajudar aos pets podem colaborar com o envio de roupas, cobertores e rações, além de apoiar instituições sérias que estão no estado com o envio de doações em dinheiro.

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